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terça-feira, 25 de abril de 2017

UNIFESP 2015 – PROVA DE LÍNGUA PORTUGUESA

Prova de língua portuguesa – Unifesp 2015



QUESTÃO 01
Considerando-se a situação de comunicação entre Garfield e seu dono, a frase, em linguagem coloquial, que preenche o balão do último quadrinho é:

(A) Tenho de saboreá-lo bem?            
(B) Devo saborear a ele muito bem?
(C) Convém que eu o saboreie bem?   
(D) Saboreá-lo-ei muito bem? 
(E) Eu tenho de saborear bem ele?

Leia o texto para responder às questões de números 02 a 04.

A palavra falada é um fenômeno natural; a palavra escrita é um fenômeno cultural. O homem natural pode viver perfeitamente sem ler nem escrever. Não o pode o
homem a que chamamos civilizado: por isso, como disse, a palavra escrita é um fenômeno cultural, não da natureza mas da civilização, da qual a cultura é a essência e o
esteio.
Pertencendo, pois, a mundos (mentais) essencialmente diferentes, os dois tipos de palavra obedecem forçosamente a leis ou regras essencialmente diferentes. A palavra falada é um caso, por assim dizer, democrático. Ao falar, temos que obedecer à lei do maior número, sob pena de ou não sermos compreendidos ou sermos inutilmente ridículos. Se a maioria pronuncia mal uma palavra, temos que a pronunciar mal. Se a maioria usa de uma construção gramatical errada, da mesma construção teremos que usar. Se a maioria caiu em usar estrangeirismos ou outras irregularidades verbais, assim temos que fazer. Os termos ou expressões que na linguagem escrita são justos, e até obrigatórios, tornam-se em estupidez e pedantaria, se deles fazemos uso no trato verbal. Tornam-se até em má-criação, pois o preceito fundamental da civilidade é que nos conformemos o mais possível com as maneiras, os hábitos, e a educação da pessoa com quem falamos, ainda que nisso faltemos às boas maneiras ou à etiqueta, que são a cultura exterior.

(Fernando Pessoa. A língua portuguesa, 1999. Adaptado.)

QUESTÃO 02 - Em sua argumentação, o autor estabelece que

(A) a palavra escrita se espelha na palavra falada. Dessa forma, a boa comunicação implica reconhecer que fala e escrita são de mesma natureza.
(B) as diferenças entre fala e escrita são muitas. Dessa forma, a boa comunicação está relacionada ao valor cultural da linguagem.
(C) o fenômeno cultural está contido no natural. Dessa forma, a boa comunicação diz respeito ao uso que cada pessoa faz, de acordo com as necessidades cotidianas.
(D) os fenômenos naturais precedem os culturais. Dessa forma, a boa comunicação depende de ajustar aqueles às especificidades destes.
(E) fala e escrita são domínios distintos. Dessa forma, a boa comunicação implica conhecer e empregar os recursos específicos de cada um deles.

QUESTÃO 03 - De acordo com o autor, “ao falar, temos que obedecer à lei do maior número”. Atendendo a esse princípio, para o português oral contemporâneo, está adequado o enunciado:

(A) Olvidei-me de trazer seu livro. Assistia a um filme deveras interessante. Você não se sente chateado por isso, não é mesmo?
(B) Caso assistisse a um filme e esquecesse teu livro... Sentir-te-ias magoado com esse meu comportamento?
(C) Cara, @#$&*...! Demorô!!! O fdm nem tchum... E pá... - E o livro... Nem... - Que m***a!!!
(D) Me esqueci de trazer seu livro, porque fiquei assistindo um filme. Cê não tá chateado por causa disso, né?
(E) Nóis ia lê o livro na aula, mais fiquei veno TV, sistino um firme e isquici dele. Ocê tá chateado cumigu não né?

QUESTÃO 04 - Assinale a alternativa cujo enunciado atende à norma-padrão da língua portuguesa.

(A) Durante a leitura do livro, surgiram várias dúvidas. O enredo e a temática abordada, que causou muita polêmica, mostraram a atualidade da obra. Vislumbraram-se vieses interessantes na construção das personagens.
(B) Durante a leitura do livro, ficou várias dúvidas. O enredo e a temática abordados, que causou muita polêmica, mostrou a atualidade da obra. Vislumbrou-se vieses interessantes na construção das personagens.
(C) Durante a leitura do livro, houve várias dúvidas. O enredo e a temática abordada, que causou muita polêmica, mostraram a atualidade da obra. Vislumbrou-se vieses interessantes na construção das personagens.
(D) Durante a leitura do livro, ficaram várias dúvidas. O enredo e a temática abordados, que causou muita polêmica, mostraram a atualidade da obra. Vislumbrou-se vieses interessantes na construção das personagens.
(E) Durante a leitura do livro, houveram várias dúvidas. O enredo e a temática abordada, que causou muita polêmica, mostrou a atualidade da obra. Vislumbraram-se vieses interessantes na construção das personagens.

QUESTÃO 05 - Leia o poema de Ricardo Reis, heterônimo de Fernando Pessoa.

Coroai-me de rosas,
Coroai-me em verdade
De rosas –
Rosas que se apagam
Em fronte a apagar-se
Tão cedo!
Coroai-me de rosas
E de folhas breves.
E basta.

(As múltiplas faces de Fernando Pessoa, 1995.)

O tema tratado no poema é a

(A) necessidade de se buscar a verdadeira razão para uma vida plena.
(B) fugacidade do tempo, remetendo à ideia de brevidade da vida.
(C) busca pela simplicidade da vida, representada pela natureza.
(D) brevidade com que o verdadeiro amor perpassa a vida das pessoas.
(E) rapidez com que as relações verdadeiras começam e terminam.

QUESTÃO 06 - É preciso ler esse livro singular sem a obsessão de enquadrá-lo em um determinado gênero literário, o que implicaria em prejuízo paralisante. Ao contrário, a abertura a mais de uma perspectiva é o modo próprio de enfrentá-lo. A descrição minuciosa da terra, do homem e da luta situa-o no nível da cultura científica e histórica. Seu autor fez geografia humana e sociologia como um espírito atilado poderia fazê-las no começo do século, em nosso meio intelectual, então avesso à observação demorada e à pesquisa pura. Situando a obra na evolução do pensamento brasileiro, diz lucidamente o crítico Antonio Candido: “Livro posto entre a literatura e a sociologia naturalista, esta obra assinala um fim e um começo: o fim do imperialismo literário, o começo da análise científica aplicada aos aspectos mais importantes da sociedade brasileira (no caso, as contradições contidas na diferença de cultura entre as regiões litorâneas e o interior).”

(Alfredo Bosi. História concisa da literatura brasileira, 1994. Adaptado.)

O excerto trata da obra

(A) Capitães da areia, de Jorge Amado.
(B) O cortiço, de Aluísio de Azevedo.
(C) Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa.
(D) Vidas secas, de Graciliano Ramos.
(E) Os sertões, de Euclides da Cunha.

Leia o poema para responder às questões de números 07 a 09.

Mau despertar
Saio do sono como
de uma batalha
travada em
lugar algum
Não sei na madrugada
se estou ferido
se o corpo
tenho
riscado
de hematomas
Zonzo lavo
na pia
os olhos donde
ainda escorrem
uns restos de treva

(Ferreira Gullar. Muitas vozes, 2013.)

QUESTÃO 07 - A leitura do poema permite inferir que

(A) o despertar do eu lírico apaga as más lembranças da madrugada.
(B) a noite é problema para o eu lírico, perturbado mais física que mentalmente.
(C) o eu lírico atribui o seu mau despertar a uma noite de difícil sono.
(D) o eu lírico encontra na noite difícil uma forma de enfrentar seus medos.
(E) o mau despertar acentua as feridas e as dores que perturbam o eu lírico.

QUESTÃO 08 - Analisando-se as três estrofes do poema, atribui-se a cada uma os seguintes sentidos, respectivamente,

(A) a lembrança do sono – as consequências do mau sono – a libertação da noite mal dormida.
(B) a consciência do despertar – as hipóteses acerca do sono – a tentativa de se restaurar.
(C) a expectativa com o despertar – a certeza da noite mal dormida – a certeza de um dia ruim.
(D) a causa do sono conturbado – a possibilidade de recuperação – a ansiedade pela melhora.
(E) a renovação ao despertar – a possibilidade de enfrentar o mau sono – a busca por um dia melhor.

QUESTÃO 09 - Assinale a alternativa em que a reescrita dos versos altera o sentido original do texto.

(A) “Não sei na madrugada / se estou ferido” não sei se ferido estou na madrugada
(B) “se o corpo / tenho / riscado / de hematomas” se de hematomas tenho o corpo riscado
(C) “ainda escorrem / uns restos de treva” uns restos de treva escorrem ainda
(D) “travada em / lugar algum” travada em algum lugar
(E) “Saio do sono como / de uma batalha” do sono saio como de uma batalha

QUESTÃO 10
Ciência explica ____________.

Testes mostram que ______________ de Leonardo da Vinci está sumindo.

(www.uol.com.br, 05.06.2014. Adaptado.)

Em conformidade com a norma-padrão da língua portuguesae com o Novo Acordo Ortográfico, as lacunas do texto devem ser preenchidas, respectivamente, com:

(A) por que – auto-retrato.
(B) porque – auto-retrato.
(C) porquê – autorretrato.
(D) por que – auto retrato.
(E) por quê – autorretrato.

Leia o texto para responder às questões de números 11 a 15.

Você conseguiria ficar 99 dias sem o Facebook?
Uma organização não governamental holandesa está propondo um desafio que muitos poderão considerar impossível: ficar 99 dias sem dar nem uma “olhadinha” no Facebook. O objetivo é medir o grau de felicidade dos usuários longe da rede social.
O projeto também é uma resposta aos experimentos psicológicos realizados pelo próprio Facebook. A diferença neste caso é que o teste é completamente voluntário. Ironicamente, para poder participar, o usuário deve trocar a foto do perfil no Facebook e postar um contador na rede social.
Os pesquisadores irão avaliar o grau de satisfação e felicidade dos participantes no 33.º dia, no 66.º e no último dia da abstinência.
Os responsáveis apontam que os usuários do Facebook gastam em média 17 minutos por dia na rede social. Em 99 dias sem acesso, a soma média seria equivalente
a mais de 28 horas, que poderiam ser utilizadas em “atividades emocionalmente mais realizadoras”.

(http://codigofonte.uol.com.br. Adaptado.)

QUESTÃO 11 - De acordo com os pressupostos da campanha holandesa, o usuário do Facebook

(A) supera as suas barreiras emocionais na rede social e garante uma existência com mais felicidade.
(B) vivencia experiências únicas na rede social e a tem como forma de ser mais equilibrado emocionalmente.
(C) gasta tempo na rede social e deixa de se dedicar a momentos mais significativos em sua vida.
(D) emprega o seu tempo na rede social para trabalhar a emoção e entender melhor suas questões de vida.
(E) dedica um tempo exíguo à rede social e tem pouca motivação para atividades mais realizadoras.

QUESTÃO 12 - Uma informação possível de se concluir da leitura do texto é:

(A) O Facebook realizou experimentos psicológicos sem o consentimento de seus usuários.
(B) Os usuários do Facebook sentem-se mais felizes quando não acessam a rede social.
(C) Os estudos da ONG holandesa têm o propósito de criar uma nova rede social.
(D) O tempo gasto na rede social potencializou perturbações psicológicas em seus usuários.
(E) O grau de satisfação e felicidade de uma pessoa independe de seu estado emocional.

QUESTÃO 13 - Examine as passagens do primeiro parágrafo do texto:
Uma organização não governamental holandesa está propondo um desafio”
“O objetivo é medir o grau de felicidade dos usuários longe da rede social.”
A utilização dos artigos destacados justifica-se em razão

(A) da retomada de informações que podem ser facilmente depreendidas pelo contexto, sendo ambas equivalentes semanticamente.
(B) de informações conhecidas, nas duas ocorrências, sendo possível a troca dos artigos nos enunciados, pois isso não alteraria o sentido do texto.
(C) da generalização, no primeiro caso, com a introdução de informação conhecida, e da especificação, no segundo, com informação nova.
(D) da introdução de uma informação nova, no primeiro caso, e da retomada de uma informação já conhecida, no segundo.
(E) de informações novas, nas duas ocorrências, motivo pelo qual são introduzidas de forma mais generalizada.

Considere os enunciados a seguir para responder às questões de números 14 e 15.

[...] ficar 99 dias sem dar nem uma “olhadinha” no Facebook. (1.º parágrafo)
[...] que poderiam ser utilizadas em “atividades emocionalmente mais realizadoras”. (4.º parágrafo)

QUESTÃO 14 - Nos dois trechos, utilizam-se as aspas, respectivamente, para

(A) indicar o sentido metafórico e marcar a fala coloquial.
(B) enfatizar o discurso direto e marcar uma citação.
(C) marcar o sentido pejorativo e enfatizar o sentido metafórico.
(D) assinalar a ironia e indicar a fala de uma pessoa.
(E) realçar o sentido do substantivo e indicar uma transcrição.


QUESTÃO 15 - Analisando-se o emprego e a estrutura das palavras “olhadinha” e “emocionalmente”, é correto afirmar que os sufixos nelas presentes indicam, respectivamente,  sentido de

(A) morosidade e intensidade.   (B) modo e consequência.
(C) rapidez e modo.                   (D) intensidade e causa.       (E) afeto e tempo.

QUESTÃO 16 - Analise a capa de um folder de uma campanha de trânsito.

Explicitando-se os complementos dos verbos em “Eu cuido, eu respeito.”, obtém-se, em conformidade com a norma-padrão da língua portuguesa:

(A) Eu a cuido, eu respeito-lhe.
(B) Eu cuido dela, eu lhe respeito.
(C) Eu cuido dela, eu a respeito.
(D) Eu lhe cuido e respeito.
(E) Eu cuido e respeito-a.



Leia o texto para responder às questões de números 17 a 21.

Cumpridos dez anos de prisão por um crime que não pratiquei e do qual, entanto, nunca me defendi, morto para a vida e para os sonhos: nada podendo já esperar e coisa alguma desejando – eu venho fazer enfim a minha confissão: isto é, demonstrar a minha inocência.
Talvez não me acreditem. Decerto que não me acreditam. Mas pouco importa. O meu interesse hoje em gritar que não assassinei Ricardo de Loureiro é nulo. Não tenho família; não preciso que me reabilitem. Mesmo quem esteve dez anos preso, nunca se reabilita. A verdade simples é esta.
E àqueles que, lendo o que fica exposto, me perguntarem: “Mas por que não fez a sua confissão quando era tempo? Por que não demonstrou a sua inocência ao tribunal?”, a esses responderei: – A minha defesa era impossível. Ninguém me acreditaria. E fora inútil fazer-me passar por um embusteiro ou por um doido… Demais, devo confessar, após os acontecimentos em que me vira envolvido nessa época, ficara tão despedaçado que a prisão se me afigurava uma coisa sorridente. Era o esquecimento, a tranquilidade, o sono. Era um fim como qualquer outro – um termo para a minha vida devastada. Toda a minha ânsia foi pois de ver o processo terminado e começar cumprindo a minha sentença.
De resto, o meu processo foi rápido. Oh! o caso parecia bem claro… Eu nem negava nem confessava. Mas quem cala consente… E todas as simpatias estavam do meu lado.
O crime era, como devem ter dito os jornais do tempo, um “crime passional”. Cherchez la femme*. Depois, a vítima um poeta – um artista. A mulher romantizara-se desaparecendo. Eu era um herói, no fim de contas. E um herói com seus laivos de mistério, o que mais me aureolava. Por tudo isso, independentemente do belo discurso de defesa, o júri concedeu-me circunstâncias atenuantes. E a minha pena foi curta. 
Ah! foi bem curta – sobretudo para mim… Esses dez anos esvoaram-se-me como dez meses. É que, em realidade, as horas não podem mais ter ação sobre aqueles que viveram um instante que focou toda a sua vida. Atingido o sofrimento máximo, nada já nos faz sofrer. Vibradas as sensações máximas, nada já nos fará oscilar. Simplesmente, este momento culminante raras são as criaturas que o vivem. As que o viveram ou são, como eu, os mortos-vivos, ou – apenas – os desencantados que, muita vez, acabam no suicídio.

* Cherchez la femme: Procurem a mulher.

(Mário de Sá-Carneiro. A confissão de Lúcio, 2011.)

QUESTÃO 17 - No texto, o narrador sugere que tinha sido condenado por um crime

(A) praticado pelo poeta, de quem tomou a responsabilidade para que este pudesse fugir com a mulher amada, isento de culpa.
(B) motivado por questões amorosas, sobre o qual não emitiu um posicionamento claro que negasse ou confirmasse a sua culpa.
(C) ocorrido acidentalmente, fruto da percepção equivocada de que o poeta estaria em um romance proibido com a sua mulher.
(D) praticado pela esposa do artista, a quem acreditava que deveria recair a pena, mas não dispunha de provas suficientes para poder incriminá-la.
(E) marcado pelo mistério, que teve como vítimas o poeta e a mulher, e que contou com uma defesa confusa e permeada de inconsistências.

QUESTÃO 18 - No primeiro parágrafo, afirma-se: eu venho fazer enfim a minha confissão. Tal confissão se materializa textualmente em

(A) uma argumentação confusa, com oscilação dos tempos verbais entre presente, passado e futuro, relacionados a situações da vida do narrador.
(B) uma narrativa objetiva, com predomínio de verbos nos tempos passado e presente, relacionados a situações conhecidas do narrador.
(C) uma narrativa subjetiva, com predomínio de verbos no tempo passado, relacionados a situações das quais participara o narrador.
(D) uma argumentação racional, com predomínio de verbos no tempo presente, relacionados a situações analisadas pelo narrador.
(E) uma descrição pessoal, com predomínio de verbos no tempo presente, relacionados a situações que marcaram a existência do narrador.

QUESTÃO 19 - Segundo o narrador afirma, a prisão lhe serviria para

(A) amenizar os transtornos pessoais que arruinaram a sua existência.
(B) mostrar a todos que estava sendo injustiçado e que deveriam rever o caso.
(C) coroar a sua existência de erros e desacertos, impossível de ser recomposta.
(D) reverter a seu favor a simpatia do júri e ter um novo julgamento em breve.
(E) colocá-lo em equilíbrio com a justiça dos homens e a justiça divina.

QUESTÃO 20 - Observe as passagens do texto:
Decerto que não me acreditam.” (2.º parágrafo)
“E um herói com seus laivos de mistério” (5.º parágrafo)
“nada já nos fará oscilar.” (6.º parágrafo)
No contexto em que estão empregados, os termos em destaque significam, respectivamente,

(A) ocasionalmente – vestígios – transformar.
(B) possivelmente – marcas – afastar.
(C) eventualmente – características – mudar.
(D) imperiosamente – tipos – descobrir.
(E) certamente – indícios – variar.

QUESTÃO 21 - Quando se quer chamar atenção para o Objeto Direto que precede o verbo, costuma-se repeti-lo. É o que se chama Objeto Direto Pleonástico, em cuja constituição entra sempre um pronome pessoal átono.

(Celso Cunha e Lindley Cintra. Nova gramática do português contemporâneo, 2000.)

Verifica-se a ocorrência de objeto direto pleonástico em:

(A) “As que o viveram ou são, como eu, os mortos-vivos, ou – apenas – os desencantados
(B) “Esses dez anos esvoaram-se-me como dez meses.”
(C) “Por tudo isso, independentemente do belo discurso de defesa, o júri concedeu-me circunstâncias atenuantes.”
(D) “Simplesmente, este momento culminante raras são as criaturas que o vivem.”
(E) “Atingido o sofrimento máximo, nada já nos faz sofrer.”

Para responder às questões de números 22 a 24, leia as opiniões em relação ao projeto de adaptação que visa facilitar obras de Machado de Assis.

Texto 1 - Isso é um assassinato e eu endosso. A autora [da adaptação] quer que a Academia se manifeste. Para ela, vai ser a glória. Mas vários acadêmicos se manifestaram. Eu me manifestei. Há temas em que a instituição não pode se baratear. Essa mulher quer que nós tenhamos essa discussão como se ela estivesse propondo a ressurreição eterna de Machado de Assis, como se ele dependesse dela. Confio na vigilância da sociedade. Vamos para a rua protestar.


Texto 2 - É melhor que o sujeito comece a ler através de uma adaptação bem feita de um clássico do que seja obrigado a ler um texto ilegível e incompreensível segundo a linguagem e os parâmetros culturais atuais. Depois que leu a adaptação, ele pode pegar o gosto, entrar no processo de leitura e eventualmente se interessar por ler o Machadão no original. Agora, dar uma machadada em um moleque que tem PS3, Xbox, 1000 canais a cabo e toda a internet à disposição é simplesmente burrice.


Texto 3 - Não defenderia, jamais, que Secco [autora da adaptação] fosse impedida de realizar seu projeto, mas não me parece que a proposta devesse merecer apoio do Ministério da Cultura e ser realizada com a ajuda de leis que, afinal, transferem impostos para a cultura. Trata-se, na melhor das hipóteses, de ingenuidade; na pior, de excesso de “sagacidade”. Não será a adulteração de obras, para torná-las supostamente mais legíveis por ignorantes, que irá resolver o problema do acesso a textos literários históricos – mesmo porque, adulterados, já terão deixado de ser o que eram.

(Marcos Augusto Gonçalves. http://www.folha.uol.com.br)

QUESTÃO 22 - Em relação à questão da facilitação das obras machadianas, a leitura comparativa dos textos deixa claro que eles

(A) mantêm alguns pontos de concordância, havendo em 3 uma clara evidência de que se deve coibir essa iniciativa.
(B) externam uma visão bastante romantizada, o que se pode confirmar com a defesa que 2 faz do alcance do projeto.
(C) expressam o mesmo ponto de vista, o que pode ser confirmado em 3 pela anuência ao apoio do Ministério da Cultura.
(D) divergem quanto ao apoio financeiro, defendido claramente em 2, velado em 3 e negado veementemente em 1.
(E) apresentam posicionamentos diferentes, sendo que 1 expressa sua ideia de contrariedade de forma bastante radical.

QUESTÃO 23 - Examine os enunciados:
“Vamos para a rua protestar.” (Texto 1)
“Não será a adulteração de obras, para torná-las supostamente mais legíveis por ignorantes” (Texto 3)
O termo “para”, em destaque nos enunciados, expressa, respectivamente, sentido de

(A) movimento e finalidade.  
(B) modo e conformidade.
(C) tempo e comparação.     
(D) movimento e comparação.
(E) conformidade e finalidade.

QUESTÃO 24 - Examine a passagem do texto 2:
“e eventualmente se interessar por ler o Machadão no original. Agora, dar uma machadada em um moleque”
Os dois termos em destaque, derivados por sufixação, reportam a Machado de Assis. Tal recurso atribui aos substantivos, respectivamente, sentido de

(A) pejo e intimidade.      (B) ironia e simpatia.
(C) humor e reverência.   (D) simpatia e ironia.     (E) tamanho e humor.

QUESTÃO 25 - O crítico Massaud Moisés assinala o filosofismo como uma das características de Memórias póstumas de Brás Cubas, romance que inaugura a produção madura de Machado de Assis. Tal filosofismo pode ser identificado na passagem:

(A) “O fundador da minha família foi um certo Damião Cubas, que floresceu na primeira metade do século XVIII. Era tanoeiro de ofício, natural do Rio de Janeiro, onde teria morrido na penúria e na obscuridade, se somente exercesse a tanoaria.”
(B) “Entre o queijo e o café, demonstrou-me Quincas Borba que o seu sistema era a destruição da dor. A dor, segundo o Humanitismo, é uma pura ilusão. Quando a criança é ameaçada por um pau, antes mesmo de ter sido espancada, fecha os olhos e treme; essa predisposição, é que constitui a base da ilusão humana, herdada e transmitida.”
(C) “Dito isto, expirei às duas horas da tarde de uma sexta-feira do mês de agosto de 1869, na minha bela chácara de Catumbi. Tinha uns sessenta e quatro anos, rijos e prósperos, era solteiro, possuía cerca de trezentos contos e fui acompanhado ao cemitério por onze amigos.”
(D) “Não houve nada, mas ele suspeita alguma coisa; está muito sério e não fala; agora saiu. Sorriu uma vez somente, para Nhonhô, depois de o fitar muito tempo, carrancudo. Não me tratou mal nem bem. Não sei o que vai acontecer; Deus queira que isto passe. Muita cautela, por ora, muita cautela.”
(E) “Por exemplo, um dia quebrei a cabeça de uma escrava, porque me negara uma colher do doce de coco que estava fazendo, e, não contente com o malefício, deitei um punhado de cinza ao tacho, e, não satisfeito da travessura, fui dizer à minha mãe que a escrava é que estragara o doce ‘por pirraça’; e eu tinha apenas seis anos.”

QUESTÃO 26 - “A pessoa é presa por pirataria – e aí a cadeia mostra filmes piratas?”, denunciou o americano Richard Humprey, condenado a 29 meses de prisão por distribuir conteúdo pirateado na internet. O presídio onde ele está, em Ohio, foi pego exibindo uma cópia ilegal do filme O lobo de Wall Street. (Superinteressante, julho de 2014.)

A fala do condenado revela

(A) a sua deliberação pessoal para pagar pelas contravenções e lutar contra a pirataria em todos os setores.
(B) a sua vontade de livrar-se da contravenção, o que se torna impossível a ele com a pirataria na prisão.
(C) o seu desencanto com a vida do crime, já que até mesmo na cadeia é obrigado a conviver com a pirataria.
(D) o seu inconformismo com a contradição entre o que se prega como certo e o que se pratica, no caso da pirataria.
(E) a falta de critérios mais específicos para condenar uma pessoa por piratear conteúdos livres da internet.

Leia o trecho do conto “O mandarim”, de Eça de Queirós, para responder às questões de números 27 a 29.

Então começou a minha vida de milionário. Deixei bem depressa a casa de Madame Marques – que, desde que me sabia rico, me tratava todos os dias a arroz-doce, e ela mesma me servia, com o seu vestido de seda dos domingos. Comprei, habitei o palacete amarelo, ao Loreto: as magnificências da minha instalação são bem conhecidas pelas gravuras indiscretas da Ilustração Francesa. Tornou-se famoso na Europa o meu leito, de um gosto exuberante e bárbaro, com a barra recoberta de lâminas de ouro lavrado e cortinados de um raro brocado negro onde ondeiam, bordados a pérolas, versos eróticos de Catulo; uma lâmpada, suspensa no interior, derrama ali a claridade láctea e amorosa de um luar de Verão. [...]
Entretanto Lisboa rojava-se aos meus pés. O pátio do palacete estava constantemente invadido por uma turba: olhando-a enfastiado das janelas da galeria, eu via lá branquejar os peitilhos da Aristocracia, negrejar a sotaina do Clero, e luzir o suor da Plebe: todos vinham suplicar, de lábio abjeto, a honra do meu sorriso e uma participação no meu ouro. Às vezes consentia em receber algum velho de título histórico: – ele adiantava-se pela sala, quase roçando o tapete com os cabelos brancos, tartamudeando adulações; e imediatamente, espalmando sobre o peito a mão de fortes veias onde corria um sangue de três séculos, oferecia-me uma filha bem-amada para esposa ou para concubina.
Todos os cidadãos me traziam presentes como a um ídolo sobre o altar – uns odes votivas, outros o meu monograma bordado a cabelo, alguns chinelas ou boquilhas, cada um a sua consciência. Se o meu olhar amortecido fixava, por acaso, na rua, uma mulher – era logo ao outro dia uma carta em que a criatura, esposa ou prostituta, me ofertava a sua nudez, o seu amor, e todas as complacências da lascívia.
Os jornalistas esporeavam a imaginação para achar adjetivos dignos da minha grandeza; fui o sublime Sr. Teodoro, cheguei a ser o celeste Sr. Teodoro; então, desvairada, a Gazeta das Locais chamou-me o extraceleste Sr. Teodoro! Diante de mim nenhuma cabeça ficou jamais coberta – ou usasse a coroa ou o coco. Todos os dias me era oferecida uma presidência de Ministério ou uma direção de confraria. Recusei sempre, com nojo.

(Eça de Queirós. O mandarim, s/d.)

QUESTÃO 27 - Ao descrever a sua vida de milionário, o narrador

(A) reconhece que as pessoas se aproximam dele com mais respeito e cautela, fato que o deixa desconfortável, por sua natureza humilde.
(B) sente-se lisonjeado pelo tratamento cerimonioso de que é alvo constante, sobretudo porque as pessoas são honestas em seu proceder.
(C) ironiza as relações de interesses decorrentes da sua nova condição social, deixando evidente que as pessoas se humilham perante ele.
(D) ignora a forma como os mais pobres o interpelam, pois não consegue identificar os contatos sem interesses monetários.
(E) despreza a falta de veneração à sua pessoa, principalmente pelos mais bem nascidos, que não o veem como pertencente à aristocracia.

QUESTÃO 28 - “Os jornalistas esporeavam a imaginação para achar adjetivos dignos da minha grandeza; fui o sublime Sr. Teodoro, cheguei a ser o celeste Sr. Teodoro; então, desvairada, a Gazeta das Locais chamou-me o extraceleste Sr. Teodoro!”
Nesta passagem do último parágrafo, identifica-se uma

(A) hipérbole, por meio da qual o narrador enfatiza a intensidade  de atenção recebida da imprensa portuguesa.
(B) gradação, por meio da qual o narrador reforça a ideia de bajulação posta em prática pelos jornais portugueses.
(C) ironia, por meio da qual o narrador refuta o tratamento que lhe dispensavam os jornalistas portugueses.
(D) redundância, por meio da qual o narrador deixa entrever o modo como as pessoas lhe especulavam a vida.
(E) antítese, por meio da qual o narrador explica as contradições dos jornais portugueses ao tomarem-no como assunto.

QUESTÃO 29 - Assinale a alternativa que apresenta uma correta análise de passagem do texto.

(A) Em “que, desde que me sabia rico, me tratava todos os dias a arroz-doce” (1.º parágrafo), a locução conjuntiva em destaque estabelece relação de tempo entre as orações.
(B) Em “e ela mesma me servia, com o seu vestido de seda dos domingos” (1.º parágrafo), o termo em destaque pode ser substituído por “mesmo”, sem prejuízo de sentido ao texto.
(C) Em “olhando-a enfastiado das janelas da galeria” (2.º parágrafo), o pronome em destaque recupera o substantivo “Lisboa”.
(D) Em “era logo ao outro dia uma carta em que a criatura ” (3.º parágrafo), a expressão em destaque pode ser substituída, de acordo com a norma-padrão, por “cuja”.
(E) Em “derrama ali a claridade láctea e amorosa de um luar de Verão” (1.º parágrafo), o advérbio em destaque recupera a expressão “versos eróticos de Catulo

QUESTÃO 30 - Leia o soneto de Cruz e Sousa.

Silêncios

Largos Silêncios interpretativos,
Adoçados por funda nostalgia,
Balada de consolo e simpatia
Que os sentimentos meus torna cativos;

Harmonia de doces lenitivos,
Sombra, segredo, lágrima, harmonia
Da alma serena, da alma fugidia
Nos seus vagos espasmos sugestivos.

Ó Silêncios! ó cândidos desmaios,
Vácuos fecundos de celestes raios
De sonhos, no mais límpido cortejo...

Eu vos sinto os mistérios insondáveis
Como de estranhos anjos inefáveis
O glorioso esplendor de um grande beijo!

(Cruz e Sousa. Broquéis, Faróis, Últimos Sonetos, 2008.)

A análise do soneto revela como tema e recursos poéticos, respectivamente:

(A) a aura de mistério e de transcendentalidade suaviza o sofrimento do eu lírico; rimas alternadas e sinestesias se evidenciam nos versos de redondilha maior.
(B) o esforço de superação do sofrimento coexiste com o esgotamento das forças do eu lírico; assonâncias e metonímias reforçam os contrastes das rimas alternadas em versos livres.
(C) a religiosidade como forma de superação do sofrimento humano; metáforas e antíteses reforçam o negativismo da desagregação existencial nos versos livres.
(D) a apresentação da condição existencial do eu lírico, marcada pelo sofrimento, em uma abordagem transcendente; assonâncias e aliterações reforçam a sonoridade nos versos decassílabos.
(E) o apelo à subjetividade e à espiritualidade denota a conciliação entre o eu lírico e o mundo; metáforas e sinestesias reforçam o sentido de transcendentalidade nos versos de doze sílabas.


GABARITO:
1 – E 2 – E 3 – D 4 – A 5 – B 6 – E 7 – C 8 – B 9 – D 10 – E 11 – C 12 – A 13 – D
14 – E 15 – C 16 – C 17 – B 18 – C 19 – A 20 – E 21 – D 22 – E 23 – A 24 – D 25 – B
26 – D 27 – C 28 – B 29 – A 30 – D 

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