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quarta-feira, 30 de abril de 2014

Tema de Redação - UFG - 2002

Tema de Redação - UFG - 2002

Instruções

- A questão de Redação apresenta um tema único para as três modalidades — dissertação, carta argumentativa e narração. Qualquer que seja a modalidade escolhida por você, considere o tema proposto.
- A fuga ao tema, em qualquer das três propostas, implicará a ANULAÇÃO de sua redação.
- Esta prova traz uma coletânea de textos. Por meio dela, será avaliada sua capacidade de leitura e sua habilidade no tratamento das informações apresentadas. Assim, a consideração desses textos é obrigatória: você não deve, simplesmente, copiar frases ou partes delas, sem que essa transcrição esteja a serviço de seu projeto de redação.
Os textos das quatro últimas questões discursivas, que precedem a questão de Redação, estão associados ao tema.
Desse modo, considere-os também como parte da coletânea.
- Se você optar pela carta argumentativa, não a assine.

Tema

         Os recentes atentados ocorridos nos EUA chocaram grande parte do mundo. Imediatamente após sua ocorrência, especialistas e pessoas comuns de diferentes países, etnias e crenças começaram a discutir as razões e as consequências desses eventos. Apesar disso, sabe-se que essa discussão é anterior aos atentados e terá desdobramentos que ainda se estenderão por muito tempo e que são mais complexos do que os episódios tratados isoladamente.
         Portanto, atenção: as informações que você vai receber e os outros e novos fatos dos quais você está tendo conhecimento até agora não devem ser abordados separadamente, mas devem ser considerados como um todo e de maneira mais aprofundada.
         Em vista do exposto, você vai ler uma coletânea, cujo tema é

Conflitos entre centro e periferia: os atentados aos EUA são violência terrorista contra a humanidade e/ou resistência contra o imperialismo ocidental?

Proposta A - Dissertação

            Apoiando-se na leitura da coletânea, elabore um texto dissertativo, no qual seja defendido o seu ponto de vista a respeito do tema proposto.
            Em seu texto, exponha argumentos e contra-argumentos por meio dos quais você possa analisar e interpretar as informações e os dados contidos na coletânea.

Proposta B - Carta argumentativa

            Com base no tema indicado, escreva uma carta argumentativa a uma das duas personalidades indicadas a seguir, cujas opiniões estão transcritas na coletânea:
         a) ao lingüista e ativista político Noam Chomsky, tentando convencê-lo de que os incidentes ocorridos nos EUA foram, de fato, uma operação terrorista, motivada pelo fanatismo religioso;
             b) ao filósofo e articulista Olavo de Carvalho, tentando convencê-lo de que há razões sociopolíticas que devem ser consideradas em relação a esses episódios.

Proposta C - Narração

            Como você já deve saber, a narração é uma modalidade de texto usada para se contar uma história.
          Assim, tendo como referência as informações da coletânea, escreva uma narrativa em primeira ou terceira pessoa. Para elaborar o projeto de seu texto, você deve levar em consideração as situações, os conflitos e os personagens que, de algum modo, participaram dos eventos que estão relacionados ao tema desta prova. Em vista disso, sugerimos como exemplos: os momentos compartilhados por seqüestradores e passageiros dos aviões atirados contra as duas torres; a oposição entre ocidentais e orientais no Oriente Médio; a relação entre cristãos e fundamentalistas radicais nos EUA, entre outros.
            Independentemente da abordagem escolhida, você deve ter sempre em vista o tema da coletânea.

Coletânea

1
            Do ponto de vista da geopolítica, a organização espacial que caracteriza o capitalismo mundial é representada pelo centro (países do Primeiro Mundo) e pela periferia (países do Terceiro Mundo). “Devemos ter em vista ainda o fato de que o centro econômico nacional, quando considerado sob um ângulo internacional, na realidade é uma parte da periferia do sistema capitalista como um todo, cujas metrópoles mundiais são Nova York, Tóquio, Londres, Berlim, Paris e outras.

(J. W. Vesentini. Sociedade e espaço. Geografia geral e do Brasil. São Paulo: Ática, 1996, p.186-7).

2
            O termo imperialismo é usado “para designar a prática, a teoria e as atitudes de um centro metropolitano dominante governando um território distante”.

(Edward W. Said. Cultura e imperialismo. São Paulo: Companhia das Letras, 1999. p.40).

3
            Chorando sem parar, o imigrante dominicano Ruben Ruiz, 30, conta que minutos antes da tragédia no WTC, foi com sua noiva, a chinesa Lina Cheng, 30, à seguradora onde ela trabalhava, no 97º andar da torre 2. “Alguém disse que, quando as torres foram construídas, os engenheiros garantiram que era uma obra eterna. Outro lembrou que disseram o mesmo do Titanic.”
            Ruiz repete sua história, com detalhes. “Ela quis chegar antes ao trabalho, e eu subi junto. Quando senti o impacto no prédio vizinho, quis descer. Tentei convencê-la a vir comigo mas, como a maioria das pessoas, ela decidiu fazer um telefonema. Era inacreditável. Parecia que todo mundo no escritório decidira telefonar.”
            Ruiz tomou o elevador, mas não passou do 56º andar. “O elevador parou. Em seguida, ouvi uma explosão. O prédio tremeu. O chão subiu e quebrou em pedaços. Pensei que era um terremoto. Saí correndo pelas escadas. Uma massa humana tentava passar. Vi muita gente caída, com crise de nervos, paralisada. Duvido que tenham conseguido se salvar.”
            Assim que Ruiz saiu, a torre 2 desabou. Horas depois, ele continuava sentado numa calçada. Diz não ter esperança de reencontrar a noiva. Mas continua ali, olhando para a coluna de fumaça, no lugar onde ficavam as duas torres.

(José Sacchetta. Folha de S. Paulo. Especial. 13 set. 2001. p.11).

4
            Será que os mortos dos EUA são mais humanos que os da África? Onde está a fronteira da humanidade?

(Brasileira muçulmana, em entrevista ao telejornalismo da Rede Record, em 17 set. 2001).

5
            Perplexo e chocado, gostaria de me solidarizar com as famílias dos inocentes e com todo o povo americano neste momento difícil.
            Desejo ainda que os autores desse crime hediondo, que atinge não somente aos EUA mas a todos nós, democratas e civilizados, sejam identificados e severamente punidos.

(Lael Sampaio de Araújo (São Paulo, SP). Folha de S. Paulo. Painel do Leitor. 13 set. 2001. p.3).

6
            É lamentável e doloroso o que aconteceu com os EUA, mas esse episódio sugere às autoridades políticas e econômicas mundiais uma análise dos fatos.
            O modelo político e econômico vigente não dá conta de atender e, principalmente, não respeita a necessidade de desenvolvimento, de fato, de todos os povos. Pode-se manter um poderio mundial à custa da exploração e da miséria de muitos, mas não se pode prever e controlar a ação dos homens, que muitas vezes realizam o absurdo para se fazerem ouvir.

(Rosângela Aparecida de Moura (S. José dos Campos, SP). Idem, ibidem).

7
            Em tempos de “paz”, “globalização” é praticamente sinônimo de “americanização”. Grosso modo, os juros deles aumentam lá, e você não consegue mais pagar a prestação de sua casa aqui.
            Nestes tempos de “guerra”, a “globalização” pode ficar ainda pior. Eles se matam aos milhares por lá e por aí, e nós vamos pagar o pato aqui. [...]
            O mundo parou para assistir às explosões dos maiores símbolos do capitalismo, o Pentágono (militar) e o World Trade Center (econômico). Depois, para refletir sobre as motivações. Agora, para especular sobre desdobramentos. Tudo pode acontecer. [...]
            Como “amigo e aliado” dos EUA, o Brasil provavelmente vai pagar um alto preço econômico pela guerra alheia. Como “amigo e aliado” do Brasil, os EUA vão entrar na nossa guerra quando o petróleo subir, os investidores sumirem, as bolsas caírem, o dólar disparar e os empregos evaporarem? Amigo é para essas coisas.

(Eliane Cantanhêde. Folha de S. Paulo. 13 set. 2001. p.2).

8

            A modernidade que tanto elogiamos e desejamos nos deu a penicilina, o cinema, a psicanálise, os automóveis e também duas guerras mundiais, o caos urbano e o terrorismo político. O mundo moderno proclamou a morte de Deus só para instituir o fanatismo político, o reino da divisão inexorável, o governo do demônio.
            Num nível superficial, tudo se passa como se a modernidade tivesse desbaratado os sistemas de crenças tradicionais, fazendo com que o mundo ficasse mais flexível e menos movido a hipocrisia. Mas a verdade é bem outra, pois a gente se esquece de que, quando a sociedade liquida com uma diferença, ela logo institui outra.
            Deste modo, a modernidade tem amortecido as lealdades nacionais (que são cívicas e territoriais) mas, em compensação, tem aguçado os pertencimentos locais de cunho religioso ou étnico.

(Roberto DaMatta. Torre de Babel. Rio de Janeiro: Rocco, 1996. p.36-37).

9
            Antes de chegar ao chão o último tijolo do World Trade Center, um enxame de “especialistas” e “analistas internacionais”, todos notoriamente simpáticos ou filiados a movimentos de esquerda, já acorreu aos canais de TV e às páginas de jornais para:

1. Atenuar a má impressão de um crime monstruoso, legitimando-o como “conseqüência natural” da intransigência e do militarismo do governo Bush.
2. Ressaltar além de toda a medida a “vulnerabilidade” dos EUA, contrastando-a com a imagem do poder econômico americano. A primeira dessas coisas é desinformação, a segunda é guerra psicológica. [...]
            Essas duas opiniões, repetidas em nossa mídia com uniformidade exemplar, não são interpretações ou explicações de um ato de guerra: são parte integrante dele. Seus divulgadores não se distinguem, moralmente e talvez nem politicamente, dos planejadores e executores
da operação assassina.

(Olavo de Carvalho, Época. Nº 174, 17 set. 2001. p. 110).

10

Jornal do Brasil — A sociedade americana dificilmente será a mesma depois da última terça-feira. O que vai mudar na cabeça das pessoas?
Chomsky — Os atentados foram um divisor de águas para os Estados Unidos e para o Ocidente de um modo geral. [...] Por ser o primeiro ataque ao território, representa uma grande mudança. O mesmo é verdadeiro para a Europa e o Ocidente de um modo geral. A Europa passou por guerras sangrentas, mas foram internas. O sul — o que hoje chamamos de Terceiro Mundo, as ex-colônias — nunca atacou a Europa, mas foi atacada por ela por centenas de anos. Esta é, portanto, a primeira vez que a História toma uma outra direção: as grandes potências guerreiras são as vítimas e não os perpetradores. É uma mudança gigantesca.
[...]
Jornal do Brasil — Então, como as Forças Armadas, com seus métodos convencionais, poderão lidar com este tipo de inimigo?
Chomsky — [...] Estes são problemas que terão de ser tratados encarando-se as questões que levam a esta situação. Elas crescem a partir de alguma coisa. Não se trata de justificativa para o crime, mas elas nascem de alguma coisa, não surgem do nada. Vêm de uma enorme reação popular de hostilidade em relação às políticas dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha para a região. Tome por exemplo o Iraque. Não se sabe quantas pessoas morreram por causa das sanções. Uns dois anos atrás, a então secretária de Estado [Madeleine] Albright, diante do número de meio milhão de crianças mortas, disse: “Bem, este é um preço alto mas estamos dispostos a pagá-lo.” Imagine o que sentem as pessoas da região. Pense nos territórios ocupados. As pessoas no Ocidente podem decidir não prestar atenção, mas as pessoas lá na região definitivamente prestam atenção e sabem muito bem quem é o responsável. Helicópteros, aviões militares e mísseis atacam alvos civis nos territórios ocupados. São helicópteros, aviões militares e mísseis americanos — e eles sabem disto.

(Entrevista de Noam Chomsky concedida a Gabriela Máximo. Jornal do Brasil. 16 set. 2001. p.14)).


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