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domingo, 31 de agosto de 2014

UFG - 2012 - 2º Semestre - 1º Fase - Prova de Língua Portuguesa

Prova de Língua Portuguesa - UFG - 2012 - 2º Semestre - 1º Fase

LÍNGUA PORTUGUESA

Leia o texto a seguir para responder às questões 01 e 02.

Texto 1 - Devolva-me - (Renato Barros e Lílian Knapp)

Rasgue as minhas cartas
E não me procure mais
Assim será melhor
Meu bem!
O retrato que eu te dei
Se ainda tens,
Não sei!
Mas se tiver
Devolva-me!
Deixe-me sozinho
Porque assim
Eu viverei em paz
Quero que sejas bem feliz
Junto do seu novo rapaz...
Rasgue as minhas cartas
E não me procure mais
Assim vai ser melhor
Meu bem!
O retrato que eu te dei
Se ainda tens
Não sei!
Mas se tiver
Devolva-me!
O retrato que eu te dei
Se ainda tens
Não sei!
Mas se tiver
Devolva-me!
Devolva-me!
Devolva-me!

Disponível em: <http://letras.terra.com.br>. Acesso em: 25 abr. 2012.

QUESTÃO 01 - Considerando-se os motivos para a escritura da carta, a afirmativa Assim será melhor, meu bem! sugere que

(A) o emissor tenta se convencer de que sua decisão é acertada.
(B) a destinatária da carta concorda com o desfecho dado ao romance.
(C) o romance se transformou em uma amizade imprevista.
(D) a carta é um meio eficiente para encerrar um relacionamento complicado.
(E) a mensagem introduz um final premeditado pelos correspondentes.

QUESTÃO 02 - Tendo em vista o espaço conflituoso das relações amorosas e a entrega afetiva pressuposta nesse tipo de relacionamento, a repetição dos versos finais favorece uma leitura ambígua, pois

(A) mostra a personalidade de uma pessoa volúvel que ora quer ficar sozinha, ora quer ficar acompanhada.
(B) permite o reconhecimento de um amante ciumento e indiferente à preservação de seu relacionamento.
(C) auxilia na identificação da imagem de honesta e rancorosa veiculada nas cartas da mulher amada.
(D) apresenta um homem fiel a seus princípios e violador das regras básicas da sua conduta amorosa.
(E) remete à entrega de uma fotografia e ao retorno a um estado psicológico anterior ao romance.

Leia o texto a seguir para responder às questões de 03 a 05.

Texto 2 - A carta-testamento de Getúlio Vargas

                Mais uma vez, as forças e os interesses contra o povo coordenaram-se novamente e se desencadeiam sobre mim.
                Não me acusam, insultam; não me combatem, caluniam e não me dão o direito de defesa. Precisam sufocar a minha voz e impedir a minha ação, para que eu não continue a defender, como sempre defendi, o povo e principalmente os humildes. Sigo o destino que me é imposto. Depois de decênios de domínio e espoliação dos grupos econômicos e financeiros internacionais, fiz-me chefe de uma revolução e venci. Iniciei o trabalho de libertação e instaurei o regime de liberdade social. Tive de renunciar. Voltei ao Governo nos braços do povo. A campanha subterrânea dos grupos internacionais aliou-se à dos grupos nacionais revoltados contra o regime de garantia do trabalho. A lei de lucros extraordinários foi detida no Congresso. Contra a justiça da revisão do salário-mínimo se desencadearam os ódios. Quis criar a liberdade nacional na potencialização das nossas riquezas através da Petrobrás, mal começa esta a funcionar, a onda de agitação se avoluma. A Eletrobrás foi obstaculada até o desespero. Não querem que o trabalhador seja livre. Não querem que o povo seja independente.
                Assumi o Governo dentro da aspiral inflacionária que destruía os valores de trabalho. Os lucros das empresas estrangeiras alcançavam até 500% ao ano. Na declaração de valores do que importávamos existiam fraudes constatadas de mais de 100 milhões de dólares por ano. Veio a crise do café, valorizou-se o nosso principal produto. Tentamos defender seu preço e a resposta foi uma violenta pressão sobre a nossa economia a ponto de sermos obrigados a ceder.
                Tenho lutado mês a mês, dia a dia, hora a hora, resistindo a uma pressão constante, incessante, tudo suportando em silêncio, tudo esquecendo, renunciando a mim mesmo, para defender o povo que agora se queda desamparado. Nada mais vos posso dar a não ser meu sangue. Se as aves de rapina querem o sangue de alguém, querem continuar sugando o povo brasileiro, eu ofereço em holocausto a minha vida. Escolho este meio de estar sempre convosco. Quando vos humilharem, sentireis minha alma sofrendo ao vosso lado. Quando a fome bater a vossa porta, sentireis em vosso peito a energia para a luta por vós e vossos filhos. Quando vos vilipendiarem, sentireis no meu pensamento a força para a reação. Meu sacrifício vos manterá unidos e meu nome será a vossa bandeira de luta.
                Cada gota de meu sangue será uma chama imortal na vossa consciência e manterá a vibração sagrada para a resistência. Ao ódio respondo com o perdão. E aos que pensam que me derrotaram respondo com a minha vitória. Era escravo do povo e hoje me liberto para a vida eterna. Mas esse povo de quem fui escravo não mais será escravo de ninguém. Meu sacrifício ficará para sempre em sua alma e meu sangue será o preço do seu resgate.
                Lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação do povo. Tenho lutado de peito aberto. O ódio, as infâmias, a calúnia não abateram meu ânimo. Eu vos dei a minha vida. Agora ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na história.

Rio de Janeiro, 24 de agosto de 1954.
Getúlio Vargas

Disponível em:<http://maniadehistoria.wordpress.com/carta-testamento-degetulio-vargas>. Acesso em: 30 abr. 2012.

QUESTÃO 03 - No trecho Não me acusam, insultam; não me combatem, caluniam, Getúlio Vargas nega um fato para afirmar outro. Um efeito dessa estratégia retórica é

(A) explicar aos brasileiros as consequências dos atos de seus adversários.
(B) mostrar ao leitor a ilegitimidade dos ataques de seus inimigos.
(C) apontar para seus interlocutores os atos descomprometidos com o Brasil.
(D) defender a nação das forças contrárias envolvidas no processo de degradação de seu governo.
(E) explicitar a incompreensão dos seus atos administrativos pelos eleitores.

QUESTÃO 04 - Com o auxílio da intertextualidade, o locutor constrói uma autoimagem que foge ao político. Que imagem é essa e com que discurso a intertextualidade se estabelece?

(A) Justiceiro – discurso jurídico. (B) Militante – discurso sindicalista.
(C) Operário – discurso popular.   (D) Redentor – discurso religioso.  (E) Guerreiro – discurso militar.

QUESTÃO 05 - Todo testamento pressupõe uma herança. De acordo com o conteúdo do Texto 2, a herança de Getúlio Vargas é

(A) o ódio do povo.                     (B) a perseguição dos políticos.
(C) o perdão aos seus inimigos.   (D) a sua renúncia.                       (E) a sua morte.

Leia o texto a seguir para responder às questões de 06 a 08.

Texto 3 - A carta-renúncia de Jânio Quadros

                Fui vencido pela reação e, assim, deixo o governo. Nestes sete meses cumpri com o meu dever. Tenho-o cumprido, dia e noite, trabalhando infatigavelmente, sem prevenções, nem rancores. Mas baldaram-se os meus esforços para conduzir esta nação pelo caminho de sua verdadeira libertação política e econômica, o único que possibilitaria o progresso efetivo e a justiça social, a que tem direito o seu generoso povo.
                Desejei um Brasil para os brasileiros, afrontando, nesse sonho, a corrupção, a mentira e a covardia que subordinam os interesses gerais aos apetites e às ambições de grupos ou de indivíduos,
inclusive do exterior. Sinto-me, porém, esmagado. Forças terríveis levantam-se contra mim e me intrigam ou infamam, até com a desculpa de colaboração.
                Se permanecesse, não manteria a confiança e a tranquilidade, ora quebradas, indispensáveis ao exercício da minha autoridade. Creio mesmo que não manteria a própria paz pública.
                Encerro, assim, com o pensamento voltado para a nossa gente, para os estudantes, para os operários, para a grande família do Brasil, esta página da minha vida e da vida nacional. A mim não falta a coragem da renúncia.
                Saio com um agradecimento e um apelo. O agradecimento é aos companheiros que comigo lutaram e me sustentaram dentro e fora do governo e, de forma especial, às Forças Armadas, cuja conduta exemplar, em todos os instantes, proclamo nesta oportunidade. O apelo é no sentido da ordem, do congraçamento, do respeito e da estima de cada um dos meus patrícios, para todos e de todos para cada um.
                Somente assim seremos dignos deste país e do mundo. Somente assim seremos dignos de nossa herança e da nossa predestinação cristã. Retorno agora ao meu trabalho de advogado e professor. Trabalharemos todos. Há muitas formas de servir nossa pátria.

Brasília, 25 de agosto de 1961.
Jânio Quadros

Disponível em: <http://liberalspace.net/2009/08/25/carta-renuncia-de-janioquadros-25081961>. Acesso em: 27 abr. 2012.

QUESTÃO 06 - Para o leitor contemporâneo, levando-se em conta o tipo de governo que viria se instalar no Brasil em 1964, os agradecimentos dirigidos na carta-renúncia constituem

(A) uma metáfora, pois a luta operária deu o tom do governo de João Goulart.
(B) uma ambiguidade, pois a reforma de base promovida por Jango privilegiou os estudantes.
(C) uma ironia, pois sob a justificativa de restaurar a ordem no país os militares tomam o poder.
(D) um exagero, pois imediatamente após a renúncia o país voltou à harmonia político-social.
(E) um paradoxo, pois o governo de Jânio Quadros se caracterizou por favorecer as oligarquias dominantes.

QUESTÃO 07 - Trechos como baldaram-se os meus esforços para conduzir esta nação e Forças terríveis levantam-se contra mim e me intrigam ou infamam, até com a desculpa de colaboração exemplificam escolhas lexicais que atribuem à carta-renúncia uma característica elocutiva recorrente em obras do Romantismo, como em I-Juca Pirama. Essa característica e o seu objetivo no texto são, respectivamente,

(A) grandiloquência: promover a valorização exacerbada do conteúdo apresentado.
(B) adjetivação: produzir um estado de depreciação do locutor perante o interlocutor.
(C) sarcasmo: gerar um efeito de humor politicamente incorreto.
(D) telurismo: divulgar uma realidade idealizada pelo locutor.
(E) ufanismo: construir nos brasileiros um forte sentimento de amor à pátria.

QUESTÃO 08 - Jânio Quadros e Getúlio Vargas têm o povo como interlocutor e esse relacionamento é visível, em suas cartas, na mobilização das pessoas do discurso. Comparando-se essa mobilização nos textos 2 e 3, infere-se que

(A) Jânio Quadros, diferentemente de Getúlio Vargas, se inclui como integrante do povo.
(B) Getúlio Vargas, tal como Jânio Quadros, cita trechos da voz do povo como se sua fosse.
(C) ambos os políticos constroem um perfil baseado na covardia.
(D) ambos escrevem para uma camada popular específica.
(E) Getúlio Vargas, bem como Jânio Quadros, diminui a força da voz popular.

QUESTÃO 09 - Releia os textos 1, 2 e 3.
Aparentemente distantes com relação ao conteúdo abordado, os textos aproximam-se quanto às motivações para sua elaboração. Essa aproximação ocorre por meio

(A) do desprezo pela figura do destinatário, verificado no uso de palavras negativas.
(B) do chamamento à mudança de opinião, estimulado pelas circunstâncias.
(C) da desistência de um bem precioso ao remetente, provocada por forças externas à sua vontade.
(D) da conturbação da paz, configurado no embate de ideias contrárias aos seus interlocutores.
(E) do desejo de vingança, revelado no tom amargo de sua despedida.

QUESTÃO 10 - Leia o texto a seguir.

Texto 4 - Gerador de cartas de amor

Início
Escrevo esta carta pois há sentimentos que devem ser detalhados e memorizados, bem como vividos intensamente. E é exatamente o que vem acontecendo com a gente, desde o primeiro olhar, o primeiro beijo – a troca de amor que nos une. Escrever vai deixar registado em mim e em você o que nosso namoro significa. 
Meio
Há tempos, ou melhor, desde que nos conhecemos, a vida ficou mais colorida, com impulso de quero mais. E sei que foi este seu jeito de estar comigo, de viver a rotina e os momentos especiais com a mesma importância que torna nosso namoro único. 
Fim
Que neste dia dos namorados estejamos próximos, mais do que nunca, presentes no nosso universo particular e deixando a marca da felicidade no coração daqueles que passarem pelo nosso caminho.
Clique nas setas ao lado para escolher o início, meio e fim de sua carta, veja qual combinações mais condiz com seu amor e clique em Avançar

Disponível em: <http://www.baixaki.com.br/gerador-de-cartas-de-amor.htm>. Acesso em: 4 abr. 2012.

A proposta de um gerador de cartas de amor quebra certas particularidades dos textos dessa natureza. No entanto, o texto apresentado preserva uma característica tradicional do gênero, que é

(A) o suporte de veiculação da mensagem. 
(B) a pessoalidade do sentimento.
(C) a especificidade do interlocutor.            
(D) a exclusividade do conteúdo. 
(E) o tom melodramático.
LITERATURA BRASILEIRA

QUESTÃO 11 - No conto “Os dragões”, da Obra completa de Murilo Rubião, a quebra de verossimilhança externa, comum ao gênero fantástico, efetiva-se pela presença de animais mitológicos – os dragões – em meio ao espaço urbano. Todavia, a referida quebra não compromete a coerência da narrativa, visto que a presença de tais seres justifica-se por estabelecer uma

(A) comparação entre a organização familiar e os valores defendidos pela sociedade capitalista.
(B) simulação do universo mítico que existe apenas como produto da ficcionalização literária.
(C) sátira às relações econômicas exemplificadas no modo de vida das personagens mitológicas.
(D) negação da noção de normalidade representada no comportamento das personagens humanas.
(E) distinção entre os elementos considerados típicos do mundo real e do sobrenatural.

QUESTÃO 12 - Memórias de um sargento de milícias, de Manuel Antônio de Almeida, foi originalmente publicado em capítulos semanais, no jornal Correio Mercantil, entre os anos de 1852 e 1853, sob a forma de folhetim. O recurso que, utilizado pelo narrador, explicita a forma original de publicação do romance é a

(A) ironia, por meio da qual o narrador acentua o comportamento ridículo das personagens.
(B) retomada, que atualiza detalhes do enredo no presente da narração.
(C) celeridade, que caracteriza o ritmo da narrativa e a ação das personagens.
(D) síntese, pela qual se configuram os capítulos curtos e a rápida solução dos impasses do enredo.
(E) comicidade, por se referir sempre a acontecimentos já narrados.

QUESTÃO 13 - Leia o poema apresentado a seguir.

fogo-fátuo

o bombeiro
é o último
a entrar
em combustão

PEREIRA, Luís Araujo. Minigrafias. Goiânia: Cânone Editorial, 2009. p. 47.

A imagem construída no poema constitui o sentido de que

(A) as pessoas em perigo se desesperam, mas há quem suporte as dificuldades até o último instante.
(B) o incêndio representa as pressões sofridas ao longo da vida.
(C) os sujeitos se veem presos nas armadilhas do cotidiano.
(D) a morte emana das chamas do incêndio, mas o bombeiro ainda resiste.
(E) a combustão é o estopim ou limite da vida já sem alternativa.

QUESTÃO 14 - Leia o trecho apresentado a seguir.

ÁLVARES
A escrita existe desde sempre.
ZÉ PAULO
Errado. A escrita é uma invenção do século XIX e ela
está morrendo.
ÁLVARES
Você está delirando! A escrita é antiquíssima... Os chineses
já escreviam em ossos de animais, os babilônios em
tabletes de barro...
ZÉ PAULO
Minha sincera homenagem aos chineses e aos babilônios,
mas a escrita, a indústria da escrita, tal como a conhecemos
e a praticamos há até bem pouco tempo, é uma invenção
do século XIX.
ÁLVARES
Ah, você quer dizer a indústria gráfica, não a literatura.
ZÉ PAULO
É a mesma coisa.
ÁLVARES
O século XX afetou a sua cabeça!

MARTINS, Alberto. Uma noite em cinco atos. São Paulo: Editora 34, 2009. p. 80-81.

O trecho retirado da obra Uma noite em cinco atos, de Alberto Martins, apresenta pontos de vista antagônicos, o que permite associar a crítica dos poetas Zé Paulo e Álvares ao contexto histórico em que se inserem. Essa associação se expressa no seguinte confronto:

(A) Álvares, defensor do conservadorismo liberal, compreende a escrita apenas como um produto do tempo histórico; Zé Paulo, por sua concepção progressista, entende-a como resultado dos avanços tecnológicos do século XIX.
(B) Álvares se opõe à submissão da Literatura às máquinas representativas do progresso; Zé Paulo defende a arte associada ao desenvolvimento da indústria da escrita.
(C) Álvares defende a escrita e a literatura como fenômenos independentes do contexto histórico; Zé Paulo considera ambas como produtos da Revolução Industrial.
(D) Álvares, representante da poesia romântica, tem uma visão da escrita que remonta a povos ancestrais; Zé Paulo, sujeito da contemporaneidade, relaciona a invenção da escrita ao caráter mercadológico da arte.
(E) Álvares acusa a modernidade de corromper os ideais românticos de escrita; Zé Paulo procura resgatar a valorização da literatura contemporânea por meio da produção em série de livros.

QUESTÃO 15 - Leia os trechos apresentados a seguir.

I
As tribos vizinhas, sem força, sem brio,
As armas quebrando, lançando-as ao rio,
O incenso aspiraram dos seus maracás:
Medrosos das guerras que os fortes acendem,
Custosos tributos ignavos lá rendem,
Aos duros guerreiros sujeitos na paz.
No centro da taba se estende um terreiro,
Onde ora se aduna o concílio guerreiro
Da tribo senhora, das tribos servis:
Os velhos sentados praticam d'outrora,
E os moços inquietos, que a festa enamora,
Derramam-se em torno de um índio infeliz.
[…]
Acerva-se a lenha da vasta fogueira,
Entesa-se a corda da embira ligeira,
Adorna-se a maça com penas gentis:
A custo, entre as vagas do povo da aldeia
Caminha o Timbira, que a turba rodeia,
Garboso nas plumas de vário matiz.

DIAS, Gonçalves. I - Juca Pirama. Porto Alegre: LP&M Pocket, 2007. p. 11-12.

Glossário:

maracás: chocalho usado pelos indígenas em solenidades
ignavo: fraco, covarde
adunar: reunir
embira: cipó usado para amarração
maça: bastão ou porrete com que se sacrifica o prisioneiro
garboso: elegante, distinto

O poema I – Juca Pirama se destaca por representar um painel da cultura indígena. Nos versos transcritos, o elemento desse painel que se evidencia é:

(A) o confronto entre povos inimigos.
(B) a preparação de um ritual.
(C) o modo de vida cotidiano.
(D) a caracterização dos papéis tribais.
(E) a relação com a natureza.

QUESTÃO 16 - Leia os trechos apresentados a seguir.

A bicicleta flutua. Ele cometeu um erro. Esqueceu do quinto ponto delicado do percurso. As lajes de pedra cobertas de limo. […] Aderência praticamente nula. É um sabão.
[…] A gangue o desafia com xingamentos. Ele hesita. Não pode hesitar. O garoto no chão toma mais um chute na cabeça. O barbado vem em sua direção com um pedaço de pau. Mad Max está paralisado.

GALERA, Daniel. Mãos de Cavalo. São Paulo: Cia das Letras, 2006. p. 15; 150.

Como se percebe nos trechos transcritos, há na narrativa de Mãos de Cavalo a predominância da fragmentação, aspecto comum às obras literárias da contemporaneidade. Esse aspecto se manifesta por meio da

(A) linguagem exaltada, que acentua o caráter heroico das ações de Hermano.
(B) recorrência da metáfora, que insere na narrativa palavras de outro contexto de significação, gerando novos efeitos de sentido.
(C) presença da gradação, que traduz o sentimento de ansiedade da personagem diante de situações-limite.
(D) relação metonímica, que aproxima o referente da palavra que o substitui, criando novos sentidos no texto.
(E) economia de conectivos, que permite uma visualização cinematográfica das ações narradas por meio da justaposição de períodos curtos.

QUESTÃO 17 - Leia o trecho apresentado a seguir.

ZÉ PAULO
[...] Mas preciso alertá-lo: esta é uma cidade invisível...
ÁLVARES
Sempre foi.
ZÉ PAULO
Mas hoje está pior. Só com faro infravermelho, ou o ouvido
tortuoso de um peão, é possível encontrar a cidade onde
ela se encontra: ao rés do chão...
ÁLVARES
Isso é um poema?
ZÉ PAULO
Talvez.
ÁLVARES
Lá vem você... todo blasé.
ZÉ PAULO
O que eu quero dizer, Álvares, é que no seu tempo ela podia ser invisível porque era tão pequena, pacata e provinciana; mas hoje ela é mais de setecentas cidades, uma empilhada
em cima da outra, e os rios foram todos soterrados, já não é possível navegar. Por isso é preciso se aproximar com cuidado, abrindo os ouvidos para enxergar o caminho.
[…]
ZÉ PAULO
Ninguém sabe o que se passa no subsolo da cidade. Esgoto sanitário, esgoto industrial, água de lavagem, óleos lubrificantes, combustíveis e solventes... Ninguém sabe. Tudo nesta cidade foi feito de forma independente, ao deus-dará, sem levar em conta o que veio antes, o que virá depois. Isso vale também para os buracos de metrô, gás, eletricidade, informações... O fato é que ninguém sabe o que existe no subsolo. Do empreendimento imobiliário mais suntuoso ao buraco mais miserável, ninguém sabe em que cidade realmente está.

MARTINS, Alberto. Uma noite em cinco atos. São Paulo: Editora 34, 2009. p. 84-85; 88.

A descrição da cidade de São Paulo, em Uma noite em cinco atos, de Alberto Martins, estabelece uma comparação entre o desenvolvimento urbano e as transformações literárias no século XX. Essa comparação se efetiva no contraponto entre

(A) o adensamento populacional da metrópole e o esvaziamento de sentidos do fazer literário.
(B) os desníveis sociais decorrentes do fenômeno da metropolização e a ausência de interesse humano pela literatura.
(C) a poluição do ar causada pela circulação automobilística na cidade e o excesso de hermetismo na poesia.
(D) a contaminação resultante da ocupação desordenada do subsolo e a impossibilidade literária de enxergar o mundo em volta.
(E) as inundações resultantes da impermeabilização do solo e a liberdade formal da poesia na modernidade.

QUESTÃO 18 - No conto “Marina, a intangível”, da Obra Completa de Murilo Rubião, a narrativa em primeira pessoa explora, por meio da inacessibilidade atribuída à personagem-título, a angústia do escritor diante da vã tentativa de comunicar-se pela escrita. Ao recuperar tal temática, o autor vale-se de

(A) preciosismo, visto que as divagações do narrador-personagem materializam-se no uso de um vocabulário rebuscado.
(B) intertextualidade, na medida em que permite o diálogo entre o tema do conto e as diversas perspectivas da produção literária.
(C) metalinguagem, pois o tratamento que é dado ao tema está a serviço de uma reflexão sobre o próprio fazer literário.
(D) hermetismo, uma vez que o encadeamento de sentidos limita a compreensão da problemática explorada no conto.
(E) paradoxo, porque os pontos de vista expressos no texto estabelecem uma contradição entre os sentidos da criação literária.

QUESTÃO 19 - A literatura se articula à realidade, à história e aos fatos, na medida em que ela cria, e até funda, mundos imaginados. Gonçalves Dias, em I – Juca Pirama, ao criar um passado indígena para a nação brasileira,

(A) configura as personagens do poema a partir de seu convívio com os Timbira.
(B) retrata a história dos índios antes da colonização, ampliando a informação dos livros dos viajantes.
(C) representa o povo Timbira, compondo um mundo entre o real e o ficcional.
(D) recupera princípios da conduta dos Timbira, documentando a imagem cotidiana dessa nação indígena.
(E) reproduz o quadro de costumes dos índios que viviam no Brasil em sua época.

QUESTÃO 20 - No capítulo “6h23” de Mãos de Cavalo, de Daniel Galera, é narrado um sonho de Hermano, no qual ele reencontra pessoas de diferentes épocas de sua vida. Nesse sonho, revela-se

(A) a frustração de Hermano diante da impossibilidade de comunicação com Adri.
(B) a superação das inseguranças pessoais de Hermano.
(C) a prosperidade financeira de Morsa, seu amigo de infância.
(D) o fascínio que ele sente por Renan, seu melhor amigo.

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