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terça-feira, 5 de julho de 2016

PROVA DE LÍNGUA PORTUGUESA - UERJ - 2012

Prova de Língua Portuguesa – UERJ – 2012


1ª EXAME

Questão 01 –Na tira do cartunista argentino Quino, utilizam-se recursos gráficos que lembram o cinema. A associação com a linguagem artística do cinema, que lida com o movimento e com o instrumento da câmera, é garantida pelo procedimento do cartunista demonstrado a seguir:

(A) ressaltar o trabalho com a vassoura para sugerir ação
(B) ampliar a imagem da mulher para indicar aproximação
(C) destacar a figura da cadeira para indiciar sua importância
(D) apresentar a sombra dos personagens para sugerir veracidade

Questão 02 –A tira traz um efeito de surpresa ao final, produzido pela cena inusitada de uma pessoa sentada no ar, como se isso fosse possível. Esse efeito de surpresa se intensifica pelo fato de o último quadrinho contrastar com o seguinte aspecto da própria tira:

(A) exposição parcial do cotidiano familiar        (B) sugestão gradual de atitudes imprevisíveis
(C) apresentação sequencial de ações rotineiras (D) referência indireta à solidão dos personagens
  
O chá, os fantasmas, os ventos encanados...

Nasci no tempo dos ventos encanados, quando, para evitar compromissos, a “gente bem” dizia estar com enxaqueca, palavra horrível mas desculpa distinta. Ter enxaqueca não era para todos, mas só para essas senhoras que tomavam chá com o dedo mindinho espichado. Quando eu via aquilo, ficava a pensar sozinho comigo (menino, naqueles tempos, não dava opinião) por que é que elas não usavam, para cúmulo da elegância, um laçarote azul no dedo...
Também se falava misteriosamente em “moléstias de senhoras” nos anúncios farmacêuticos que eu lia. Era decerto uma coisa privativa das senhoras, como as enxaquecas, pois as criadas, essas, não tinham tempo para isso. Mas, em compensação, me assustavam deliciosamente com histórias de assombrações. Nunca me apareceu nenhuma.
Pelo visto, era isso: nunca consegui comunicar-me com este nem com o outro mundo. A não ser através d’ O tico-tico e da poesia de Camões, do qual até hoje me assombra este verso único: “Que o menor mal de tudo seja a morte!” Pois a verdadeira poesia sempre foi um meio de comunicação com este e com o outro mundo.

MÁRIO QUINTANA Mario Quintana: poesia completa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2005.

Questão 03 –O texto de Mário Quintana se baseia em duas oposições: “gente bem” versus “criadas” e “este mundo” versus “o outro mundo”. “O outro mundo” é representado, no texto, por alguns elementos evocados pelo narrador. A expressão que melhor identifica tais elementos é:

(A) ventos encanados                  (B) moléstias de senhoras 
(C) anúncios farmacêuticos         (D) histórias de assombrações

Questão 04 –Além da comparação entre papéis sociais, há no texto outra comparação, implícita, que indica uma compreensão do narrador acerca de comportamentos na sociedade. Essa comparação implícita está em:

(A) menino, naqueles tempos, não dava opinião (l. 4)
(B) Também se falava misteriosamente em “moléstias de senhoras” (l. 6)
(C) Nunca me apareceu nenhuma. (l. 9)
(D) até hoje me assombra este verso único: (l. 11-12)

Questão 05 –A não ser através d’ O tico-tico e da poesia de Camões, (l. 10-11) A expressão em destaque torna a frase que ela introduz uma ressalva em relação ao que está enunciado anteriormente. Essa ressalva evidencia que as leituras do poeta lhe davam a seguinte possibilidade:

(A) rever suas crenças arraigadas           (B) interagir com universos diferentes
(C) superar uma alienação do presente   (D) compreender a idealização da morte

Questão 06 –O segundo parágrafo do texto revela mais claramente a compreensão do menino acerca daquela sociedade de papéis bem definidos, a partir da situação econômica de cada um. O par de vocábulos, presentes no texto, que remete à divisão entre grupos sociais, tal como caracterizada pelo narrador, é:

(A) chá – fantasmas (B) elegância – laçarote (C) privativa – verdadeira (D) encanados – espichado

Questão 07 –Ter enxaqueca não era para todos, (l. 2) Considerando que a afirmação acima não pode ser verdadeira, conclui-se que ela é feita para expressar outro sentido, menos literal. O sentido expresso pela afirmação, no texto, pode ser definido como:

(A) metonímico (B) hiperbólico (C) metafórico (D) irônico

Memórias do cárcere

Resolvo-me a contar, depois de muita hesitação, casos passados há dez anos − e, antes de começar, digo os motivos por que silenciei e por que me decido. Não conservo notas: algumas que tomei foram inutilizadas, e assim, com o decorrer do tempo, ia-me parecendo cada vez mais difícil, quase impossível, redigir esta narrativa. Além disso, julgando a matéria superior às minhas forças, esperei que outros mais aptos se ocupassem dela. Não vai aqui falsa modéstia, como adiante se verá. Também me afligiu a ideia de jogar no papel criaturas vivas, sem disfarces, com os nomes que têm no registro civil. Repugnava-me deformá-las, dar-lhes pseudônimo, fazer do livro uma espécie de romance; mas teria eu o direito de utilizá-las em história presumivelmente verdadeira? Que diriam elas se se vissem impressas, realizando atos esquecidos, repetindo palavras contestáveis e obliteradas? (...)
O receio de cometer indiscrição exibindo em público pessoas que tiveram comigo convivência forçada já não me apoquenta. Muitos desses antigos companheiros distanciaram-se, apagaramse. Outros permaneceram junto a mim, ou vão reaparecendo ao cabo de longa ausência, alteramse, completam-se, avivam recordações meio confusas − e não vejo inconveniência em mostrá-los. (...)
E aqui chego à última objeção que me impus. Não resguardei os apontamentos obtidos em largos dias e meses de observação: num momento de aperto fui obrigado a atirá-los na água. Certamente me irão fazer falta, mas terá sido uma perda irreparável? Quase me inclino a supor que foi bom privar-me desse material. Se ele existisse, ver-me-ia propenso a consultá-lo a cada instante, mortificar-me-ia por dizer com rigor a hora exata de uma partida, quantas demoradas tristezas se aqueciam ao sol pálido, em manhã de bruma, a cor das folhas que tombavam das árvores, num pátio branco, a forma dos montes verdes, tintos de luz, frases autênticas, gestos, gritos, gemidos. Mas que significa isso? Essas coisas verdadeiras podem não ser verossímeis. E se esmoreceram, deixá-las no esquecimento: valiam pouco, pelo menos imagino que valiam pouco. Outras, porém, conservaram-se, cresceram, associaram-se, e é inevitável mencioná- las. Afirmarei que sejam absolutamente exatas? Leviandade. (...) Nesta reconstituição de fatos velhos, neste esmiuçamento, exponho o que notei, o que julgo ter notado. Outros devem possuir lembranças diversas. Não as contesto, mas espero que não recusem as minhas: conjugam-se, completam-se e me dão hoje impressão de realidade. Formamos um grupo muito complexo, que se desagregou. De repente nos surge a necessidade urgente de recompô-lo. Define-se o ambiente, as figuras se delineiam, vacilantes, ganham relevo, a ação começa. Com esforço desesperado arrancamos de cenas confusas alguns fragmentos. Dúvidas terríveis nos assaltam. De que modo reagiram os caracteres em determinadas circunstâncias? O ato que nos ocorre, nítido, irrecusável, terá sido realmente praticado? Não será incongruência? Certo a vida é cheia de incongruências, mas estaremos seguros de não nos havermos enganado? Nessas vacilações dolorosas, às vezes necessitamos confirmação, apelamos para reminiscências alheias, convencemo-nos de que a minúcia discrepante não é ilusão. Difícil é sabermos a causa dela, desenterrarmos pacientemente as condições que a determinaram. Como isso variava em excesso, era natural que variássemos também, apresentássemos falhas. Fiz o possível por entender aqueles homens, penetrar-lhes na alma, sentir as suas dores, admirar-lhes a relativa grandeza, enxergar nos seus defeitos a sombra dos meus defeitos. Foram apenas bons propósitos: devo ter-me revelado com frequência egoísta e mesquinho. E esse desabrochar de sentimentos maus era a pior tortura que nos podiam infligir naquele ano terrível.

GRACILIANO RAMOS Memórias do cárcere. Rio de Janeiro: Record, 2002.

Questão 08 – Memórias do cárcere, do romancista Graciliano Ramos, contam as desventuras do autor enquanto foi preso político no Presídio da Ilha Grande, em 1936. Apesar de ser um livro autobiográfico, o autor expõe, logo na abertura, as dificuldades de reconstrução da memória. A consciência de Graciliano Ramos em relação ao caráter parcialmente ficcional das suas memórias está evidenciada no seguinte trecho:

(A) Resolvo-me a contar, depois de muita hesitação, (l. 1)
(B) Também me afligiu a ideia de jogar no papel criaturas vivas, (l. 6)
(C) Outros devem possuir lembranças diversas. (l. 26-27)
(D) conjugam-se, completam-se e me dão hoje impressão de realidade. (l. 27-28)

Questão 09 – As palavras classificadas como advérbios agregam noções diversas aos termos a que se ligam na frase, demarcando posições, relativizando ou reforçando sentidos, por exemplo. O advérbio destacado é empregado para relativizar o sentido da palavra a que se refere em:

(A) utilizá-las em história presumivelmente verdadeira? (l. 8-9)
(B) Certamente me irão fazer falta, (l. 17)
(C) Afirmarei que sejam absolutamente exatas? (l. 25)
(D) desenterrarmos pacientemente as condições que a determinaram. (l. 36-37)

Questão 10 – Graciliano Ramos busca dar uma explicação mais objetiva ao leitor sobre os motivos que justificam seu relato. Entretanto, já nesta explicação, o autor lança mão de recursos da linguagem figurada, frequentes no discurso literário. O fragmento do texto que melhor exemplifica o uso de linguagem figurada é:

(A) dar-lhes pseudônimo, fazer do livro uma espécie de romance; (l. 7-8)
(B) Outros permaneceram junto a mim, ou vão reaparecendo (l. 13)
(C) quantas demoradas tristezas se aqueciam ao sol pálido, (l. 19-20)
(D) às vezes necessitamos confirmação, apelamos para reminiscências alheias, (l. 34-35)

Questão 11 – Não resguardei os apontamentos obtidos em largos dias e meses de observação: num momento de aperto fui obrigado a atirá-los na água. (l. 15-16) O fragmento acima poderia ser reescrito com a inserção de um conectivo no início do trecho sublinhado. Esse conectivo, que garantiria o mesmo sentido básico do fragmento, está indicado em:

(A) porque (B) embora (C) contudo (D) portanto

Questão 12 – Em sua reflexão acerca das possibilidades de recompor a memória para escrever o livro, o narrador utiliza um procedimento de construção textual que contribui para a expressão de suas inquietudes. Tal procedimento pode ser identificado como:

(A) encadeamento de fatos passados     (B) extensão de parágrafos narrativos
(C) sequência de frases interrogativas   (D) construção de diálogos presumidos

Questão 13 – Nesta reconstituição de fatos velhos, neste esmiuçamento, exponho o que notei, o que julgo ter notado. (l. 25-26) O uso do verbo “julgar”, no fragmento acima, promove uma correção do que estava dito imediatamente antes. Essa correção é importante para o sentido geral do texto porque:

(A) questiona a validade de romancear fatos
(B) minimiza o problema de narrar a memória
(C) valoriza a necessidade de resgatar a história
(D) enfatiza a dificuldade de reproduzir a realidade

Questão 14 – Essas coisas verdadeiras podem não ser verossímeis. (l. 22) Com a frase acima, o escritor lembra um princípio básico da literatura: a verossimilhança − isto é, a semelhança com a verdade − é mais importante do que a verdade mesma. A melhor explicação para este princípio é a de que a invenção narrativa se mostra mais convincente se:

(A) parece contar uma história real            (B) quer mostrar seu caráter ficcional
(C) busca apoiar-se em fatos conhecidos   (D) tenta desvelar as contradições sociais

Questão 15 – Normalmente, é possível omitir elementos de construção de frases sem dificultar a compreensão do leitor, uma vez que ficam subentendidos pelo conjunto da própria estrutura ou pela sequência em que se apresentam. O exemplo do texto em que há omissão de elementos de construção de frases, sem prejuízo da compreensão, é:

(A) com o decorrer do tempo, ia-me parecendo cada vez mais difícil, quase impossível, redigir esta narrativa. (l. 3-4)
(B) Se ele existisse, ver-me-ia propenso a consultá-lo a cada instante, mortificar-me-ia por dizer com rigor a hora exata de uma partida, (l. 18-19)
(C) Afirmarei que sejam absolutamente exatas? Leviandade. (l. 25)
(D) Com esforço desesperado arrancamos de cenas confusas alguns fragmentos. Dúvidas terríveis nos assaltam. (l. 30-31)

2ª EXAME

Questão 01 – Pode-se definir “metalinguagem” como a linguagem que comenta a própria linguagem, fenômeno presente na literatura e nas artes em geral.
O quadro A perspicácia, do belga René Magritte, é um exemplo de metalinguagem porque:

(A) destaca a qualidade do traço artístico      (B) mostra o pintor no momento da criação
(C) implica a valorização da arte tradicional (D) indica a necessidade de inspiração concreta

Questão 01 – O quadro produz um estranhamento em relação ao que se poderia esperar de um pintor que observa um modelo para sua obra. Esse estranhamento contribui para a reflexão principalmente sobre o seguinte aspecto da criação artística:

(A) perfeição da obra (B) precisão da forma (C) representação do real (D) importância da técnica

Sobre a origem da poesia

A origem da poesia se confunde com a origem da própria linguagem.
Talvez fizesse mais sentido perguntar quando a linguagem verbal deixou de ser poesia. Ou: qual a origem do discurso não poético, já que, restituindo laços mais íntimos entre os signos e as coisas por eles designadas, a poesia aponta para um uso muito primário da linguagem, que parece anterior ao perfil de sua ocorrência nas conversas, nos jornais, nas aulas, conferências, discussões, discursos, ensaios ou telefonemas.
Como se ela restituísse, através de um uso específico da língua, a integridade entre nome e coisa − que o tempo e as culturas do homem civilizado trataram de separar no decorrer da história.
A manifestação do que chamamos de poesia hoje nos sugere mínimos flashbacks de uma possível infância da linguagem, antes que a representação rompesse seu cordão umbilical, gerando essas duas metades − significante e significado.
Houve esse tempo? Quando não havia poesia porque a poesia estava em tudo o que se dizia? Quando o nome da coisa era algo que fazia parte dela, assim como sua cor, seu tamanho, seu peso? Quando os laços entre os sentidos ainda não se haviam desfeito, então música, poesia, pensamento, dança, imagem, cheiro, sabor, consistência se conjugavam em experiências integrais, associadas a utilidades práticas, mágicas, curativas, religiosas, sexuais, guerreiras?
Pode ser que essas suposições tenham algo de utópico, projetado sobre um passado pré-babélico, tribal, primitivo. Ao mesmo tempo, cada novo poema do futuro que o presente alcança cria, com sua ocorrência, um pouco desse passado.
Lembro-me de ter lido, certa vez, um comentário de Décio Pignatari, em que ele chamava a atenção para o fato de, tanto em chinês como em tupi, não existir o verbo ser, enquanto verbo de ligação. Assim, o ser das coisas ditas se manifestaria nelas próprias (substantivos), não numa partícula verbal externa a elas, o que faria delas línguas poéticas por natureza, mais propensas à composição analógica.
Mais perto do senso comum, podemos atentar para como colocam os índios americanos falando, na maioria dos filmes de cowboy − eles dizem “maçã vermelha”, “água boa”, “cavalo veloz”; em vez de “a maçã é vermelha”, “essa água é boa”, “aquele cavalo é veloz”. Essa forma mais sintética, telegráfica, aproxima os nomes da própria existência − como se a fala não estivesse se referindo àquelas coisas, e sim apresentando-as (ao mesmo tempo em que se apresenta).
No seu estado de língua, no dicionário, as palavras intermedeiam nossa relação com as coisas, impedindo nosso contato direto com elas. A linguagem poética inverte essa relação, pois, vindo a se tornar, ela em si, coisa, oferece uma via de acesso sensível mais direto entre nós e o mundo. (...)
Já perdemos a inocência de uma linguagem plena assim. As palavras se desapegaram das coisas, assim como os olhos se desapegaram dos ouvidos, ou como a criação se desapegou da vida. Mas temos esses pequenos oásis − os poemas − contaminando o deserto da referencialidade.

ARNALDO ANTUNES - www.arnaldoantunes.com.br

Questão 03 – a poesia aponta para um uso muito primário da linguagem, que parece anterior ao perfil de sua ocorrência nas conversas, nos jornais, nas aulas, conferências, discussões, discursos, ensaios ou telefonemas. (l. 4-6)
A comparação entre a poesia e outros usos da linguagem põe em destaque a seguinte característica do discurso poético:

(A) revela-se como expressão subjetiva    (B) manifesta-se na referência ao tempo
(C) afasta-se das praticidades cotidianas   (D) conjuga-se com necessidades concretas

Questão 04 – Pode ser que essas suposições tenham algo de utópico, (l. 17)
Neste fragmento, a expressão em destaque é empregada para formar um conhecido recurso da argumentação. Esse recurso pode ser definido como:

(A) admitir uma hipótese para depois discuti-la
(B) retomar uma informação para depois criticá-la
(C) relativizar um conceito para depois descrevê-lo
(D) apresentar uma opinião para depois sustentá-la

Questão 05 – Mais perto do senso comum, (l. 25)
A expressão que inicia o trecho transcrito acima introduz uma comparação em relação ao comentário anterior, feito por Décio Pignatari. O emprego da expressão comparativa revela que o autor considera o exemplo dos filmes de cowboy como algo que teria a seguinte caracterização:

(A) muito complexo (B) menos elaborado (C) pouco importante (D) bastante diferente

Questão 06 –  Na coesão textual, ocorre o que se chama catáfora quando um termo se refere a algo que ainda vai ser enunciado na frase. Um exemplo em que o termo destacado constrói uma catáfora é:

(A) Como se ela restituísse, (l. 7)
(B) Pode ser que essas suposições tenham algo de utópico, (l. 17)
(C) não numa partícula verbal externa a elas, (l. 22-23)
(D) No seu estado de língua, no dicionário, as palavras intermedeiam (l. 30)

Questão 07 – A linguagem poética inverte essa relação, pois, vindo a se tornar, ela em si, coisa, oferece uma via de acesso sensível mais direto entre nós e o mundo. (l. 31-32) O vocábulo destacado estabelece uma relação de sentido com o que está enunciado antes. Essa relação de sentido pode ser definida como:

(A) explicação (B) finalidade (C) conformidade (D) simultaneidade

Questão 08 – Mas temos esses pequenos oásis os poemas contaminando o deserto da referencialidade. (l. 35)
Na frase acima, o emprego das palavras “oásis” e “deserto” configura uma superposição de figuras de linguagem, recurso frequente em textos artísticos.
As figuras de linguagem superpostas na frase são:

(A) metáfora e antítese      (B) ironia e metonímia
(C) elipse e comparação    (D) personificação e hipérbole

Questão 09 – No último parágrafo (linhas 33 a 35), o autor se refere à plenitude da linguagem poética, fazendo, em seguida, uma descrição que corresponde à linguagem não poética, ou seja, à linguagem referencial. Pela descrição apresentada, a linguagem referencial teria, em sua origem, o seguinte traço fundamental:

(A) o desgaste da intuição                   (B) a dissolução da memória
(C) a fragmentação da experiência      (D) o enfraquecimento da percepção

A palavra

Tanto que tenho falado, tanto que tenho escrito − como não imaginar que, sem querer, feri alguém? Às vezes sinto, numa pessoa que acabo de conhecer, uma hostilidade surda, ou uma reticência de mágoas. Imprudente ofício é este, de viver em voz alta.
Às vezes, também a gente tem o consolo de saber que alguma coisa que se disse por acaso ajudou alguém a se reconciliar consigo mesmo ou com a sua vida de cada dia; a sonhar um pouco, a sentir uma vontade de fazer alguma coisa boa.
Agora sei que outro dia eu disse uma palavra que fez bem a alguém. Nunca saberei que palavra foi; deve ter sido alguma frase espontânea e distraída que eu disse com naturalidade porque senti no momento − e depois esqueci.
Tenho uma amiga que certa vez ganhou um canário, e o canário não cantava. Deram-lhe receitas para fazer o canário cantar; que falasse com ele, cantarolasse, batesse alguma coisa ao piano; que pusesse a gaiola perto quando trabalhasse em sua máquina de costura; que arranjasse para lhe fazer companhia, algum tempo, outro canário cantador; até mesmo que ligasse o rádio um pouco alto durante uma transmissão de jogo de futebol... mas o canário não cantava.
Um dia a minha amiga estava sozinha em casa, distraída, e assobiou uma pequena frase melódica de Beethoven − e o canário começou a cantar alegremente. Haveria alguma secreta ligação entre a alma do velho artista morto e o pequeno pássaro cor de ouro?
Alguma coisa que eu disse distraído − talvez palavras de algum poeta antigo − foi despertar melodias esquecidas dentro da alma de alguém. Foi como se a gente soubesse que de repente, num reino muito distante, uma princesa muito triste tivesse sorrido. E isso fizesse bem ao coração do povo; iluminasse um pouco as suas pobres choupanas e as suas remotas esperanças.

RUBEM BRAGA - PROENÇA FILHO, Domício (org.). Pequena antologia do Braga. Rio de Janeiro: Record, 1997.
  
Questão 10 – Imprudente ofício é este, de viver em voz alta. (l. 3)
O ofício a que Rubem Braga se refere é o seu próprio, o de escritor. Para caracterizá-lo, além do adjetivo “imprudente”, ele recorre a uma metáfora: “viver em voz alta”.
O sentido dessa metáfora, relativa ao ofício de escrever, pode ser entendido como:

(A) superar conceitos antigos               (B) prestar atenção aos leitores
(C) criticar prováveis interlocutores     (D) tornar públicos seus pensamentos

Questão 11 – Alguma coisa que eu disse distraído talvez palavras de algum poeta antigo foi despertar melodias esquecidas dentro da alma de alguém. (l. 18-19)
O cronista revela que sua fala ou escrita pode conter algo escrito por “algum poeta antigo”. Ao fazer essa revelação, o cronista se refere ao seguinte recurso:

(A) polissemia (B) pressuposição (C) exemplificação (D) intertextualidade

Questão 12 – O episódio do canário traz uma contribuição importante para o sentido do texto, ao estabelecer uma analogia entre a palavra do escritor e a música assobiada pela amiga. A inserção desse episódio no texto reforça a seguinte ideia:

(A) a intolerância leva o artista ao isolamento
(B) a arte atinge as pessoas de modo inesperado
(C) a solidão é remediada com soluções artísticas
(D) a profissão envolve o artista em conflitos desnecessários

Questão 13 – Toda a indagação do cronista acerca da palavra se baseia na diferença entre a importância que ela pode ter, por um lado, para quem a escreve e, por outro, para quem a lê. O par de vocábulos que melhor exemplifica essa diferença no texto é:

(A) esqueci (l. 9) − feri (l. 1)                 (B) ofício (l. 3) − consolo (l. 4)
(C) espontânea (l. 8) − secreta (l. 16)    (D) reconciliar (l. 5) − despertar (l. 18)

Questão 14 – Às vezes, também (l. 4)
Ao estabelecer coesão entre os dois primeiros parágrafos, a palavra “também”, nesse
contexto, expressa determinado sentido. Considerando esse sentido, “também” poderia ser substituído pela seguinte expressão:

(A) desse modo (B) por outro lado (C) por conseguinte (D) em consequência

Questão 15 – O final do texto expressa uma reflexão do escritor acerca do poder da sua escrita, a partir da menção a uma princesa e a um povo. Essa menção sugere, principalmente, que o escritor deseja que suas palavras tenham o poder de:

(A) desfazer as ilusões antigas            (B) permear as classes sociais
(C) ajudar as pessoas discriminadas    (D) abolir as hierarquias tradicionais

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