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segunda-feira, 28 de outubro de 2013

UNESP 2013 – Meio do ano – 1º Fase – Prova de Língua Portuguesa

UNESP 2013 – Meio do ano – 1º Fase – Prova de Língua Portuguesa




Instrução: As questões de números 01 a 05 tomam por base uma passagem da crônica O pai, hoje e amanhã, de Carlos Drummond de Andrade (1902-1987).

A civilização industrial, entidade abstrata, nem por isso menos poderosa, encomendou à ciência aplicada a execução de um projeto extremamente concreto: a fabricação do ser humano sem pais.
A ciência aplicada faz o possível para aviar a encomenda a médio prazo. Já venceu a primeira etapa, com a inseminação artificial, que, de um lado, acelera a produtividade dos rebanhos (resultado econômico) e, de outro, anestesia o sentimento filial (resultado moral).
O ser humano concebido por esse processo tanto pode considerar-se filho de dois pais como de nenhum. Em fase mais evoluída, o chamado bebê de proveta dispensará a incubação em ventre materno, desenvolvendo-se sob condições artificiais plenamente satisfatórias. Nenhum vínculo de memória, gratidão, amor, interesse, costume – direi mesmo: de ressentimento ou ódio – o ligará a qualquer pessoa responsável por seu aparecimento. O sêmen, anônimo, obtido por masturbação profissional e recolhido ao banco especializado, por sua vez cederá lugar ao gerador sintético, extraído de recursos da natureza vegetal e mineral. Estará abolida, assim, qualquer participação consciente do homem e da mulher no preparo e formação de uma unidade humana. Esta será produzida sob critérios políticos e econômicos tecnicamente estabelecidos, que excluem a inútil e mesmo perturbadora intromissão do casal. Pai? Mito do passado.
Aparentemente, tal projeto parece coincidir com a tendência, acentuada nos últimos anos, de se contestar a figura tradicional do pai. Eliminando-se a presença incômoda, ter-se-ia realizado o ideal de inúmeros jovens que se revoltam contra ela – o pai de família e o pai social, o governo, a lei – e aspiram à vida isenta de compromissos com valores do passado.
Julgo ilusória esta interpretação. O projeto tecnológico de eliminação do pai vai longe demais no caminho da quebra de padrões. A meu ver, a insubmissão dos filhos aos pais é fenômeno que envolve novo conceito de relações, e não ruptura de relações.

(De notícias e não notícias faz-se a crônica, 1975.)

Questão 01 - Com ironia e fingida concordância, o cronista afirma que o resultado final do projeto encomendado à ciência aplicada será

(A) a prova de que a ciência é mais poderosa que qualquer divindade.
(B) o monopólio genético, com um só país produzindo a população.
(C) a eliminação das diferenças culturais no planeta.
(D) a exclusão dos pais na geração de bebês.
(E) a criação de androides, que substituirão os seres humanos.

Questão 02 - De acordo com a crônica, o autor acredita que a inseminação artificial apresentará uma consequência no sistema de valores familiares:

(A) anestesia do sentimento filial.   (B) negação do poder de Deus.
(C) valorização da figura paterna.   (D) divinização da ciência.        (E) quebra das leis da natureza.

Questão 03 - Com o termo unidade humana, empregado no penúltimo período do terceiro parágrafo, Drummond sugere que

(A) cada ser humano será como um produto industrial qualquer.
(B) cada indivíduo já nascerá como um democrata por natureza.
(C) não haverá diferença de sexo entre as pessoas.
(D) os homens se tornarão solidários e dotados de livre arbítrio.
(E) a população mundial agirá como se fosse um só ser.

Questão 04 - Pai? Mito do passado.
Esta pergunta e sua resposta, de acordo com o conteúdo da crônica, sintetizam um dos argumentos que, aparentemente, fundamentaram o projeto:

(A) a autoridade dos filhos sobre os pais foi a base da civilização.
(B) a figura paterna é necessária à sociedade.
(C) a mãe educa melhor o filho para a vida real.
(D) a estrutura familiar não foi descrita em mitos e lendas.
(E) a função do pai é hoje ultrapassada e dispensável.

Questão 05 - [...] e aspiram à vida isenta de compromissos com valores do passado.
Na frase apresentada, a colocação do acento grave sobre o “a” informa que

(A) o “a” deve ser pronunciado com alongamento, já que se trata de dois vocábulos, um pronome átono e uma preposição, representados por uma só letra.
(B) o “a”, por ser pronome átono, deve ser sempre colocado após o verbo, em ênclise, e pronunciado como um monossílabo tônico.
(C) o verbo “aspirar”, na regência em que é empregado, solicita a preposição “a”, que se funde com o artigo feminino “a”, caracterizando uma ocorrência de crase.
(D) o “a”, como artigo definido, é um monossílabo átono, e o acento grave tem a finalidade de sinalizar ao leitor essa atonicidade.
(E) o termo “de compromissos com valores do passado” exerce a função de adjunto adverbial de “isenta”.

Instrução: As questões de números 06 a 10 tomam por base um fragmento de Glória moribunda, do poeta romântico brasileiro Álvares de Azevedo (1831-1852).

É uma visão medonha uma caveira?
Não tremas de pavor, ergue-a do lodo.
Foi a cabeça ardente de um poeta,
Outrora à sombra dos cabelos loiros.
Quando o reflexo do viver fogoso
Ali dentro animava o pensamento,
Esta fronte era bela. Aqui nas faces
Formosa palidez cobria o rosto;
Nessas órbitas — ocas, denegridas! —
Como era puro seu olhar sombrio!

Agora tudo é cinza. Resta apenas
A caveira que a alma em si guardava,
Como a concha no mar encerra a pérola,
Como a caçoula a mirra incandescente.

Tu outrora talvez desses-lhe um beijo;
Por que repugnas levantá-la agora?
Olha-a comigo! Que espaçosa fronte!
Quanta vida ali dentro fermentava,
Como a seiva nos ramos do arvoredo!
E a sede em fogo das ideias vivas
Onde está? onde foi? Essa alma errante
Que um dia no viver passou cantando,
Como canta na treva um vagabundo,
Perdeu-se acaso no sombrio vento,
Como noturna lâmpada apagou-se?
E a centelha da vida, o eletrismo
Que as fibras tremulantes agitava
Morreu para animar futuras vidas?

Sorris? eu sou um louco. As utopias,
Os sonhos da ciência nada valem.
A vida é um escárnio sem sentido,
Comédia infame que ensanguenta o lodo.
Há talvez um segredo que ela esconde;
Mas esse a morte o sabe e o não revela.
Os túmulos são mudos como o vácuo.
Desde a primeira dor sobre um cadáver,
Quando a primeira mãe entre soluços
Do filho morto os membros apertava
Ao ofegante seio, o peito humano
Caiu tremendo interrogando o túmulo...
E a terra sepulcral não respondia.

(Poesias completas, 1962.)

Questão 06 - Do segundo ao último verso da primeira estrofe do poema, revelam-se características marcantes do Romantismo:

(A) conteúdos e desenvolvimentos bucólicos.
(B) subjetivismo e imaginação criadora.
(C) submissão do discurso poético à musicalidade pura.
(D) observação e descrição meticulosa da realidade.
(E) concepção determinista e mecanicista da natureza.

Questão 07 - Como a concha no mar encerra a pérola, Como a caçoula a mirra incandescente.
Nos versos em destaque, após a palavra caçoula, está subentendida, por elipse, a forma verbal

(A) teme. (B) seca. (C) brilha. (D) queima. (E) encerra.

Questão 08 - Morreu para animar futuras vidas?
No verso em destaque, sob forma interrogativa, o eu lírico sugere com o termo animar que

(A) a morte de uma pessoa deve ser festejada pelos que ficam.
(B) o verdadeiro objetivo da morte é demonstrar o desvalor da vida.
(C) a vida do poeta é mais consistente e animada que todas as outras.
(D) a alma que habitou o corpo talvez possa reencarnar em novo corpo.
(E) outras pessoas passam a viver melhor quando um homem morre.

Questão 09 - E a centelha da vida, o eletrismo
No contexto em que é empregado, o termo eletrismo, que não consta dos dicionários, significa:

(A) o fato de a morte ter sido por choque elétrico.
(B) o dinamismo presente em todos os tecidos do ser vivo.
(C) a característica de quem é versado nas belas-letras.
(D) o resultado do longo processo de letramento.
(E) a existência eletrizante dos poetas românticos.

Questão 10 - Mas esse a morte o sabe e o não revela.
Nas duas orações que constituem este verso, os termos em destaque apresentam o mesmo referente, a saber:

(A) vácuo. (B) escárnio. (C) lodo. (D) cadáver. (E) segredo.
Instrução: As questões de números 11 a 15 tomam por base um fragmento da crônica Letra de canção e poesia, de Antonio Cicero.

Como escrevo poemas e letras de canções, frequentemente perguntam-me se acho que as letras de canções são poemas. A expressão “letra de canção” já indica de que modo essa questão deve ser entendida, pois a palavra “letra” remete à escrita. O que se quer saber é se a letra, separada da canção, constitui um poema escrito.
“Letra de canção é poema?” Essa formulação é inadequada. Desde que as vanguardas mostraram que não se pode determinar a priori quais são as formas lícitas para a poesia, qualquer coisa pode ser um poema. Se um poeta escreve letras soltas na página e diz que é um poema, quem provará o contrário?
Neste ponto, parece-me inevitável introduzir um juízo de valor. A verdadeira questão parece ser se uma letra de canção é um bom poema. Entretanto, mesmo esta última pergunta ainda não é suficientemente precisa, pois pode estar a indagar duas coisas distintas: 1) Se uma letra de canção é necessariamente um bom poema; e 2) Se uma letra de canção é possivelmente um bom poema.
Quanto à primeira pergunta, é evidente que deve ter uma resposta negativa. Nenhum poema é necessariamente um bom poema; nenhum texto é necessariamente um bom poema; logo, nenhuma letra é necessariamente um bom poema. Mas talvez o que se deva perguntar é se uma boa letra é necessariamente um bom poema. Ora, também a essa pergunta a resposta é negativa. Quem já não teve a experiência, em relação a uma letra de canção, de se emocionar com ela ao escutá-la cantada e depois considerá-la insípida, ao lê-la no papel, sem acompanhamento musical? Não é difícil entender a razão disso.
Um poema é um objeto autotélico, isto é, ele tem o seu fim em si próprio. Quando o julgamos bom ou ruim, estamos a considerá-lo independentemente do fato de que, além de ser um poema, ele tenha qualquer utilidade. O poema se realiza quando é lido: e ele pode ser lido em voz baixa, interna, aural. Já uma letra de canção é heterotélica, isto é, ela não tem o seu fim em si própria. Para que a julguemos boa, é necessário e suficiente que ela contribua para que a obra lítero-musical de que faz parte seja boa. Em outras palavras, se uma letra de canção servir para fazer uma boa canção, ela é boa, ainda que seja ilegível. E a letra pode ser ilegível porque, para se estruturar, para adquirir determinado colorido, para ter os sons ou as palavras certas enfatizadas, ela depende da melodia, da harmonia, do ritmo, do tom da música à qual se encontra associada.

( Folha de S.Paulo, 16.06.2007.)

Questão 11 - No primeiro parágrafo de sua crônica, Antonio Cicero apresenta como indagação central:

(A) A literatura é superior ou inferior à música?
(B) Primeiro veio a letra e depois a música, ou ao contrário?
(C) A letra, divorciada da música, é um poema?
(D) Numa canção, o que vale mais: partitura ou execução?
(E) Poema e música são artes distintas ou constituem a mesma arte?

Questão 12 - Nenhum poema é necessariamente um bom poema; nenhum texto é necessariamente um bom poema; logo, nenhuma letra é necessariamente um bom poema.

O advérbio necessariamente, nas três ocorrências verificadas na passagem mencionada, equivale, pelo sentido, a:

(A) forçosamente. (B) raramente. (C) suficientemente. (D) independentemente. (E) frequentemente.

Questão 13 - Sobre a qualidade da canção, o cronista acredita que

(A) qualquer poema que se escreva funcionará bem com a música.
(B) combinar letra e música é pura questão de sorte.
(C) uma letra em nada contribui para a qualidade da canção.
(D) uma boa canção é resultado de boa música e de boa letra.
(E) a música sem a letra se torna descolorida e insossa.

Questão 14 - Com o conceito expresso pelo termo autotélico, o cronista considera que

(A) o poema, quando escrito, já tem implícita uma possível canção.
(B) uma canção é boa ou má segundo o gosto predominante na época.
(C) um poema é um objeto dotado de sua própria finalidade.
(D) tanto letra quanto música são dotadas de sua própria finalidade.
(E) a letra de uma canção pode funcionar sozinha ou com a música.

Questão 15 - Para que a julguemos boa, é necessário e suficiente que ela contribua para que a obra lítero-musical de que faz parte seja boa.
No período em destaque, a oração Para que a julguemos boa indica, em relação à oração principal,

(A) comparação.   (B) concessão.   (C) finalidade.   (D) tempo.   (E) proporção.

Instrução: As questões de números 16 a 20 tomam por base uma passagem de um livro de José Ribeiro sobre o folclore nacional. Curupira

Na teogonia* tupi, o anhangá, gênio andante, espírito andejo ou vagabundo, destinava-se a proteger a caça do campo. Era imaginado, segundo a tradição colhida pelo Dr. Couto de Magalhães, sob a figura de um veado branco, com olhos de fogo.
Todo aquele que perseguisse um animal que estivesse amamentando corria o risco de ver Anhangá e a visão determinava logo a febre e, às vezes, a loucura. O caapora é o mesmo tipo mítico encontrado nas regiões central e meridional e aí representado por um homem enorme coberto de pelos negros por todo o rosto e por todo o corpo, ao qual se confiou a proteção da caça do mato. Tristonho e taciturno, anda sempre montado em um porco de grandes dimensões, dando de quando em vez um grito para impelir a vara. Quem o encontra adquire logo a certeza de ficar infeliz e de ser mal sucedido em tudo que intentar. Dele se originaram as expressões portuguesas caipora e caiporismo, como sinônimo de má sorte, infelicidade, desdita nos negócios. Bilac assim o descreve: “Companheiro do curupira, ou sua duplicata, é o Caapora, ora gigante, ora anão, montado num caititu, e cavalgando à frente de varas de porcos do mato, fumando cachimbo ou cigarro, pedindo fogo aos viajores; à frente dele voam os vaga-lumes, seus batedores, alumiando o caminho”.
Ambos representam um só mito com diferente configuração e a mesma identidade com o curupira e o jurupari, numes que guardam a floresta. Todos convergem mais ou menos para o mesmo fim, sendo que o curupira é representado na região setentrional por um “pequeno tapuio” com os pés voltados para trás e sem os orifícios necessários para as secreções indispensáveis à vida, pelo que a gente do Pará diz que ele é músico. O Curupira ou Currupira, como é chamado no sul, aliás erroneamente, figura em uma infinidade de lendas tanto no norte como no sul do Brasil. No Pará, quando se viaja pelos rios e se ouve alguma pancada longínqua no meio dos bosques, “os romeiros dizem que é o Curupira que está batendo nas sapupemas, a ver se as árvores estão suficientemente fortes para sofrerem a ação de alguma tempestade que está próxima. A função do Curupira é proteger as florestas. Todo aquele que derriba, ou por qualquer modo estraga inutilmente as árvores, é punido por ele com a pena de errar tempos imensos pelos bosques, sem poder atinar com o caminho de casa, ou meio algum de chegar até os seus”. Como se vê, qualquer desses tipos é a manifestação de um só mito em regiões e circunstâncias diferentes.

( O Brasil no folclore, 1970.)

(*) Teogonia, s.f.: 1. Filos. Doutrina mística relativa ao nascimento dos deuses, e que frequentemente se relaciona com a formação do mundo. 2. Conjunto de divindades cujo culto forma o sistema relig religioso dum povo politeísta. (Dicionário Aurélio Eletrônico – Século XXI.)

Questão 16 - Todo aquele que perseguisse um animal que estivesse amamentando corria o risco de ver Anhangá [...].
Se a frase apresentada for reescrita trocando-se perseguisse, que está no pretérito imperfeito do modo subjuntivo, por perseguir, futuro do mesmo modo, as formas estivesse e corria assumirão, por correlação de modos e tempos, as seguintes flexões:

(A) estiver e correu.    (B) estaria e correria.    (C) estará e corria. 
(D) esteja e correra.    (E) estiver e correrá.

Questão 17 - Segundo o texto, a lenda do Caapora foi responsável pela criação de uma palavra no português com o significado de dor, sofrimento, má sorte, fracasso. Tal palavra é:

(A) destino.   (B) fatalidade.   (C) jurupari.   (D) tapuio.   (E) caiporismo.

Questão 18 - [...] à frente dele voam os vaga-lumes, seus batedores, alumiando o caminho.
Eliminando-se o aposto, a frase em destaque apresentará, de acordo com a norma-padrão, a seguinte forma:

(A) à frente voam os vaga-lumes, seus batedores, alumiando o caminho.
(B) à frente dele voam os vaga-lumes batedores, alumiando o caminho.
(C) à frente dele voam seus batedores, alumiando o caminho.
(D) à frente dele voam os vaga-lumes, alumiando o caminho.
(E) à frente dele voam os vaga-lumes, seus batedores, alumiando.

Questão 19 - Anhangá e Caapora se identificam, segundo o texto, pelo fato de caracterizarem

(A) um mesmo tipo mítico com aparências diferentes.
(B) a influência do cristianismo nas lendas dos indígenas.
(C) a reação dos colonizadores ao impacto destruidor dos indígenas.
(D) a presença da mitologia grega nas lendas aborígines.
(E) lendas trazidas da Europa pelos portugueses.

Questão 20 - Tomando por base as informações do texto, as ações de Anhangá, Caapora e Curupira seriam consideradas, na atualidade,

(A) poéticas.   (B) ecológicas.   (C) comerciais.   (D) estéticas.   (E) esportivas.

GABARITO


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