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segunda-feira, 2 de maio de 2016

“Meus oito anos” – Cassiano Ricardo

Meus oito anos

No tempo de pequenino
eu tinha medo da cuca
velhinha de óculos pretos
que morava atrás da porta. . .
Um gato a dizer corrumiau
de noite na casa escura. . .
De manhã, por travessura,
pica-pau, pau-pau.

Quando eu era pequenino 
"Childhood Memories". Svetoslav Roerich.

fazia bolotas de barro,
que punha ao sol pra secar.
Cada bolota daquela,
dura, redonda, amarela,
jogada com o meu certeiro
bodoque de guatambu
matava canário, rolinha,
matava inambu.

Quando eu era pequenino
vivia armando arapuca
pra caçar "vira" e urutau.
Mas de noite vinha a cuca
com o seu gato corrumiau. . .
Como este menino é mau!

Rolinha caiu no laço. . .
Ia contar, não conto não.
Como batia o coração
daquele verde sanhaço
na palma da minha mão!

Ah! se eu pudesse, algum dia,
caçar a vida num poema,
em seu minuto de dor
ou de alegria suprema,
que bom que pra mim seria
ter a vida em minha mão
pererecando de susto
como um sanhaço qualquer
na grade de um alçapão!

Mas. . . de noite vinha a cuca
(e por sinal que a noite parecia uma arapuca
com grandes pássaros de estrelas)
vinha com o gato corrumiau:
menino mau, menino mau,
meninomaumeninomau.

Na minha imaginação
ficou pra sempre o pica-pau.

Pica-pau batendo o bico
numa casca de pau.
Pica-pau, pau-pau.

Corrumiau miando de noite. . .
Corrumiau, miau-miau.

(Cassiano Ricardo)


Leia também:

“Amar”– Carlos Drummond de Andrade
“Negócio de menino com menina” — Ivan Ângelo 

"O homem; as viagens" — Carlos Drummond de Andrade
“Os dois lados” – Murilo Mendes


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