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segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Fatec 2013 – 1º Semestre – Prova de Língua Portuguesa

Fatec – Prova de Língua Portuguesa - 1º Semestre – 2013


Leia o texto para responder às questões de números 50 a 53.

O labirinto dos manuais

            Há alguns meses, troquei meu celular. Um modelo lindo, pequeno, prático. Segundo a vendedora, era capaz de tudo e mais um pouco. Fotografava, fazia vídeos, recebia e-mails e até servia para telefonar. Abri o manual, entusiasmado. “Agora eu aprendo”, decidi, folheando as 49 páginas. Já na primeira, tentei executar as funções. Duas horas depois, eu estava prestes a roer o aparelho. O manual tentava prever todas as possibilidades. Virou um labirinto de instruções!
            Na semana seguinte, tentei baixar o som da campainha. Só aumentava. Buscava o vibracall, não achava. Era só alguém me chamar e todo mundo em torno saía correndo, pensando que era o alarme de incêndio! Quem me salvou foi um motorista de táxi.
            – Manual só confunde – disse didaticamente. – Dá uma de curioso.
            Insisti e finalmente descobri que estava no vibracall há meses! O único problema é que agora não consigo botar a campainha de volta!
            Atualmente, estou de computador novo. Fiz o que toda pessoa minuciosa faria. Comprei um livro. Na capa, a promessa: “Rápido e fácil” – um guia prático, simples e colorido! Resolvi: “Vou seguir cada instrução, página por página. Do que adianta ter um supercomputador se não sei usá-lo?”. Quando cheguei à página 20, minha cabeça latejava. O livro tem 342! Cada vez que olho, dá vontade de chorar! Não seria melhor gastar o tempo relendo Guerra e Paz*?
            Tudo foi criado para simplificar. Mas até o micro-ondas ficou difícil. A não ser que eu queira fazer pipoca, que possui sua tecla própria. Mas não posso me alimentar só de pipoca! Ainda se emagrecesse... E o fax com secretária eletrônica? O anterior era simples. Eu apertava um botão e apagava as mensagens. O atual exige que eu toque em um, depois em outro para confirmar, e de novo no primeiro! Outro dia, a luzinha estava piscando. Tentei ouvir a mensagem. A secretária disparou todas as mensagens, desde o início do ano!
            Eu sei que para a garotada que está aí tudo parece muito simples. Mas o mundo é para todos, não é? Talvez alguém dê aulas para entender manuais! Ou o jeito seria aprender só aquilo de que tenho realmente necessidade, e não usar todas as funções. É o que a maioria das pessoas acaba fazendo!

(Walcyr Carrasco, Veja SP, 19.09.2007. Adaptado)

*Livro do escritor russo Liev Tolstói. Com mais de mil páginas e centenas de personagens, é considerada uma das maiores obras da história da literatura.

Questão 50 - Pelos comentários feitos pelo narrador, pode-se concluir corretamente que

(A) a leitura de obras-primas da literatura é atividade mais produtiva do que utilizar celulares e computadores.
(B) os manuais cujas diversas instruções os usuários não conseguem compreender e pôr em prática são improdutivos.
(C) a vendedora foi convincente, pois o narrador comprou o celular, embora duvidasse das qualidades prometidas pelo aparelho.
(D) o manual sobre computadores, ao contrário de outros do gênero, cumpria a promessa assumida nos dizeres impressos na capa.
(E) os jovens deveriam ensinar computação aos mais velhos, pois, dessa forma, estes últimos entenderiam as funções básicas do equipamento.

Questão 51 - Analise as afirmações sobre trechos do texto e assinale a correta.

(A) Em – alguns meses, troquei meu celular. –, o verbo haver indica tempo decorrido e pode ser substituído, corretamente, por Fazem.
(B) Em – Fotografava, fazia vídeos, recebia e-mails e até servia para telefonar. –, o termo em destaque expressa a ideia de exclusão.
(C) Em – Virou um labirinto de instruções! –, o termo em destaque foi empregado em sentido figurado, indicando confusão, incompreensibilidade.
(D) Em – Fiz o que toda pessoa minuciosa faria. –, o termo em destaque pode ser substituído, corretamente e sem alteração do sentido do texto, por limitada.
(E) Em – Mas não posso me alimentar só de pipoca! –, a conjunção em destaque expressa a ideia de comparação.

Questão 52 - No trecho do 5o parágrafo, observe que o cronista empregou um pronome para evitar a repetição de palavras. Do que adianta ter um supercomputador se não sei usá-loTendo por referência a gramática normativa, assinale a alternativa em que os pronomes substituem, corretamente, as expressões em destaque no trecho: Tentei ouvir as mensagens. A secretária eletrônica disparou todas as mensagens, desde o início do ano!

(A) ouvi-las ... disparou-as
(B) ouvi-las ... disparou-lhes
(C) ouvir-las ... disparou-as
(D) ouvir-lhes ... disparou-as
(E) ouvir-lhes ... disparou-lhes

Questão 53 - Entre as características que definem uma crônica, estão presentes no texto de Walcyr Carrasco:

(A) a narração em 3a pessoa e o uso expressivo da pontuação.
(B) a criação de imagens hiperbólicas e o predomínio do discurso direto.
(C) o emprego de linguagem acessível ao leitor e a abordagem de fatos do cotidiano.
(D) a existência de trechos cômicos e a narrativa restrita ao passado do autor.
(E) a ausência de reflexões de cunho pessoal e o emprego de linguagem em prosa poética.

Questão 54Muitos escritores preocuparam-se em defender um ideário artístico que servisse de orientação para outros companheiros. Podemos dizer, grosso modo, que esses ideários assemelham-se a manuais.
Pensando nisso, leia os versos a seguir, em que o autor defende a liberdade estética na criação da poesia, e identifique o período literário a que esses versos pertencem.

(...)
Não acho mais graça nenhuma nisso da gente
submeter comoções a um leito de Procusto(1) para
que obtenham, em ritmo convencional, número
convencional de sílabas. Já, primeiro livro, usei
indiferentemente, sem obrigação de retorno
periódico, os diversos metros pares. Agora
liberto-me também desse preconceito.
(...)
Marinetti(2) foi grande quando redescobriu o
poder sugestivo, associativo, simbólico,
universal, musical da palavra em liberdade.
Aliás: velha como Adão. Marinetti errou: fez
dela sistema. É apenas auxiliar poderosíssimo.
Uso palavras em liberdade. (...)

(1) Na mitologia grega, Procusto era um bandido que tinha, em sua casa, uma cama (leito) de ferro na qual convidava todos os viajantes a se deitarem. Se os hóspedes fossem muito altos, ele amputava o excesso de comprimento do corpo desses viajantes para ajustá-los à cama e, se tinham pequena estatura, eram esticados até atingirem o comprimento determinado.
(2) Fillipo Tommaso Marinetti

(A) Barroco. (B) Romantismo. (C) Parnasianismo. (D) Realismo. (E) Modernismo.

GABARITO:
50 - B   51 - C   52 - A   53 - C   54 - E

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Texto I: Nós, os mutantes

            De onde vieram os super-heróis que conhecemos na série X-Men, de Stan Lee? Da preguiça de seu autor, que não encontrou uma explicação mais criativa do que simplesmente dizer que nasceram daquela forma. [...] Os mutantes de Lee nascem com habilidades extraordinárias e com algumas características bizarras, também. Muitos deles passaram boa parte da vida tentando esconder ou anular essas qualidades que os diferenciam do resto dos seres humanos. Outros se tornaram vilões para vingar-se da sociedade que os despreza por puro preconceito. [...]
            Na vida real, as mutações genéticas são constantes, inevitáveis e fizeram de nós o que somos hoje. Toda a evolução da humanidade – e do resto dos animais também – é consequência das confusões que nosso organismo faz na hora da autoduplicação do DNA. Ciência pura. Os mutantes estão por aí. O que não quer dizer que a gente vá encontrar um Wolverine andando pela rua assim tão fácil. [...] Mutações acontecem a todo momento. Alguns cientistas estimam que cada um de nós carregue cerca de 300 delas, se compararmos nosso genoma aos de nossos pais. Mas a maior parte não terá efeito nenhum sobre nossas características, porque 98,5% do material genético é "DNA inútil" – são íntrons, trechos que não codificam proteínas, mas que, apesar do apelido, são absolutamente úteis e necessários para a regulação do genoma. [...]
            À medida que o estudo do genoma humano revela a localização das mutações que causam doenças, ou que nos protegem delas, é possível aprimorar a técnica usada nos laboratórios. De acordo com o geneticista Péricles Hassun, "através da terapia gênica, cientistas de várias áreas têm conseguido bons resultados no tratamento de doenças, como hipertensão, isquemia, câncer, diabetes e mesmo doenças coronarianas.[...]
            Vira e mexe uma história toma a mídia e gera burburinho e bate-boca no meio científico. São raros, mas há casos de humanos com características que parecem indicar alguns passos adiante na evolução. Físico mais resistente, habilidades psíquicas inexplicáveis, características adaptativas inéditas. Ninguém garante, mas esses podem ser indícios do nosso futuro.

(Inês Silveira. revista Para saber e conhecer, setembro de 2011. Adaptado)

Questão 50 - O que permite a aproximação entre os super-heróis, de Stan Lee, citados no texto I, e os seres humanos que sofrem mutações é, segundo a autora, o seguinte:

(A) a preguiça, que propicia a busca de soluções criativas para problemas cotidianos. (1º parágrafo)
(B) a maldade, que transforma indivíduos comuns em vilões vingativos e desprezados pela sociedade. (1º parágrafo)
(C) as anomalias hereditárias devido ao excesso de "DNA inútil", o que transforma pessoas comuns em aberrações sociais. (2º parágrafo)
(D) os processamentos genéticos que podem evidenciar um padrão atípico de desenvolvimento. (2º parágrafo)
(E) as doenças cardíacas, que são adquiridas em laboratórios durante terapias. (3º parágrafo)

Questão 51 - Considere os seguintes trechos do texto I:
... que a gente vá encontrar um Wolverine andando pela rua assim tão fácil.
Alguns cientistas estimam que cada um de nós carregue cerca de 300 delas...
... mas que, apesar do apelido, são absolutamente úteis e necessários...
Os termos destacados expressam, correta e respectivamente, as seguintes ideias:

(A) intensificação, imprecisão, oposição.
(B) qualificação, concessão, oposição.
(C) concessividade, imprecisão, condição.
(D) comparação, intensificação, imprecisão.
(E) exclusão, simultaneidade, qualificação.

Questão 52 - Com relação ao período – ... é possível aprimorar a técnica (...) nos laboratórios. –, é correto afirmar que a oração

(A) subordinada expressa valor de advérbio de modo.
(B) subordinada assume função de sujeito da oração principal.
(C) subordinada contém verbo no modo subjuntivo, indicando contraste.
(D) principal revela a presença do modo imperativo, indicando uma ordem.
(E) principal sinaliza que a próxima oração deverá ser lida como sua consequência.
Texto II: Mutante

Quando eu me sinto um pouco rejeitada
Me dá um nó na garganta
Choro até secar a alma de toda mágoa
Depois eu passo pra outra

Como um mutante
No fundo sempre sozinha
Seguindo o meu caminho
Ai de mim que sou romântica!

(Rita Lee e Roberto de Carvalho)
(http: //www.vagalume.com.br/rita-lee/mutante.html Acesso em: 25.09.2011.
Adaptado.)

Questão 53 - Relacionando as informações dos textos I e II e analisando sua forma e conteúdo, pode-se afirmar que

(A) ambos os textos apresentam predomínio de linguagem metafórica.
(B) o eu lírico, em ambos os textos, é uma figura feminina que emprega linguagem emotiva.
(C) as ideias apresentadas na canção constituem uma argumentação convincente.
(D) a ficção científica veiculada em ambos os textos assume um formato narrativo.
(E) os conteúdos apresentam intertextualidade, mas distanciam-se pelo gênero textual.

Questão 54 - A oralidade expressa no texto II pode ser exemplificada pelo emprego

(A) da expressão "um pouco", que modifica o advérbio "quando" no 1º verso da 1ª estrofe.
(B) do pronome oblíquo "Me" antecedendo o verbo "dá" no 2º verso da 1ª estrofe.
(C) da preposição "até", que indica o limite da ação de "chorar" no 3º verso da 1ª estrofe.
(D) da conjunção comparativa "como", que exprime uma hipérbole no 1º verso da 2ª estrofe.
(E) do verbo no gerúndio "Seguindo", que denuncia alto grau de informalidade no 3º verso da 2ª estrofe.

GABARITO:
50 - D   51 - A   52 - B   53 - E   54 - B

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Texto: "Pênalti" — Moacyr Scliar

Pênalti
 
      Como um cavaleiro colocando a armadura: era assim que ele sentia cada vez que se fardava para o futebol. Um pouco de exagero, claro: afinal, tratava-se de camiseta, não de couraça, e o jogo, bem, o jogo era uma pelada de sábado à tarde, disputada com muita energia mas pouca técnica por um grupo de velhos amigos. 
      E contudo sentia-se como um cavaleiro preparando-se para a batalha. Porque era um pouco batalha, sim; não ressoavam no campo gritos de guerra nem os uivos dos feridos, mas era um pouco batalha. Sobretudo naquele sábado. Ele não saberia dizer qual a razão, mas sentia que naquele sábado sentia algo muito importante aconteceria. Tentou disfarçar a ansiedade gracejando com os amigos, como de hábito, mas não foi sem inquietação que pisou o gramado. 
       E tal logo o juiz - que depois estaria com eles no bar, tomando cervejas e comentando os lances mais engraçados do jogo - tão logo o juiz trilou o apito, ele se deu conta do que estava acontecendo.
     O centroavante adversário.
     Era a primeira vez que estava jogando. O que também tinha um significado: depois de todos aqueles anos, haviam resolvido que estava na hora de convidar outros parceiros, gente mais jovem. Afinal, estavam ficando velhos, breve surgiram lacunas nos times, e era preciso manter aquilo que já se tornara uma tradição, o jogo de sábado.
     O centroavante adversário era um rapaz jovem. E era um grande jogador. Isto ficou claro desde os instantes iniciais, pela insolente facilidade com que se apossava da bola, com que driblava os adversários, com que deslocava pelo gramado. Perto dele, os outros jogadores - homens de meia-idade, barrigudos, desajeitados, eram figuras lamentáveis. 
      Aquele centroavante decidira a partida. Vamos perder, pensou, com um aperto no coração. Não suportava perder; não a partida de futebol do sábado. Já lhe bastavam as frustrações do cotidiano, a mediocridade do trabalho na repartição, as recriminações da mulher. No sábado, custasse o que custasse, tinha de ganhar. E o centroavante - que o destino colocara no outro time - não o impediria. Isto deixaria claro. E quanto antes, melhor.
      Não demorou muito o rapaz recebeu uma bola, avançou pelo centro do gramado, passou por um, passou por dois, e de repente estava ali invadindo a grande área, pronto a marcar o gol. Não passará, ele rosnou e, cerrando os dentes, partiu ao encontro do inimigo, como um cavaleiro em plena batalha. O rapaz vinha vindo, e claramente passaria por ele se deixasse. Não deixou. Mandou o pé, que não acertou a bola, porque não era para acertar a bola; era para acertar a canela do adversário. 
      Que, com um grito, caiu.
      Por um instante ficaram todos imóveis, perplexos. Depois, correram todos. E ali estava o jovem, retorcendo-se de dor. Ele se ajoelhou ao lado do rapaz:
      – Desculpe, meu filho - disse, confuso – eu não quis machucar você.
      O rapaz tentou esboçar um sorriso.
      – Eu sei. Você é ruim mesmo. Se soubesse que tinha um pai tão ruim não teria vindo jogar.
      Com a ajuda dos outros, que agora riam e debochavam, o centroavante pôs-se de pé.
      – Eu acho – disse o juiz– que vou ter de dar pênalti.
      Com o que todos concordavam: agressão de pai era caso, no mínimo, de pênalti. Talvez até de expulsão. O próprio rapaz cobrou a penalidade máxima. Com sucesso, naturalmente: afinal, era um grande jogador, como o pai, de olhos úmidos, teve de reconhecer. Com melancolia, mas sem nenhum rancor; se tinha de perder – e tinha de perder – era preferível que perdesse para o filho. E se precisasse ajudá-lo com um pênalti - bem, por que não?

(Moacyr Scliar)
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"Eros e Psique" — Fernando Pessoa

Eros e Psique

Conta a lenda que dormia

Uma Princesa encantada
A quem só despertaria
"The Cupid and Psyche". William-Adolphe Bouguereau.
Um Infante, que viria
De além do muro da estrada. 

Ele tinha que, tentado, 

Vencer o mal e o bem,
Antes que, já libertado,
Deixasse o caminho errado
Por o que à Princesa vem. 

A Princesa Adormecida,

Se espera, dormindo espera.
Sonha em morte a sua vida,
E orna-lhe a fronte esquecida,
Verde, uma grinalda de hera. 

Longe o Infante, esforçado,

Sem saber que intuito tem,
Rompe o caminho fadado,
Ele dela é ignorado,
Ela para ele é ninguém.

Mas cada um cumpre o Destino —

Ela dormindo encantada,
Ele buscando-a sem tino
Pelo processo divino
Que faz existir a estrada. 

E, se bem que seja obscuro

Tudo pela estrada fora,
E falso, ele vem seguro,
E vencendo estrada e muro,
Chega onde em sono ela mora, 

E, inda tonto do que houvera,

À cabeça, em maresia,
Ergue a mão, e encontra hera,
E vê que ele mesmo era
A Princesa que dormia. 

(Fernando Pessoa)


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