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sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

UNIFESP 2009 - PROVA DE LÍNGUA PORTUGUESA

Prova de língua portuguesa - UNIFESP 2009


INSTRUÇÃO: Para responder às questões de números 01 a 04, leia os dois textos a seguir.

Texto 1 

Texto 2

Quando saltaram em terra começou a Maria a sentir certos enojos: foram os dois morar juntos: e daí a um mês manifestaram-se claramente os efeitos da pisadela e do beliscão; sete meses depois teve a Maria um filho (...) E este nascimento é certamente de tudo o que temos dito o que mais nos interessa, porque o menino de quem falamos é o herói desta história.

(Manuel Antônio de Almeida, Memórias de um Sargento de Milícias.)

01.
Com base nas informações do texto 1, é correto afirmar que Leonardo

(A) acreditava que a vida no Brasil poderia ser tão interessante quanto a de Portugal.
(B) saiu de Portugal em companhia de sua namorada, Maria da Hortaliça.
(C) buscava um ofício lucrativo e agradável no Brasil, como o que tinha em Portugal.
(D) veio ao Brasil em razão de seu enfado com a vida que levava em Portugal.
(E) via o Brasil como um lugar de raras chances de êxito pessoal.

02. Com base nas informações verbais e visuais, é correto afirmar que o beliscão de Maria representa

(A) a cumplicidade na situação de aproximação desencadeada pela pisadela.
(B) o desdém da quitandeira frente à intenção de aproximação de Leonardo.
(C) a condenação à atitude de Leonardo, por supor uma intimidade indesejada.
(D) o repúdio da quitandeira à situação, vendo Leonardo como homem desprezível.
(E) a aceitação de uma amizade, mas não de uma aproximação íntima entre ambos.

03. Observando as formas verbais Fora, Aborrecera-se e viera, é correto afirmar que representam ações

(A) simultâneas, por essa razão expressas todas no mesmo tempo e modo verbal.
(B) inconclusas em um tempo anterior ao plano das ações narradas no pretérito imperfeito.
(C) simultâneas e freqüentes no tempo passado, daí a opção pelo pretérito imperfeito.
(D) situadas em diferentes momentos, por isso expressas em diferentes tempos verbais.
(E) situadas num tempo anterior ao plano das ações narradas no pretérito perfeito

04. Analise as afirmações sobre Memórias de um Sargento de Milícias.

I. Esse romance incorpora, dentre outros valores do Romantismo, a idealização da mulher e do amor.
II. O protagonista da história, Leonardinho, filho de Leonardo e Maria da Hortaliça, afasta-se do perfil de herói romântico, e sua história desenvolve-se numa narrativa em que se denunciam as mazelas e pobrezas sociais.
III. A obra retrata a alta sociedade carioca do século XIX, criticando o jogo de interesses sociais.

Está correto apenas o que se afirma em

(A) I.   (B) II.   (C) III.   (D) I e III.   (E) II e III.

INSTRUÇÃO: Os versos de Gregório de Matos são base para responder às questões de números 05 a 07.

Neste mundo é mais rico, o que mais rapa:
Quem mais limpo se faz, tem mais carepa:
Com sua língua ao nobre o vil decepa:
O Velhaco maior sempre tem capa.

05. Nos versos, o eu lírico deixa evidente que

(A) uma pessoa se torna desprezível pela ação do nobre.
(B) o honesto é quem mais aparenta ser desonesto.
(C) geralmente a riqueza decorre de ações ilícitas.
(D) as injúrias, em geral, eliminam as injustiças.
(E) o vil e o rico são vítimas de severas injustiças.

06. Levando em consideração que, em sua produção literária, Gregório de Matos dedicou-se também à sátira irreverente, pode-se afirmar que os versos se marcam

(A) pelo sentimentalismo, fruto da sintonia do eu lírico com a sociedade.
(B) pela indiferença, decorrente da omissão do eu lírico com a sociedade.
(C) pelo negativismo, pois o eu lírico condena a sociedade pelo viés da religião
(D) pela indignação, advinda de um ideal moralizante expresso pelo eu lírico.
(E) pela ironia, já que o eu lírico supõe que todas as pessoas são desonestas.

07. Assinale a alternativa correta.

(A) Na expressão Neste mundo, o pronome refere-se a um mundo utópico, irreal.
(B) Em Quem mais limpo se faz, o pronome se indica reciprocidade.
(C) Língua e capa são termos empregados em sentido denotativo.
(D) A expressão Com sua língua, que remete a nobre, é indicativa de causa.
(E) Em ao nobre, emprega-se a preposição para se evitar a ambiguidade.

08. Leia a charge.


É correto afirmar que

(A) o autor obtém um efeito de humor baseado no emprego de palavras derivadas por prefixação, a partir do substantivo Batman.
(B) os termos batmana e batmãe correspondem ao sujeito composto da oração, na sintaxe do período da primeira fala.
(C) o termo batbarraco está empregado em sentido conotativo, já que barraco, nesse contexto, não remete à ideia de habitação, e sim à de briga e confusão.
(D) o pronome ele assume valor indefinido na oração da primeira fala.
(E) a frase de Batman manteria o sentido se fosse assim redigida: Foi um só batboca!

INSTRUÇÃO: As questões de números 09 a 13 baseiam-se no texto a seguir, extraído de Formação da Literatura Brasileira, de Antonio Candido.

No Brasil, o homem de estudo, de ambição e de sala, que provavelmente era, encontrou condições inteiramente novas. Ficou talvez mais disponível, e o amor por Dorotéia de Seixas o iniciou em ordem nova de sentimentos: o clássico florescimento da primavera no outono.
Foi um acaso feliz para a nossa literatura esta conjunção de um poeta de meia idade com a menina de dezessete anos. O quarentão é o amoroso refinado, capaz de sentir poesia onde o adolescente só vê o embaraçoso cotidiano; e a proximidade da velhice intensifica, em relação à moça em flor, um encantamento que mais se apura pela fuga do tempo e a previsão da morte:

Ah! enquanto os destinos impiedosos
não voltam contra nós a face irada,
façamos, sim, façamos, doce amada,
os nossos breves dias mais ditosos.

09. Em seu texto, Antonio Candido refere-se ao poeta .................., que tornou ......... como tema de sua lírica. Os espaços da frase devem ser preenchidos com

(A) renascentista Luís Vaz de Camões ... Inês de Castro
(B) árcade Tomás Antônio Gonzaga ... Marília
(C) romântico Gonçalves Dias ... a natureza
(D) romântico Álvares de Azevedo ... a morte
(E) árcade Bocage ... Marília

10. Deus me deu um amor no tempo de madureza,
quando os frutos ou não são colhidos ou sabem a verme
Deus – ou foi talvez o diabo – deu-me este amor maduro,
e a um e outro agradeço, pois que tenho um amor.

Estes versos, de Carlos Drummond de Andrade, podem ser tematicamente relacionados ao texto de Antonio Candido, na medida em que

(A) exemplificam a ideia contida em clássico florescimento da primavera no outono.
(B) justificam a idéia de que o adolescente só vê o embaraçoso cotidiano.
(C) negam a ideia de que o homem de quarenta anos é o amoroso.
(D) confirmam a ideia de que o amor se desencanta com a previsão da morte.
(E) se opõem à ideia de que a proximidade da velhice intensifica um encantamento.

11. Nos versos apresentados por Antonio Candido, fica evidente que o eu lírico

(A) reconhece a amada como única forma de não sofrer pela morte.
(B) se mostra frustrado e angustiado pela possibilidade de morrer.
(C) considera o presente desagradável, tanto quanto a morte iminente.
(D) se entrega ao amor da amada para burlar o tempo e atrasar a morte.
(E) convida a amada a aproveitar o presente, já que a morte é inevitável.

12. Em – Ficou talvez mais disponível, e o amor por Doroteia de Seixas o iniciou em ordem nova de sentimentos: o clássico florescimento da primavera no outono. – a vírgula separa orações coordenadas com sujeitos gramaticais .........; os dois pontos introduzem uma .................... .

Os espaços devem ser preenchidos, respectivamente, com

(A) indeterminados ... síntese das informações precedentes
(B) idênticos ... ratificação das informações precedentes
(C) inexistentes ... retificação de informação mal definida anteriormente
(D) distintos ... explicação de informação anterior
(E) ocultos ... citação

13. Se a frase – O quarentão é o amoroso refinado, capaz de sentir poesia onde o adolescente só vê o embaraçoso cotidiano ... – for para o plural e o termo sublinhado substituído por um sinônimo, obtém-se: Os quarentões são os amorosos refinados,

(A) capazes de sentirem poesia onde os adolescentes só vem o confuso cotidiano ...
(B) capaz de sentirem poesia onde os adolescentes só veem o atribulado cotidiano ...
(C) capazes de sentirem poesia onde os adolescentes só vêm o enganoso cotidiano ...
(D) capaz de sentir poesia onde os adolescentes só vêm o encrencado cotidiano ...
(E) capazes de sentir poesia onde os adolescentes só veem o complicado cotidiano ...

14. Leia a charge, publicada por ocasião da morte da comediante Dercy Gonçalves.

I. Sobre a fala da personagem, afirma-se que é exemplo de linguagem coloquial;
II. segue a norma padrão de acentuação das palavras monossilábicas;
III. sugere a demora da chegada da morte, ideia reforçada pelos símbolos empregados na frase

Está correto o que se afirma em

(A) I, II e III. (B) II e III, apenas. (C) I e III, apenas. (D) III, apenas. (E) I, apenas.


INSTRUÇÃO: Leia os dois textos seguintes e responda às questões de números 15 a 20.

Texto I - Dercy Gonçalves, a trágica

Ao Brasil a palavra “infantil” talvez não caiba, mas a Dercy Gonçalves cabe. Ela era infantilizada e infantilizadora. O palavrão era sua arma. Que graça pode haver num palavrão? A mesma de um tombo do palhaço: em princípio, exceto em ocasiões muito inesperadas, nenhuma. Mas as crianças acham engraçado. Igualmente, o palavrão, exceto em ocasiões precisas, não tem graça. Entre Dercy e sua plateia, no entanto, o grande intermediário, a solda, o agente infalível do riso, era o palavrão. “O palavrão... quando virá o palavrão?”, perguntava-se a plateia, ansiosa, quando ele tardava. Dercy Gonçalves sem falar p.q.p. ou filha da p. seria o mesmo que Carmen Miranda sem o turbante e os balangandãs. Dercy não fraudava a expectativa. Se o palhaço não pode deixar de tropeçar, ela não podia deixar de soltar o palavrão. A plateia, tão infantilizada quanto a artista, esbaldava-se.  
No Carnaval de 1991, Dercy, aos 83 anos, desfilou pela escola de samba Viradouro com os seios de fora. Faziam-lhe uma homenagem, mas não bastava sua presença. Era preciso fazer o tipo. Como não lhe deram o microfone para dizer palavrões, ofereceu o corpo. Na opinião predominante, foi um gesto bonito e libertário, mas também era possível enxergar ali um momento semelhante ao encenado por Garrincha na mesma avenida, anos antes – um Garrincha inchado e zumbi, exibido como bicho de circo. Identificada à comédia, Dercy também podia ser entendida como personagem de tragédia.

(Veja, 30.07.2008. Adaptado.)

Texto II - Só mesmo dizendo um palavrão

Dercy não viveu uma personagem. Ela era Dercy até dormindo. E continua sendo após a morte, no samba-enredo entoado em seu enterro e no polêmico túmulo em pé, em forma de pirâmide. No palco e na vida, ela não gostava de drama. Por isso trocou de nome. Das dores de Dolores, seu nome de batismo, ela não tinha nada. Aos infortúnios, respondia com irreverência.

(Época, 28.07.2008. Adaptado.)

15. O autor do primeiro texto deixa claro que

a) os palavrões de Dercy eram considerados engraçados pelas crianças.
b) havia nos palavrões proferidos por Dercy Gonçalves a graça que os justificava.
c) o tombo do palhaço e o palavrão são destituídos de graça, por serem imprevisíveis.
d) o palavrão era um expediente de que se valia Dercy Gonçalves para compor seu tipo.
e) a graça dos tombos e dos palavrões independe da expectativa do público.

16. Dentre as substituições propostas para a expressão sublinhada nos trechos, a única que está de acordo com a linguagem formal é:

(A) Que graça pode haver num palavrão? (ter)
(B) Faziam-lhe uma homenagem ... (pra ela)
(C) .... exceto em ocasiões muito inesperadas, nenhuma. (salvo)
(D) Entre Dercy e sua platéia, no entanto, o grande intermediário ... (a mesma)
(E) ... seria o mesmo que Carmen Miranda sem o turbante e os balangandãs. (que nem)

17. Tendo como elementos o desfile de Carnaval de 1991 e a referência a Garrincha, a aparição de Dercy Gonçalves na avenida é vista pelo autor do primeiro texto como

a) uma exposição um tanto melancólica e decadente da comediante.
b) uma homenagem um tanto exagerada à comediante já decadente.
c) um gesto bonito e libertário, não havendo nela nada trágico.
d) uma situação trágica na opinião da maioria que assistiu ao espetáculo.
e) uma exposição cômica da comediante, como sempre acontecia.

18. O trecho – Se o palhaço não pode deixar de tropeçar, ela não podia deixar de soltar o palavrão. – pode ser parafraseado e substituído por

a) À medida que o palhaço não pode deixar de tropeçar, ela não podia deixar de soltar o palavrão.
b) O palhaço não pode deixar de tropeçar, no entanto ela não podia deixar de soltar o palavrão.
c) Embora o palhaço não pode deixar de tropeçar, ela não podia deixar de soltar o palavrão.
d) O palhaço não pode deixar de tropeçar, tanto que ela não podia deixar de soltar o palavrão.
e) Assim como o palhaço não pode deixar de tropeçar, ela não podia deixar de soltar o palavrão.

19.  Comparando o texto da revista Época ao da revista Veja, é possível afirmar que eles

a) apresentam a comediante como uma figura caricata e bastante frágil.
b) não apresentam da mesma forma a comediante e a autenticidade de seu humor.
c) assinalam a precariedade do humor de Dercy, daí o aspecto trágico de sua vida.
d) convergem no que diz respeito ao perfil trágico da comediante.
e) apontam para o fato de Dercy ter sido uma encenação, por isso pouco convincente.

20. A reescrita da informação implica alteração de sentido em:

a) Só mesmo dizendo um palavrão (Só dizendo um mesmo palavrão)
b) Ela era Dercy até dormindo. (Até dormindo ela era Dercy.)
c) ... e no polêmico túmulo em pé, em forma de pirâmide. (... e no polêmico túmulo, em forma de pirâmide, em pé.)
d) No palco e na vida, ela não gostava de drama. (Ela não gostava de drama, no palco e na vida.)
e) Das dores de Dolores, seu nome de batismo, ela não tinha nada. (Das dores de seu nome de batismo, Dolores, ela não tinha nada.)

INSTRUÇÃO: As questões de números 21 a 24 baseiam-se no texto a seguir.

A ciência do palavrão

Por que diabos m... é palavrão? Aliás, por que a palavra diabos, indizível décadas atrás, deixou de ser um? Outra: você já deve ter tropeçado numa pedra e, para revidar, xingou-a de algo como filha da …, mesmo sabendo que a dita nem mãe tem.
Pois é: há mais mistérios no universo dos palavrões do que o senso comum imagina. Mas a ciência ajuda a desvendá-los. Pesquisas recentes mostram que as palavras sujas nascem em um mundo à parte dentro do cérebro. Enquanto a linguagem comum e o pensamento consciente ficam a cargo da parte mais sofisticada da massa cinzenta, o neocórtex, os palavrões moram nos porões da cabeça. Mais exatamente no sistema límbico. Nossa parte animal fica lá.
E sai de vez em quando, na forma de palavrões. A medicina ajuda a entender isso. Veja o caso da síndrome de Tourette. Essa doença acomete pessoas que sofreram danos no gânglio basal, a parte do cérebro cuja função é manter o sistema límbico comportado. E os palavrões saem como se fossem tiques nervosos na forma de palavras.
Mas você não precisa ter lesão nenhuma para se descontrolar de vez em quando, claro. Justamente por não pensar, quando essa parte animal do cérebro fala, ela consegue traduzir certas emoções com uma intensidade inigualável.
Os palavrões, por esse ponto de vista, são poesia no sentido mais profundo da palavra. Duvida? Então pense em uma palavra forte. Paixão, por exemplo. Ela tem substância, sim, mas está longe de transmitir toda a carga emocional da paixão propriamente dita. Mas com um grande e gordo p.q.p. a história é outra. Ele vai direto ao ponto, transmite a emoção do sistema límbico de quem fala diretamente para o de quem ouve. Por isso mesmo, alguns pesquisadores consideram o palavrão até mais sofisticado que a linguagem comum.

(www.super.abril.com.br/revista/. Adaptado.)

21. De acordo com o texto,

(A) o palavrão é uma expressão legítima do sentimento, estando associado à parte mais instintiva do cérebro.
(B) o sistema límbico difere da linguagem comum, pois sua força de expressão está associada à parte sofisticada do cérebro.
(C) a parte animal do cérebro traduz certas emoções com a mesma intensidade que o faz a linguagem comum.
(D) a linguagem comum, muitas vezes, passa por descontrole, já que é produzida pelo sistema límbico.
(E) o palavrão é proferido pelo fato de haver no cérebro humano regiões suscetíveis a lesões.

22. As interrogações iniciais do texto questionam

(A) a dissociação entre palavrão e cultura.
(B) se palavrão é realmente linguagem.
(C) o status de um palavrão.
(D) o impacto da utilização do palavrão.
(E) a necessidade de se empregar um palavrão.

23. O texto afirma que os palavrões… são poesia no sentido mais profundo da palavra. Isto significa que eles

(A) sugerem os sentimentos pelo viés da subjetividade.
(B) revestem de concretude o sentimento que exprimem.
(C) transmitem a emoção do pensamento consciente.
(D) têm substância como qualquer outra palavra.
(E) têm o poder de expressão da linguagem comum.

24. No texto, o substantivo palavrão, ainda que se mostre flexionado em grau, não reporta à ideia de tamanho. Tal emprego também se verifica em:

(A) Durante a pesquisa, foi colocada uma gotícula do ácido para se definir a reação.
(B) Na casa dos sete anões, Branca de Neve encontrou sete minúsculas caminhas.
(C) Para cortar gastos, resolveu confeccionar livrinhos que cabem nos bolsos.
(D) Não estava satisfeita com aquele empreguinho sem graça e sem perspectivas.
(E) Teve um carrinho de dois lugares, depois um carro de cinco e, hoje, um de sete.

INSTRUÇÃO: Para responder às questões de números 25 a 27, leia os dois trechos.

Trecho 1

No dia seguinte, encontrei Madalena escrevendo. Avizinhei-me nas pontas dos pés e li o endereço de Azevedo Gondim.
– Faz favor de mostrar isso?
Madalena agarrou uma folha que ainda não havia sido dobrada.
(...)
– Vá para o inferno, trate da sua vida.
Aquela resistência enfureceu-me:
– Deixa ver a carta, galinha.
Madalena desprendeu-se e entrou a correr pelo quarto, gritando:
– Canalha!
D. Glória chegou à porta, assustada:
– Pelo amor de Deus! Estão ouvindo lá fora.
Perdi a cabeça:
– Vá amolar a p.q.p. Está mouca, aí com a sua carinha de santa? É isto: p.q.p. E se achar ruim, rua. A senhora e a boa de sua sobrinha, compreende? P.q.p. as duas.

Trecho 2

Penso em Madalena com insistência. Se fosse possível recomeçarmos... Para que enganar-me? Se fosse possível recomeçarmos, aconteceria exatamente o que aconteceu. Não consigo modificar-me, é o que mais me aflige.

25. No trecho 1, o narrador pediu a Madalena que lhe mostrasse o que estava escrevendo. Frente à recusa, sua reação revela

(A) incômodo, por não identificar o destinatário.
(B) ciúme, expresso nos insultos a ela lançados.
(C) descaso, ocasionado pela má conduta da mulher.
(D) medo, na forma contida de se expressar.
(E) resignação, por pressupor-se traído.

26. No trecho 2, o narrador

(A) almeja viver de outra forma para deixar de enganar a si próprio.
(B) atribui a Madalena a impossibilidade de viver plenamente sua vida.
(C) sabe que tudo aconteceria da mesma forma por conta de Madalena.
(D) reconhece, incomodado, a impossibilidade de mudar e viver de outro jeito.
(E) acredita que não pode mudar pelo fato de não ter Madalena a seu lado.

27. Paulo Honório cresceu e afirmou-se no clima da posse, mas a sua união com a professorinha idealista da cidade vem a ser o único e decisivo malogro daquela posição de propriedade estendida a um ser humano. (...) romance do desencontro fatal entre o universo do ter e o universo do ser, [a obra] ficará, na economia extrema de seus meios expressivos, como paradigma do romance psicológico e social da nossa literatura. Também aqui vira escritor o herói decaído a anti-herói depois do suicídio da mulher que a sua violência destruíra.

(Alfredo Bosi, História concisa da Literatura Brasileira.)

Os trechos 1 e 2 e as informações de Alfredo Bosi remetem a

(A) Senhora, de José de Alencar.
(B) Dom Casmurro, de Machado de Assis.
(C) São Bernardo, de Graciliano Ramos.
(D) Fogo morto, de José Lins do Rego.
(E) Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa.

28. Leia os textos e analise as afirmações.

Texto 1
Texto 2

ra terra ter
rat erra ter
rate rra ter
rater ra ter
raterr a ter
raterra terr
araterra ter
raraterra te
rraraterra t
erraraterra
terraraterra

(Décio Pignatari.)

I. A graça do texto 1 decorre da ambigüidade que assume o termo concreta na situação apresentada.
II. O texto 2 é exemplo de poesia concreta, relacionada ao experimentalismo poético, no qual o poema rompe com o verso tradicional e transforma-se em objeto visual.
III. Para a interpretação do texto 2, pode-se prescindir dos signos verbais.

Está correto o que se afirma em

(A) I, apenas. (B) III, apenas. (C) I e II, apenas. (D) I e III, apenas. (E) I, II e III.

INSTRUÇÃO: As questões de números 29 e 30 baseiam-se num poema de Florbela Espanca.

Esquecimento

Esse de quem eu era e era meu,
Que foi um sonho e foi realidade,
Que me vestiu a alma de saudade,
Para sempre de mim desapareceu.

Tudo em redor então escureceu,
E foi longínqua toda a claridade!
Ceguei... tateio sombras... que ansiedade!
Apalpo cinzas porque tudo ardeu!

Descem em mim poentes de Novembro...
A sombra dos meus olhos, a escurecer...
Veste de roxo e negro os crisântemos...

E desse que era meu já me não lembro...
Ah! a doce agonia de esquecer
A lembrar doidamente o que esquecemos...!

29. O esquecimento descrito pelo eu lírico

(A) decorre do seu sentimento de perda e de saudade.
(B) é fruto dos seus sonhos, incompatíveis com a realidade.
(C) torna-o ciente de que sua agonia está por findar.
(D) traduz a esperança, pelo jogo de cores remetendo à claridade.
(E) mostra o amor como intenso e indesejável.

30. Na última estrofe, o eu lírico expressa, por meio de

(A) hipérboles, a dificuldade de se tentar esquecer um grande amor.
(B) metáforas, a forma de se esquecer plenamente a pessoa amada.
(C) eufemismos, as contradições do amor e os sofrimentos dele decorrentes.
(D) metonímias, o bem-estar ligado a amar e querer esquecer.
(E) paradoxos, a impossibilidade de o esquecimento ser levado a cabo.

GABARITO:
01 D 02 A 03 E 04 B 05 C 06 D 07 E 22 C 08 C 09 B 10 A 11 E 12 D 13 E 14 C 15 D
16 C17 A 18 E 19 B 20 A 21 A 23 B  24 D  25 B  26 D  27 C  28 C  29 A  30 E

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