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segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

INSPER – Prova de Análise Verbal – 2009 – 1º Semestre

INSPER – Prova de Análise Verbal – 2009 – 1º Semestre


Utilize o texto abaixo para responder aos testes de 1 a 3.

A invasão do politicamente correto

Qual a melhor maneira de se dirigir aos negros, homossexuais e idosos? Como não ofendê-los? Quais palavras usar e quais repudiar? Há dez anos, perguntas como essas dificilmente povoariam a mente dos brasileiros. Hoje, dúvidas assim são comuns. Essa mudança de comportamento, que reflete diretamente em nossa maneira de falar, deve-se ao Movimento do Politicamente Correto. Nascido na militância política pelos direitos civis, nos Estados Unidos, na década de 70, ele ganhou força nas universidades americanas nos anos 80 e desembarcou no Brasil pouco mais de dez anos depois. Prega que alguns termos sejam banidos do vocabulário para evitar manifestações preconceituosas de gênero, idade, raça, orientação sexual, condição física e social. A mania vem sendo incorporada pela sociedade, mas ferve o sangue de intelectuais, escritores e músicos cuja ferramenta de trabalho é justamente a palavra. O professor de linguística da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Bruno Dallare, considera o PC (como é chamado o movimento) autoritário, arbitrário e cerceador. “Ele provoca efeito contrário ao que defende”, diz. “Ao seguir regras, a pessoa perde a naturalidade e se distancia do interlocutor.” Além disso, os termos, em alguns casos, transcendem o bom senso. As expressões “terceira idade” e “melhor idade”, criadas por técnicos da Empresa Brasileira de Turismo (Embratur), para nomear programas de viagem destinados aos idosos, têm como objetivo mascarar a velhice. Trata-se de uma jogada de marketing – o termo, mais positivo que velho, ajudaria a atrair este público. Agora, já há profissionais do setor de turismo utilizando a expressão “suave idade”, como se esta realmente fosse a fase mais suave da vida.
“Não entendo por que ‘velho’ é politicamente incorreto”, diz o escritor Rubem Alves, do alto de seus 77 anos. “Já imaginaram se Ernest Hemingway tivesse dado ao seu livro o nome de O idoso e o mar (o nome é O velho e o mar)?”, questiona. O Ministério do Turismo cunhou “melhor idade” depois que a expressão “terceira idade” foi registrada e eles perderam o direito de utilizá-la. “Não acho o termo bom, mas foi o melhor que encontramos”, diz Maria Flor, do Ministério do Turismo.
As expressões difundidas pelos politicamente corretos estão presentes, principalmente, na militância gay e no movimento negro. A Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT) editou uma cartilha para educadores e outra para comunicadores, em que sugere quais palavras devem ser usadas. Exemplo disso é a troca de “homossexualismo” por “homossexualidade”. O argumento é forte. Em 1996, a Organização Mundial da Saúde (OMS) retirou o homossexualismo da lista de doenças. Por isso, o sufixo “ismo” (que remete a doenças) não teria mais sentido. O movimento negro afirma que eles não querem ser chamados de “neguinho” e “preto”. Preferem afrodescendentes – uma tradução, um pouco torta, do termo usado nos Estados Unidos pelos PCs, afro-americans. Grande parte da linguagem politicamente correta brasileira é inspirada na americana. Mas ela também nasce aqui. “Muitos termos e expressões são criados, mas somente alguns são aceitos pela mídia e passados para a frente”, diz Dallare.
Até mesmo as escolas de ensino infantil são berço dessas manifestações. Há dez anos educadores alteram a letra de canções de roda consagradas. Clássicos como “Atirei o pau no gato”, “O cravo e a rosa” e “Boi da cara preta” foram considerados inadequados. O primeiro, por exemplo, é tido como agressivo e “pouco amigo” dos animais. Os outros dois são tachados, respectivamente, de “desumano” e “racista”. Segundo Claudia Razuk, coordenadora de uma das unidades do Colégio Itatiaia, em São Paulo, o objetivo é, desde cedo, ensinar à criança a maneira correta de agir. “A escola existe para isso”, afirma. Recentemente, a própria educadora mudou a letra de uma canção, que considerava pessimista, para uma versão mais cor-de-rosa.
Em 2005, a Secretaria Especial dos Direitos Humanos, do governo federal, editou a Cartilha do Politicamente Correto. E foi bombardeada de críticas – acusada de cercear a liberdade de expressão e criticada por seus “exageros”. Termos como “peão”, “comunista” e “funcionário público” eram desaconselhados. A obra foi engavetada, mas deixou uma lição. Com o uso de palavras politicamente corretas ou não, o fundamental é ter bom senso.

(Isto é, 5/9/2008)

1. Segundo o texto, é correto afirmar que o autor:

(a) defende que cabe à escola minimizar os preconceitos, ensinando a linguagem politicamente correta.
(b) considera que a linguagem politicamente correta enfraquece a luta contra o racismo e o preconceito.
(c) sugere que o movimento politicamente correto mascara a realidade e torna a linguagem artificial.
(d) contesta a ideia de que o emprego de expressões eufemísticas, como “melhor idade”, tem, na verdade, propósito comercial.
(e) corrobora as ideias dos educadores que alteraram letras de tradicionais canções infantis que propagam a intolerância.

2. Em “... o sufixo ‘ismo’ (que remete a doenças)...”, mostra-se o papel desse elemento na produção de efeitos de sentido. Nas alternativas abaixo, o sufixo “ismo” tem sentido pejorativo, o que confirma o comentário do autor, EXCETO em:

(a) Com o bairrismo entre paulistas e cariocas, o futebol de outros estados sempre ficou de lado e, algumas vezes, tem pouco destaque, principalmente no noticiário.
(b) Cresce a oferta de produtos que contêm componentes que atuam sobre o metabolismo, reduzindo risco de doenças como o câncer.
(c) Fanatismo religioso ou convicções ideológicas rígidas são os vírus mais poderosos da cegueira social.
(d) O técnico apontou como um dos problemas de seu time, na etapa final, o excesso de preciosismo de alguns jogadores.
(e) Depois de mais de meio século de isolacionismo, o Japão mostra que a China não é o país a fazer opções estratégicas que determinarão o futuro da Ásia.

3. Em “...ganhou força nas universidades americanas nos anos 80 e desembarcou no Brasil pouco mais de dez anos depois”, o trecho em destaque é um exemplo da figura de linguagem chamada de

(a) silepse (b) metonímia (c) catacrese (d) sinestesia (e) anáfora

Utilize o texto abaixo para responder aos testes de 4 a 7.
ÁRIES (21 mar. a 20 abr.)

Lunação em signo complementar destaca importância das relações em sua vida nas próximas semanas. Cuide de sua rede social, mostre-se atencioso com as pessoas. Seu sucesso é resultado disso também e agora essa questão tem importância suprema. Cultive o tato.

(Folha de S. Paulo, “Ilustrada”, Astrologia, Barbara Abramo, 29 set. 2008.)

4. Sobre o texto, pode-se afirmar que:

(a) a ausência de subordinação torna o texto mais ágil e mais compreensível para o leitor.
(b) o uso exclusivo de coordenação tende a torná-lo telegráfico.
(c) o uso dos verbos no imperativo impossibilita o emprego da subordinação.
(d) a subordinação nele existente visa a facilitar a ordenação das orações.
(e) o uso do imperativo pode ser substituído pelo futuro do presente.

5. Em “Seu sucesso é resultado disso também e agora essa questão tem importância suprema.”, os termos “disso” e “essa”

(a) referem-se a algo que ainda vai ser explicitado no texto.
(b) referem-se aos termos citados anteriormente no texto, “sua rede social” e “atencioso com as pessoas”.
(c) referem-se a algo que está próximo ao emissor do texto.
(d) poderiam ser substituídos por “aquilo” e “aquela”, sem prejuízo de sentido para o texto.
(e) poderiam ser substituídos por “isto” e “aquilo”, sem prejuízo de sentido para o texto.

6. Se as formas verbais “cuide”, “mostre-se” e “cultive” fossem empregadas na segunda pessoa do singular, teríamos:

(a) cuidas, mostras-te, cultivas.
(b) cuida, mostra-te, cultiva.
(c) cuidai, mostrai-vos, cultivai.
(d) cuida, mostra-se, cultiva.
(e) cuides, mostres-te, cultives.

7. “Lunação”, “atencioso” e “cultivo” surgem pelos mesmos processos de formação de palavras existentes, respectivamente, em:

(a) cidadão, preconceituoso, jantar.
(b) automóvel, inchaço, luta.
(c) rejeição, anoitecer, desgaste.
(d) burocracia, atraso, atenção.
(e) gatinho, cabeçudo, debate.

8. Compare estes períodos:
I – Os investidores que temiam ser vítimas da crise global financeira abandonaram o
mercado de ações.
II – Os investidores, que temiam ser vítimas da crise global financeira, abandonaram o mercado de ações.
A respeito do emprego de vírgulas, é correto afirmar:

(a) Em I, a ausência de vírgulas cria o pressuposto de que ainda há pessoas investindo na Bolsa de Valores.
(b) Em II, a presença de vírgulas indica que somente alguns investidores temiam ser vítimas da crise financeira.
(c) A análise dos períodos permite afirmar que as vírgulas têm apenas a função de demarcar pausas na leitura.
(d) Em I, subentende-se que todos os investidores deixaram de aplicar seu dinheiro no mercado de ações.
(e) Em II, as vírgulas foram usadas para destacar a ideia de restrição, presente na oração subordinada adjetiva.

9. Da leitura da tira é possível depreender que
_
(Nani, Vereda Tropical, Editora Record)

(a) considerando-se a regência do verbo “combater”, pode-se constatar que, na verdade, não é possível empregar a crase.
(b) há, na última fala, a clara intenção de apresentar um jogo de palavras, fazendo um trocadilho com as palavras “crase” e “crise”.
(c) não ocorrerá crase apenas se o verbo “combater” for empregado como intransitivo, ou seja, se ele não exigir complemento verbal.
(d) haverá crase se a “sombra” representar o modo como será combatido, isto é, com função de adjunto adverbial.
(e) a última fala é uma explicação de que, nesse caso, a crase é facultativa, preservando-se o mesmo sentido.

10. A leitura da charge permite inferir que:

(Luís Fernando Veríssimo, O Estado de São Paulo, 27/07/2008)

(a) Na fala do avô, está implícita a idéia de que ele admite seu completo desconhecimento da área jurídica.
(b) O avô tenta disfarçar, por meio de suas respostas, seu desconhecimento sobre a origem etimológica da expressão “habeas corpus”.
(c) A resposta deixa pressuposta a idéia de que, na opinião do avô, o assunto em questão não deveria ser do interesse de uma criança.
(d) A fala do avô deve ser compreendida como uma crítica explícita aos políticos de modo geral.
(e) O comentário do avô, no segundo quadrinho, contém uma crítica às iniqüidades permitidas pelo judiciário.

11. Analise o emprego do verbo “fazer” nos excertos a seguir:
I - Seria excessivo dizer que hoje já não se fazem bons filmes, mas não é excessivo dizer que já não se fazem filmes como antigamente.

(Boris Fausto, Folha de São Paulo, 28 de maio de 2006)
II – “Eu tinha apenas dezessete anos
No dia em que saí de casa
E não fazem mais de quatro semanas que eu estou na estrada”
(Primeira canção da estrada, Sá e Guarabyra).

III - Uma coisa é patente: não fazem mais espelhos como antigamente.

Indique V (verdadeiro) ou F (falso) em cada uma das alternativas a seguir:

( ) Nos três excertos, o sujeito de “fazem” tem a mesma classificação: é indeterminado.
( ) Em I, o verbo “fazer” está na voz passiva sintética, e o sujeito é simples.
( ) Em I, ocorre uma falha de concordância verbal, uma vez que o índice de indeterminação do sujeito “se” exige verbo no singular.
( ) Em II, ocorre oração sem sujeito, por isso, o verbo não poderia ser flexionado no plural.
( ) Em III, seria obrigatória a inclusão do índice de indeterminação do sujeito.

A sequência correta é:

(a) V – F – V – F – V
(b) F – F – V – V – F
(c) F – V – F – V – F
(d) V – F – V – F – F
(e) F – V – F – V – V

Utilize o texto abaixo para responder aos testes de 12 a 14.

O enfermeiro

Resmungou ainda muito tempo. Às onze horas passou pelo sono. Enquanto ele dormia, saquei um livro do bolso, um velho romance de d'Arlincourt, traduzido, que lá achei, e pus-me a lê-lo, no mesmo quarto, a pequena distância da cama; tinha de acordá-lo à meia-noite para lhe dar o remédio. Ou fosse de cansaço, ou do livro, antes de chegar ao fim da segunda página adormeci também. Acordei aos gritos do coronel, e levantei-me estremunhado. Ele, que parecia delirar, continuou nos mesmos gritos, e acabou por lançar mão da moringa e arremessá-la contra mim. Não tive tempo de desviar-me; a moringa bateu-me na face esquerda, e tal foi a dor que não vi mais nada; atirei-me ao doente, pus-lhe as mãos ao pescoço, lutamos, e esganei-o. Quando percebi que o doente expirava, recuei aterrado, e dei um grito; mas ninguém me ouviu. Voltei à cama, agitei-o para chamá-lo à vida, era tarde; arrebentara o aneurisma, e o coronel morreu. Passei à sala contígua, e durante duas horas não ousei voltar ao quarto. Não posso mesmo dizer tudo o que passei, durante esse tempo. Era um atordoamento, um delírio vago e estúpido. Parecia-me que as paredes tinham vultos; escutava umas vozes surdas. Os gritos da vítima, antes da luta e durante a luta, continuavam a repercutir dentro de mim, e o ar, para onde quer que me voltasse, aparecia recortado de convulsões. Não creia que esteja fazendo imagens nem estilo; digo-lhe que eu ouvia distintamente umas vozes que me bradavam: assassino! assassino!
(...)
Antes do alvorecer curei a contusão da face. Só então ousei voltar ao quarto. Recuei duas vezes, mas era preciso e entrei; ainda assim, não cheguei logo à cama. Tremiam-me as pernas, o coração batia-me; cheguei a pensar na fuga; mas era confessar o crime, e, ao contrário, urgia fazer desaparecer os vestígios dele. Fui até a cama; vi o cadáver, com os olhos arregalados e a boca aberta, como deixando passar a eterna palavra dos séculos: "Caim, que fizeste de teu irmão?" Vi no pescoço o sinal das minhas unhas; abotoei alto a camisa e cheguei ao queixo a ponta do lençol. Em seguida, chamei um escravo, disse-lhe que o coronel amanhecera morto; mandei recado ao vigário e ao médico.
A primeira ideia foi retirar-me logo cedo, a pretexto de ter meu irmão doente, e, na verdade, recebera carta dele, alguns dias antes, dizendo-me que se sentia mal. Mas adverti que a retirada imediata poderia fazer despertar suspeitas, e fiquei. Eu mesmo amortalhei o cadáver, com o auxílio de um preto velho e míope. Não saí da sala mortuária; tinha medo de que descobrissem alguma coisa. Queria ver no rosto dos outros se desconfiavam; mas não ousava fitar ninguém.

(Machado de Assis, Contos)

12. A respeito do fragmento desse clássico conto de Machado de Assis, assinale a alternativa correta.

(a) Notam-se as características marcantes das obras naturalistas, em que são comuns personagens dominados pelos instintos.
(b) Assim como em “D. Casmurro”, o narrador-personagem deixa-se conduzir por impulsos que infringem a moral e a ética.
(c) Nesse conto, Machado de Assis recorre aos clichês do Romantismo ao abordar temas como a morte e a loucura.
(d) Exploram-se, nessa narrativa, os limites entre a realidade e a imaginação, o ser e o parecer.
(e) O narrador constrói seu relato a partir de uma série de dubiedades e variações de ponto de vista que colocam em xeque a sua própria identidade.

13. No quarto parágrafo, a frase “Caim, que fizeste de teu irmão?”, revela que o enfermeiro

(a) é um homem religioso e logo inicia os rituais funerários, pois teme que o coronel
não “descanse em paz”.
(b) considerava seu paciente como um irmão, dedicando-se a ele, apesar da fatalidade da morte ocorrida.
(c) relaciona o episódio narrado com a passagem bíblica para atribuir a culpa ao coronel.
(d) fica enlouquecido e, em seu delírio, pensa estar diante de Deus, no juízo final.
(e) é dominado pelo drama de consciência e pelo medo de ser descoberto e punido pelo
crime.

14. Leia as afirmações abaixo e identifique a(s) correta(s), de acordo com o texto.

I – Em “Tremiam-me as pernas”, ocorre ênclise porque, segundo a norma culta, não se iniciam frases com pronome oblíquo átono.
II – No trecho “... urgia fazer desaparecer os vestígios dele.”, o pronome destacado refere-se ao cadáver.
III – Em “Queria ver no rosto dos outros se desconfiavam”, o “se” é um pronome reflexivo.

(a) Apenas I. (b) Apenas II. (c) Apenas III. (d) I e II. (e) I e III.

Utilize o texto abaixo para responder ao teste 15.

Esperança

Lá bem no alto do décimo segundo andar do Ano
Vive uma louca chamada Esperança
E ela pensa que quando todas as sirenas
Todas as buzinas
Todos os reco-recos tocarem
Atira-se
E
— ó delicioso vôo!
Ela será encontrada miraculosamente incólume na
calçada,
Outra vez criança...
E em torno dela indagará o povo:
— Como é teu nome, meninazinha de olhos verdes?
E ela lhes dirá
(É preciso dizer-lhes tudo de novo!)
Ela lhes dirá bem devagarinho, para que não
esqueçam:
— O meu nome é ES-PE-RAN-ÇA...

(Quintana, Mário. Nova Antologia Poética. São Paulo: Globo, 1998, p. 118.)

15. Na passagem “É preciso dizer-lhes tudo de novo!”, a oração em negrito exerce a mesma função sintática que

(a) “E ela pensa que (...) Atira-se...”
(b) “Vive uma louca chamada Esperança...”
(c) “Ela será encontrada miraculosamente incólume na calçada...”
(d) “Ela lhes dirá bem devagarinho...”
(e) “O meu nome é ES-PE-RAN-ÇA...”


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quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

DICAS RÁPIDAS 2 - ASTERISCO OU ASTERÍSTICO?

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Texto: “13 de dezembro” – Carlos Heitor Cony

13 de dezembro

Passei de carro pela Esplanada e vi a multidão. Estranhei aquilo. O motorista me lembrou: ""Hoje é 13 de dezembro, Dia de Santa Luzia. A igreja dela está cheia, ela protege os olhos da gente".
Agradeci a informação, mas fiquei inquieto. Bolas, o 13 de dezembro tinha alguma coisa a ver comigo e nada com santa Luzia e sua eficácia nas doenças que ainda não tenho. O que seria?
Aniversário de um amigo? Uma data inconfessável, que tivesse marcado um relacionamento para o bom ou para o pior? 
Não lembrava de nada de importante naquele dia, mas ele piscava dentro de mim. E as horas se passaram iluminadas pelo intermitente piscar da luzinha vermelha dentro de mim. 13 de dezembro! Preciso tomar um desses tonificantes da memória, vivo em parte dela e não posso ter brancos assim, um dia importante e não me lembro por quê. 
Somente à noite, quando não era mais 13 de dezembro, ao fechar o livro que estava lendo, de repente a luz parou de piscar e iluminou com nitidez a cena noturna: eu chegando no prédio em que morava, no Leme, a Kombi que saiu dos fundos da garagem, o homem que se aproximou e me avisou que o comandante do 1º Exército queria falar comigo.
Eram 11 horas da noite, estranhei aquele convite, nada tinha a falar com o general Sarmento e não acreditava que ele tivesse alguma coisa a falar comigo.
Mas o homem insistiu. E outro homem que saíra da Kombi já entrava dentro do meu carro, com uma pequena metralhadora. Naquela mesma hora, a mesma cena se repetia pelo Brasil afora, o governo baixara o AI-5, eu nem ouvira o decreto lido no rádio. Num motel da Barra, eu estivera à toa na vida, e meu amor me chamara e eu não vira a banda passar.
Tantos anos depois, ninguém me chama nem me convida para falar com o comandante do 1º Exército. O país talvez tenha melhorado, mas eu certamente piorei.

(Carlos Heitor Cony, Folha de S. Paulo, 16/12/2001)

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