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sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Fatec 2011 – 2º Semestre – Prova de Língua Portuguesa

Fatec – Prova de Língua Portuguesa - 2º Semestre – 2011


Leia o texto, para responder às questões de números 50 A 54.

O parnasianismo, entre nós, foi especialmente uma reação de cultura. É mesmo isso que o torna simpático... As academias de arte, algumas delas, até ridículas superfetações em nosso meio, como a de Belas Artes da Missão Lebreton, mesmo criadas muito anteriormente, só nesse período começam a produzir verdadeiros frutos nativos, na pintura, na música. Se dava então um progresso cultural verdadeiramente fatal, escolas que tradicionalizavam seu tipo, maior difusão de leitura, maior difusão da imprensa. Essa difusão de cultura atingiu também a poesia. Excetuado um Gonçalves Dias, a nossa poesia romântica é fundamentalmente um lirismo inculto. Todo o nosso romantismo se caracteriza bem brasileiramente por essa poesia analfabeta, canto de passarinho, ou melhor, canto de cantador; em sensível oposição à poética culteranista anterior. Mesmo da escola mineira, que, se não se poderá dizer culteranista, era bastante cultivada, principalmente com Cláudio Manuel e Dirceu. É possível reconhecer que os nossos românticos liam muito os poetas e poetastros estrangeiros do tempo. Isso lhes deu apenas uma chuvarada de citações para epígrafe de seus poemas; por dentro, estes poemas perseveraram edenicamente analfabetos.
A necessidade nova de cultura, se em grande parte produziu apenas, em nossos parnasianos, maior leitura e consequente enriquecimento de temática em sua poesia, teve uma consequência que me parece fundamental. Levou poetas e prosadores em geral a um.... culteranismo novo, o bem falar conforme às regras das gramáticas lusas. Com isso foi abandonada aquela franca tendência pra escrever apenas pondo em estilo gráfico a linguagem falada, com que os românticos estavam caminhando vertiginosamente para a fixação estilística de uma língua nacional. Os parnasianos, e foi talvez o seu maior crime, deformaram a língua nascente, “em prol do estilo”. [...]
Essa foi a grande transformação. Uma necessidade de maior extensão de cultivo intelectual para o poeta, atingiu também a poesia. Da língua boa passou-se para a língua certa.

(ANDRADE, Mário de. Parnasianismo. In: ______ O empalhador de passarinhos. 3.ed. São Paulo: Martins; Brasília: INL, 1972, p. 11-2)

Superfetações: A palavra significa, literalmente, fecundação de um segundo óvulo, no curso de uma gestação. Mário de Andrade a emprega em sentido figurado.

Questão 50 - À vista do texto e das teses correntes sobre os estilos de época em nossa literatura, é correto afirmar que, nesse texto, Mário de Andrade

(A) recusa-se a ver aspectos culturais positivos na arte parnasiana, que considera culteranista, tal qual a escola mineira (o arcadismo), na qual ele reconhece simplicidade no tratamento da linguagem.
(B) reconhece, na simplicidade da linguagem romântica, a aproximação entre língua escrita e língua falada, o esforço para afirmação de uma língua nacional na poesia, tal qual ocorreu na linguagem modernista.
(C) manifesta sua aprovação ao projeto parnasiano de afirmar uma língua certa, em lugar de uma língua boa, visto que esta última servia apenas para expressar o atraso intelectual do país.
(D) contesta a importância que nossa cultura letrada dá a Gonçalves Dias, o qual ele entende ser uma exceção no quadro de uma poesia que já se afirmava como nacionalista.
(E) adere às teses estilísticas do parnasianismo, as quais caracteriza como culto à forma, em especial pela contribuição daquelas para afirmar uma autêntica língua brasileira.

Questão 51 - A construção, empregada por Mário de Andrade, que mais se desvia da norma culta do português escrito, para expressar tendência da língua coloquial falada, é:

(A) Se dava então um progresso cultural verdadeiramente fatal.
(B) É mesmo isso que o torna simpático...
(C) ...o bem falar conforme às regras das gramáticas lusas.
(D) Isso lhes deu apenas uma chuvarada de citações para epígrafe de seus poemas.
(E) Todo o nosso romantismo se caracteriza bem brasileiramente por essa poesia analfabeta.

Questão 52 - Assinale a alternativa em que a expressão entre parênteses substitui a que está destacada no trecho, sem prejuízo de sentido do original.

(A) A necessidade nova de cultura, se em grande parte produziu apenas, em nossos parnasianos, maior leitura e consequente enriquecimento de temática em sua poesia, teve uma consequência que me parece fundamental. (entretanto)
(B) O parnasianismo, entre nós, foi especialmente uma reação de cultura. É mesmo isso que o torna simpático... (eventualmente)
(C) Excetuado um Gonçalves Dias, a nossa poesia romântica é fundamentalmente um lirismo inculto. (Tampouco com). 
(D) A linguagem falada, com que os românticos estavam caminhando vertiginosamente para a fixação estilística de uma língua nacional. (cuja).
(E) As academias de arte, [...], mesmo criadas muito anteriormente, só nesse período começam a produzir verdadeiros frutos nativos, na pintura, na música. (apesar de).

Questão 53 - Assinale a alternativa contendo afirmação correta acerca do emprego de palavras no primeiro parágrafo do texto.

(A) Culteranista é um termo que faz referência à cultura como conjunto de conhecimentos intelectuais, isto é, como repertório dos poetas antigos.
(B) A palavra epígrafe se refere à grafia adotada nos textos românticos, os quais passaram a seguir o padrão do português lusitano.
(C) A palavra poetastro está no aumentativo, e seu sentido é pejorativo, para referir-se a poetas ruins lidos por nossos românticos.
(D) Perseverar  tem, no contexto, o senntido de afirmar com segurança, dar garantias.
(E) A palavra edenicamente é uma referência elogiosa à opção por trazer referências estrangeiras à poesia nacional.

Questão 54 - Observe as palavras então e isso, nos contextos em que se encontram. É correto afirmar que

(A) então é um conectivo com valor conclusivo, equivalente a portanto; isso reforça a ideia segundo a qual os românticos usaram suas leituras para fazer citações.
(B) então faz referência à ideia, anteriormente expressa, de que o parnasianismo produziu frutos nativos, na pintura e na música; isso antecipa a afirmação de que os poemas românticos permaneceram edenicamente analfabetos.
(C) então faz referência a um tempo futuro, que é aquele, posterior ao momento parnasiano, em que ocorreria o progresso cultural fatal; isso introduz uma ideia que é consequência da afirmação de que nossos românticos liam poetas estrangeiros.
(D) então se refere ao período parnasiano, sendo, pois, uma expressão que informa o sentido de tempo; isso retoma a afirmação anterior, de que os românticos liam muito os poetas e poetastros estrangeiros do tempo.
(E) então tem valor da conjunção logo, servindo para lligar duas afirmações pela noção de causalidade; isso é utilizado para fazer referência a algo que está distante do falante (como ocorre na frase isso aí).

GABARITO

50 - B   51 - A   52 - E   53 - C   54 - D 



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segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Texto: "O bracelete" - José de Alencar

    Segue o capítulo oitavo do livro “O Guarani”, de José de Alencar, grande clássico do Romantismo brasileiro. Peri arrisca a vida para recuperar uma bolsa de Ceci, em uma gruta repleta de cobras venenosas (“monstros de mil formas”). Algumas características marcantes do Romantismo se apresentam neste fragmento: o heroísmo do índio, suas virtudes, seu caráter irretocável, a idealização da figura feminina, a vassalagem amorosa, a natureza exuberante, a religiosidade, etc.

VIII – O BRACELETE

O que Cecília viu, debruçando-se à janela, gelou-a de espanto e horror.
De todos os lados surgiam répteis enormes que, fugindo pelos alcantis, lançavam-se na floresta; as víboras escapavam das fendas dos rochedos, e aranhas venenosas suspendiam-se aos ramos das árvores pelos fios da teia. 
No meio do concerto horrível que formava o sibilar das cobras e o estrídulo dos grilos, ouvia-se o canto monótono e tristonho da cauã no fundo do abismo.
O índio tinha desaparecido; apenas se via o reflexo da luz do facho.
Cecília, pálida e trêmula julgava impossível que Peri não estivesse morto e já quase devorado por esses monstros de mil formas; chorava o seu amigo perdido, e balbuciava preces pedindo a Deus um milagre para salvá-lo.
Às vezes fechava os olhos para não ver o quadro terrível que se desenrolava diante dela, e abria-os logo para perscrutar o abismo e descobrir o índio
Em um desses momentos um dos insetos que pululavam no meio da folhagem agitada esvoaçou, e veio pousar no seu ombro; era uma esperança, um desses lindos coleópteros verdes que a poesia popular chama lavandeira-de-deus.
A alma nos momentos supremos de aflição suspende-se ao fio o mais tênue da esperança; Cecília sorriu-se entre as lágrimas, tomou a lavandeira entre os seus dedos rosados e acariciou-a.
Precisava esperar; esperou, reanimou-se, e pôde preferir uma palavra ainda com a voz trêmula e fraca:
— Peri!
No curto instante que sucedeu a este chamado, sofreu uma ansiedade cruel; se o índio não respondesse, estava morto; mas Peri falou:
— Espera, senhora!
Entretanto, apesar da alegria que lhe causaram estas palavras, pareceu à menina que eram pronunciadas por um homem que sofria: a voz chegou-lhe ao ouvido surda e rouca.
— Estás ferido? perguntou inquieta.
Não houve resposta; um grito agudo partiu do fundo do abismo, e ecoou pelas fráguas; depois a cauã cantou de novo, e uma cascavel silvando bravia passou seguida por uma ninhada de filhos.
Cecília vacilou; soltando um gemido plangente caiu desmaiada de encontro à almofada da janela.
Quando, passado um quarto de hora, a menina abriu os olhos, viu diante dela Peri que chegava naquele momento, e lhe apresentava sorrindo uma bolsa de malha de retrós, dentro da qual havia uma caixinha de velado escarlate.
Sem se importar com a jóia, Cecília ainda impressionada pelo quadro horrível que presenciara, tomou as mãos do índio e perguntou-lhe com sofreguidão:
— Não estás mordido, Peri?... Não sofres?... Dize!
O índio olhou-a admirado do susto que via no seu semblante.
— Tiveste medo, senhora?
— Muito! exclamou a menina.
O índio sorriu.
— Peri é um selvagem, filho das florestas; nasceu no deserto, no meio das cobras; elas conhecem Peri e o respeitam.
(...)
Tinha-lhe bastado a luz do seu facho e o canto da cauã que ele imitava perfeitamente para evitar os répteis venenosos que são devorados por essa ave. Com este simples expediente de que os selvagens ordinariamente se serviam quando atravessavam as matas de noite, Peri descera e tivera a felicidade de encontrar presa aos ramos de uma trepadeira a bolsa de seda (...)
Entretanto Cecília que não podia compreender como um homem passava assim no meio de tantos animais venenosos sem ser ofendido por eles, atribuía a salvação do índio a um milagre, e considerava a ação simples e natural que acabava de praticar como um heroísmo admirável. (...)
A caixinha continha um simples bracelete de pérolas; mas estas eram do mais puro esmalte e lindas como pérolas que eram; bem mostravam que tinham sido escolhidas pelos olhos de Álvaro, e destinadas ao braço de Cecília.
A menina admirou-as um momento com o sentimento de faceirice que é inato na mulher, e lhe serve de sétimo sentido; pensou que devia ir-lhe bem esse bracelete; levada por esta idéia cingiu-o ao braço, e mostrou a Peri que a contemplava satisfeito de si mesmo.
— Peri sente uma coisa.
— O quê?
— Não ter contas mais bonitas do que estas para dar-te.
— E por que sentes isso?
— Porque te acompanhariam sempre.
Cecília sorriu; ia fazer uma travessura.
— Assim, tu ficarias contente se tua senhora em vez de trazer este bracelete, trouxesse um presente dado por ti?
— Muito.
— E o que me dás tu para que eu me faça bonita? perguntou a menina gracejando.
O índio correu os olhos ao redor de si e ficou triste; podia dar a sua vida, que de nada valia; mas onde iria ele, pobre selvagem, buscar um adorno digno de sua senhora!
Cecília teve pena do seu embaraço.
— Vai buscar uma flor que tua senhora deitará nos seus cabelos, em vez deste bracelete que ela nunca deitará no seu braço.
Estas últimas palavras foram ditas com um tom de energia, que revelava a firmeza do caráter desta menina; ela fechou outra vez o bracelete na caixa e ficou um momento melancólica e pensativa.
Peri voltou trazendo uma linda flor silvestre que encontrara no jardim; era uma parasita aveludada, de lindo escarlate. A menina prendeu a flor nos cabelos, satisfeita por ter cumprido um inocente desejo de Peri, que só vivia para cumprir os seus; e dirigiu-se ao quarto de sua prima, ocultando no seio a caixinha de veludo.

(José de Alencar, in “O Guarani”)

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sábado, 25 de agosto de 2012

Augusto Frederico Schmidt – Poemas

Augusto Frederico Schmidt - Poemas

"At the balcony". Pino Daeni.
Poema XXX

Encontraremos o amor depois que um de nós abandonar
os brinquedos.
Encontraremos o amor depois que nos tivermos despedido
E caminharmos separados pelos caminhos.
Então ele passará por nós,
E terá a figura de um velho trôpego,
Ou mesmo de um cão abandonado,
O amor é uma iluminação, e está em nós, contido em nós,
E são sinais indiferentes e próximos que os acordam do
seu sono subitamente.

(Augusto Frederico Schmidt)

Poema

repousarei na tua memória
a minha imagem
quando chegar a noite
e o vento me arrastar para os largos espaços
repousarei na tua memória a minha imagem.
e estarei em ti pousado, como a cor na superfície dos mares;
e estarei em ti como a emoção nas lágrimas;
e estarei em ti como a saudade nos olhos imóveis.
irá da minha imagem
para a tua compreensão
o sentimento do meu mistério
o ignorado segredo dos movimentos do meu ser.
e ficarei em ti, iluminado e distante
e serei como a luz inútil, como a lanterna balançando
nas pequenas estações passadas
nessa longa viagem sem termo.

(Augusto Frederico Schmidt)

Vazio


A poesia fugiu do mundo.
O amor fugiu do mundo —
Restam somente as casas,
Os bondes, os automóveis, as pessoas,
Os fios telegráficos estendidos,
No céu os anúncios luminosos.

A poesia fugiu do mundo.
O amor fugiu do mundo —
Restam somente os homens,
Pequeninos, apressados, egoístas e inúteis.
Resta a vida que é preciso viver.
Resta a volúpia que é preciso matar.
Resta a necessidade de poesia, que é preciso contentar.

(Augusto Frederico Schmidt, in “Pássaro cego”)

Inventário


Há um berço vazio, onde ninguém veio dormir, 


Há uma viagem que jamais se realizou,
Paisagens que nunca foram vistas.
Há lembranças de sonhos partidos.
Uma casa construída pela imaginação
E cujas portas ninguém transpôs.
Há planos que foram abandonados
Para sempre.
Há algumas horas de paz e de silêncio,
Coroando sofrimentos e lágrimas invisíveis.
Há uma tristeza do que poderia ter sido,
De algumas palavras que pareciam
De compreensão e piedade,
E há o desgosto deste mundo.
Há algumas imagens da juventude
E a saudade de um fruto claro
Para sempre perdido.

(Augusto Frederico Schmidt)

Estrela morta


Morta a Estrela que um dia, solitária,
Nasceu em céu sem termo.
Morta a Estrela que floriu nos meus olhos.
Morta a Estrela que olhei na noite erma.
Morta a Estrela que dançou diante dos nossos olhos,
A Estrela que descendo acendeu este amor
Morta a Estrela que foi para o meu coração,
Como a neve para os ninhos
Como o pecado para os santos
Como a ausência de Deus para os condenados.

(Augusto Frederico Schmidt, in “Canto da Noite”)

A ausente


Os que se vão, vão depressa,
Ontem, ainda, sorria na espreguiçadeira.
Ontem dizia adeus, ainda, da janela.
Ontem vestia, ainda, o vestido tão leve cor-de-rosa.

Os que se vão, vão depressa.
Seus olhos grandes e pretos há pouco brilhavam.
Sua voz doce e firme faz pouco ainda falava,
Suas mãos morenas tinham gestos de bênçãos.
No entanto hoje, na festa, ela não estava.
Nem um vestígio dela, sequer,
Decerto sua lembrança nem chegou, como os convidados —
Alguns, quase todos, indiferentes e desconhecidos.

Os que se vão, vão depressa. 
"Homem escrevendo". Oliver Ray.

Mais depressa que os pássaros que passam no céu,
Mais depressa que o próprio tempo,
Mais depressa que a bondade dos homens,
Mais depressa que os trens correndo nas noites escuras,
Mais depressa que a estrela fugitiva
Que mal faz um traço no céu.
Os que se vão, vão depressa.
Só no coração do poeta, que é diferente dos outros corações,
Só no coração sempre ferido do poeta
É que não vão depressa os que se vão.

Ontem ainda sorria na espreguiçadeira,
E o seu coração era grande e infeliz.
Hoje, na festa ela não estava, nem a sua lembrança.
Vão depressa, tão depressa os que se vão...

(Augusto Frederico Schmidt, in “Pássaro Cego”)

Despedida


Os que seguem os trens onde viajam moças muito doentes com os
[olhos chorando
Os que se lembram da terra perdida, acordados pelos apitos dos
[navios
Os que encontram a infância distante numa criança que brinca
Estes entenderão o desespero da minha despedida.
Porque este amor que vai viajar para a última estação da
[memória
Foi a infância distante, foi a pátria perdida, e a moça que não
[volta.

(Augusto Frederico Schmidt)




"A ressurreição de Cristo" - 1635 - Rembrandt

Pequena igreja 

Eu queria louvar-te, pequena e humilde igreja
Desta cidadezinha que está morrendo.
Eu queria agradecer-te a compreensão que me deste
Das coisas humildes e eternas.

Eu queria saber cantar a tua tranqüilidade
E a tua pura beleza,
Ó igreja da roça, adormecida diante do jardim cheio de rosas!
Ó pequena casa de Jesus Cristo, irmã das outras casas solenes
[e graves.
Escondida e modesta, com as tuas torres e os teus sinos
Que sabem encher o ar matinal com um tão doce apelo,
E no instante vesperal lembram que é hora de dormir para a
[grande família dos passarinhos inquietos,
Dos passarinhos que tumultuam o pobre jardim cheio de flores!

(Augusto Frederico Schmidt, in “Estrela solitária”)

Momento


Desejo de não ser nem herói e nem poeta
Desejo de não ser senão feliz e calmo.
Desejo das volúpias castas e sem sombra
Dos fins de jantar nas casas burguesas.

Desejo manso das moringas de água fresca
Das flores eternas nos vasos verdes.
Desejo dos filhos crescendo vivos e surpreendentes
Desejo de vestidos de linho azul da esposa amada.

Oh! não as tentaculares investidas para o alto
E o tédio das cidades sacrificadas.
Desejo de integração no cotidiano.

Desejo de passar em silêncio, sem brilho
E desaparecer em Deus – com pouco sofrimento
E com a ternura dos que a vida não maltratou.

(Augusto Frederico Schmidt)

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segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Prova de Língua Portuguesa – Mackenzie – 2010 – 1º Semestre

Universidade Mackenzie – Vestibular 2010 – 1º Semestre – Prova de Língua Portuguesa




Texto para as questões de 01 a 03


Questão nº 01 - Assinale a alternativa INCORRETA sobre o texto do 1º. quadrinho.

a) Há, predominantemente, elementos típicos do diálogo, já que o objetivo do texto é colocar em destaque o interlocutor da fala do garoto.
b) A subjetividade do texto é reforçada pelo uso de pronomes (como eu, mim),de verbos flexionados (como sonhei) e de adjetivos (como maravilhoso).
c) A presença do sinal de pontuação exclamativo, como em Eu podia voar!, indicia o envolvimento emocional do garoto com aquilo que narra.
d) A expressão de conteúdo emotivo é coerente com o fato de a linguagem estar fundamentalmente construída em torno da 1ª. pessoa.
e) Em meio a sua reconstrução do sonho, o garoto enfatiza por meio da linguagem seus atos, como a repetição verbal em “eu ria e ria”.

Questão nº 02 - Assinale a alternativa correta sobre o texto do 1º. quadrinho.

a) A relação entre linguagem verbal e visual destaca sobremaneira a presença da função metalinguística, considerando o objetivo principal do texto: apontar para possíveis técnicas de construção das diferentes linguagens.
b) A grande quantidade de traços fortes que reproduzem a chuva e a fala caudalosa do garoto estabelecem uma relação entre o verbal e o visual e apontam a presença da função poética, revelando cuidado especial com a construção da mensagem.
c) Encontra-se na fala do garoto exclusivamente a função conativa, uma vez que estão ausentes elementos que apontam para uma expressividade no processo comunicativo.
d) Observa-se, além do emprego da função e motiva (marca da pela raiva e desespero do garoto ao relatar seu sonho), o uso destacado da função fática, presente, por exemplo, na linguagem formal e conotativa do monólogo.
e) A função referencial da linguagem sobrepõe-se à função emotiva, na medida em que a tira transmite essencialmente informações de caráter objetivo.

Questão nº 03 - Considere as afirmações abaixo sobre o texto do 1º. quadrinho.

I. Há a presença de elementos típicos da linguagem falada, como o uso de aí para marcar a continuidade textual.
II. Formas como podia, estava e corria indicam que o processo verbal por elas descrito ocorre simultaneamente ao momento de fala do garoto.
I I I. Rasante refere-se ao modo como o garoto executou uma manobra enquanto, no sonho, voava.

Assinale:
a)  se todas as afirmações estiverem  corretas.
b)  se estiverem corretas apenas as afirmações I e II.
c)  se estiverem corretas apenas as afirmações II e III.
d)  se estiverem corretas apenas as afirmações I e III.
e)  se nenhuma das afirmações estiver correta.

Texto para as questões de 04 a 06

    E se todos os humanos fossem da mesma cor?
   Não haveria intolerância ou o argumento de superioridade racial. Os negros, portanto, não teriam sido escravizados, não teria existido o apartheid nem o nazismo. Ou seja, a história da humanidade seria completamente diferente. Engano seu. A natureza humana é bem mais complexa que isso: mesmo se todos tivessem a mesma cor de pele, textura de cabelo ou formato de olhos, bastaria que algum povo se destacasse no desenvolvimento técnico e econômico para se sentir superior aos demais. Aí o argumento para o domínio não seria a diferença física, mas, sim, cultural, que justificaria a exploração dos mais fracos pelos mais fortes e daria origem a todo tipo de intolerância. Em algum momento o conceito de raça apareceria.

Revista Superinteressante

Questão nº 04 - Depreende-se corretamente do texto que

a) não há possibilidade de as pessoas lutarem por igualdade, pois a humanidade é diferente e complexa por conta da justa exploração dos mais fracos pelos mais fortes.
b) a complexidade da natureza humana é resultado, exclusivamente, de elementos como código genético e aparência.
c) o conceito de raça é derivado da intolerância, que possibilita os meios para que as diferenças sejam eliminadas da convivência humana.
d) só haverá paz entre todos os povos quando as razões para discriminação e intolerância forem baseadas apenas em características físicas, estabelecidas em torno do conceito de raça.
e) uma proposta de igualdade entre todos os seres humanos é utópica, já que intolerância e discriminação podem estar ligadas não só a aspectos físicos, raciais, mas também a elementos de ordem cultural.

Questão nº 05 - É correto afirmar que o objetivo principal do texto é

a) informar acerca de resultados de novas pesquisas sobre o papel do conceito de raça no mundo moderno.
b) demonstrar que o apartheid e o nazismo são resultantes do engano das pessoas e não de consequências de complexos processos históricos.
c) estimular a formação de um debate sobre a necessidade da igualdade entre todas as raças, por conta dos avanços da genética.
d) denunciar os perigos da discriminação, procurando evitar que episódios da nossa história se repitam.
e) apresentar o início de uma ref lexão a respeito da natureza das sociedades humanas, ancoradas na noção de desigualdade e diferença.

Questão nº 06 - Todas as alternativas abaixo apontam recurso empregado no desenvolvimento do texto, EXCETO:

a) Elementos linguísticos que destacam a interação com o leitor.
b) Estrutura interrogativa com função persuasiva.
c) Referência a fatos históricos como apoio para a argumentação desenvolvida.
d) Da do s concretos resultantes de pesquisa para induzir o leitor a uma conclusão.
e) Desenvolvimento de raciocínio que nega premissa estabelecida no início do texto.
Textos para as questões 07 e 08

Texto I

01   Sôbolos rios que vão
02   por Babilônia, me achei,
03   onde sentado chorei
04   as lembranças de Sião
05   e quanto nela passei.
06   Ali, o rio corrente
07   de meus olhos foi manado;
08   e, tudo bem comparado,
09   Babilônia ao mal presente,
10   Sião ao tempo passado.

[...]

11   Mas ó tu, terra de Glória,
12   se eu nunca vi tua essência,
13   como me lembras na ausência?
14   Não me lembras na memória
15   senão na reminiscência.

 “Sôbolos rios que vão”, Luís de Camões (poeta do Classicismo português)

Texto II

01 De uma vez calhou lermos Sôbolos rios que vão. Contava-se aí da
02 Babilônia e da Jerusalém celeste. [...]  A Jerusalém é nossa, mas
03 construímo-la tão longe, tão dentro da nossa violenta inquietação,
04 que só a sua miragem nos visita de quando em quando, à hora das
05 raízes e das sombras. 

Aparição, Vergílio Ferreira (escritor português contemporâneo)

Observações:

Sôbolos = sobre os
Sião = Jerusalém

Questão nº 07 - Considerando a leitura dos dois textos, assinale a alternativa correta a respeito do texto I.

a) A constatação de um mal presente (verso 09) e a idealização do tempo passado (verso 10), identificado à terra de Glória (verso 11), são índices do neoplatonismo camoniano.
b) O texto nega uma visão espiritualista de mundo, na medida em que o poeta afirma nunca ter visto a essência (verso 12) da terra santa.
c) Os versos ironizam a idealização de Babilônia (verso 02), considerada pelo poeta como terra de Glória (verso 11). 
d) O eu lírico canta as glórias de Portugal, terra tão abençoada quanto a Jerusalém celeste (linha 02).
e) A idealização da terra santa tem como causa a relação especular entre os rios da Babilônia (versos 01 e 02) e o rio corrente (verso 06) dos olhos do poeta.

Questão nº 08 - Considerando a leitura dos dois textos, assinale a alternativa correta.

a) O texto I I é paródia do texto I, traço estilístico que define sua contemporaneidade.
b) O texto II dessacraliza o sentido da idealidade ao concebê-la como construção humana e não divina, como prova o trecho A Jerusalém é nossa, mas construímo-la tão longe, tão dentro da nossa violenta inquietação (linhas 02 e 03).
c) Embora escritos em épocas diferentes, I e II convergem num ponto: ambos concebem a cidade de Jerusalém como a pátria dos portugueses, por suas características geográficas e históricas.
d) O texto II vale-se de linguagem metafórica – hora das raízes e das sombras (linhas 04 e 05) –  recurso literário ausente no texto I.   
e) Em II, o narrador critica o descaso da humanidade para com o passado cultural, concebido atualmente como miragem e sombras (linhas 04 e 05).

Textos para as questões de 09 a 11

Texto I

01   Na paisagem do rio
02   difícil é saber 
03   onde começa o rio;
04   onde a lama
05   começa do rio; 
06   onde a terra
07   começa da lama;
08   onde o homem,
09   onde a pele
10   começa da lama;
11   onde começa o homem
12   naquele homem.

“O cão sem plumas”, João Cabral de Melo Neto

Texto II

01 O senhor tolere, isto é o sertão. Uns querem que não seja: que situado
02 sertão é por os campos gerais a fora a dentro, eles dizem, fim de
03 rumo, terras altas, demais do Urucuia. Toleima. Para os de Corinto e
04 do Curvelo, então, o aqui não é dito sertão? Ah, que tem maior. [...]
05 Enfim, cada um o que quer aprova, o senhor sabe: pão ou pães, é
06 questão de opiniães... O sertão está em toda a parte.

Grande sertão: veredas, João Guimarães Rosa

Questão nº 09 - Considerando o texto I, no contexto da obra do poeta, assinale a alternativa correta.

a) “O cão sem plumas” retrata e denuncia, fundamentalmente, as péssimas condições de vida que o sertanejo enfrenta durante o período da seca.
b) No excerto em questão, a linguagem poética ressalta a ideia de que homem e meio se confundem em viscosa mistura. 
c) O título do poema ganha sentido irônico na medida em que plumas sugere “ornamento, beleza”, atributos ausentes na região nordestina.
d) Dos versos pode-se inferir, corretamente,  que a grandeza humana resulta da harmonia entre homem e natureza.
e) A valorização de um conteúdo explicitamente ideológico, em detrimento da forma estética, é traço marcante na obra do poeta.  

Questão nº 10 - Considerando o texto II, no contexto da obra do escritor, assinale a alternativa correta. 

a) O diálogo entre o autor e o leitor – O senhor tolere, o senhor sabe ...  (linhas 01 e 05) –  é traço estilístico de Guimarães Rosa,  caracterizado essencialmente pela oralidade e espontaneidade da fala sertaneja.
b) Expressões como Toleima (linha 03) e opiniães (linha 06), entre outras, dão um tom humorístico ao discurso e  reforçam a crítica do autor à ingenuidade e cultura não-letrada do sertanejo.
c) Na fala do narrador-personagem problematizam-se os limites de uma determinada região geográfica do Brasil – o sertão –, formalizando-se, assim, o tema da relatividade dos juízos.
d) O fragmento exemplifica o regionalismo de Guimarães Rosa, desenvolvido a partir de um enfoque naturalista, em que se ressalta a cor local – fim de rumo, terras altas, demais do Urucuia (linhas 02 e 03).
e) O foco centrado na conversa de dois interlocutores de culturas diferentes – o sertanejo e o senhor – é índice da temática neorrealista  que caracteriza o escritor, qual seja, o contraste entre cidade e campo. 

Questão nº 11 - Considere as seguintes assertivas relacionadas aos dois textos, levando em conta a produção dos respectivos autores.

I. O caráter literário de I e de II resulta da beleza, concisão e clareza da linguagem utilizada pelos autores para registrar fidedignamente um universo típica e exclusivamente brasileiro.
II. O valor literário de I e II deve-se ao especial tratamento linguístico que confere às palavras sentidos múltiplos.
III. O efeito conotativo dos textos permite dizer que tanto o homem referido em I, quanto o sertão referido em II, transcendem os limites do regional para representarem valores universais.

Assinale:
a) se todas as assertivas estiverem corretas.
b) se apenas I e II estiverem corretas.
c) se apenas II e III estiverem corretas.
d) se apenas II estiver correta.
e) se apenas III estiver correta.

GABARITO

1 – A    2 – B    3 – D    4 – E   5 – E   6 – D   7 – A   8 – B   9 – B  10 – C   11 – C

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