Seguidores

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

FUVEST 2007 – 1º Fase – PROVA DE LÍNGUA PORTUGUESA

FUVEST 2007 – 1º FASE – PROVA DE LÍNGUA PORTUGUESA

ps. Foi mantida a numeração original da prova.

60 - No trecho da canção de Paulinho da Viola e nos quadrinhos de Juarez Machado, representa-se um desencontro, cuja razão maior está

a) na eliminação dos desejos pessoais.
b) nas imposições do cotidiano moderno.
c) na falta de confiança no outro.
d) na expectativa romântica das pessoas.
e) no mecanismo egoísta das paixões.

61 O uso reiterado das reticências na letra da canção denota o propósito de marcar, na escrita,

a) as interrupções que ocorreram na breve e apressada conversa.
b) a ausência de interesse das personagens em dialogar.
c) a supressão de falas que poderiam parecer agressivas.
d) a enumeração de acontecimentos que deram origem ao encontro.
e) as omissões de fatos relevantes que as personagens decidem ocultar.

Texto para as questões de 62 a 64

O anúncio luminoso de um edifício em frente, acendendo e apagando, dava banhos intermitentes de sangue na pele de seu braço repousado, e de sua face. Ela estava sentada junto à janela e havia luar; e nos intervalos desse banho vermelho ela era toda pálida e suave.
Na roda havia um homem muito inteligente que falava muito; havia seu marido, todo bovino; um pintor louro e nervoso; uma senhora recentemente desquitada, e eu. Para que recensear a roda que falava de política e de pintura? Ela não dava atenção a ninguém. Quieta, às vezes sorrindo quando alguém lhe dirigia a palavra, ela apenas mirava o próprio braço, atenta à mudança da cor. Senti que ela fruía nisso um prazer silencioso e longo. “Muito!”, disse quando alguém lhe perguntou se gostara de um certo quadro – e disse mais algumas palavras; mas mudou um pouco a posição do braço e continuou a se mirar, interessada em si mesma, com um ar sonhador.

Rubem Braga, “A mulher que ia navegar”.

62 O termo sublinhado no trecho “Senti que ela fruía nisso um prazer silencioso e longo” refere-se, no texto,

a) ao sorriso que ela dava quando lhe dirigiam a palavra.
b) ao prazer silencioso e longo que ela fruía ao sorrir.
c) à percepção do efeito das luzes do anúncio em seu braço.
d) à falta de atenção aos que se encontravam ali reunidos.
e) à alegria da roda de amigos que falavam de política e de pintura.

63 Entre os dois segmentos “nos intervalos desse banho vermelho” e “ela era toda pálida e suave”, expressa-se um contraste que também ocorre entre

a) “O anúncio luminoso de um edifício” e “banhos intermitentes de sangue”.
b) “acendendo e apagando” e “banhos intermitentes de sangue”.
c) “acendendo e apagando” e “um edifício em frente”.
d) “Ela estava sentada junto à janela” e “havia luar”.
e) “banhos intermitentes de sangue” e “havia luar”.

64 “‘Muito!’, disse quando alguém lhe perguntou se gostara de um certo quadro.”

Se a pergunta a que se refere o trecho fosse apresentada em discurso direto, a forma verbal correspondente a “gostara” seria

a) gostasse.
b) gostava.
c) gostou.
d) gostará.
e) gostaria.

Texto para as questões de 65 a 67

Sou feliz pelos amigos que tenho. Um deles muito sofre pelo meu descuido com o vernáculo. Por alguns anos ele sistematicamente me enviava missivas eruditas com precisas informações sobre as regras da gramática, que eu não respeitava, e sobre a grafia correta dos vocábulos, que eu ignorava. Fi-lo sofrer pelo uso errado que fiz de uma palavra no último “Quarto de Badulaques”. Acontece que eu, acostumado a conversar com a gente das Minas Gerais, falei em “varreção” – do verbo “varrer”. De fato, tratava-se de um equívoco que, num vestibular, poderia me valer uma reprovação. Pois o meu amigo, paladino da língua portuguesa, se deu ao trabalho de fazer um xerox da página 827 do dicionário (...). O certo é “varrição”, e não “varreção”. Mas estou com medo de que os mineiros da roça façam troça de mim, porque nunca os ouvi falar de “varrição”. E se eles rirem de mim não vai me adiantar mostrar-lhes o xerox da página do dicionário (...). Porque para eles não é o dicionário que faz a língua. É o povo. E o povo, lá nas montanhas de Minas Gerais, fala “varreção”, quando não “barreção”. O que me deixa triste sobre esse amigo oculto é que nunca tenha dito nada sobre o que eu escrevo, se é bonito ou se é feio. Toma a minha sopa, não diz nada sobre ela, mas reclama sempre que o prato está rachado.


65 Ao manifestar-se quanto ao que seja “correto” ou “incorreto” no uso da língua portuguesa, o autor revela sua preocupação em

a) atender ao padrão culto, em “fi-lo”, e ao registro informal, em “varrição”.
b) corrigir formas condenáveis, como no caso de “barreção”, em vez de “varreção”.
c) valer-se o tempo todo de um registro informal, de que é exemplo a expressão “missivas eruditas”.
d) ponderar sobre a validade de diferentes usos da língua, em diferentes contextos.
e) negar que costume cometer deslizes quanto à grafia dos vocábulos.

66 O amigo é chamado de “paladino da língua portuguesa” porque

a) costuma escrever cartas em que aponta incorreções gramaticais do autor.
b) sofre com os constantes descuidos dos leitores de “Quarto de Badulaques”.
c) julga igualmente válidas todas as variedades da língua portuguesa.
d) comenta criteriosamente os conteúdos dos textos que o autor publica.
e) é tolerante com os equívocos que poderiam causar reprovação no vestibular.

67 “Toma a minha sopa, não diz nada sobre ela, mas reclama sempre que o prato está rachado.”

Considerada no contexto, essa frase indica, em sentido figurado, que, para o autor,

a) a forma e o conteúdo são indissociáveis em qualquer mensagem.
b) a forma é um acessório do conteúdo, que é o essencial.
c) o conteúdo prescinde de qualquer forma para se apresentar.
d) a forma perfeita é condição indispensável para o sentido exato do conteúdo.
e) o conteúdo é impreciso, se a forma apresenta alguma imperfeição.


Texto para as questões 68 e 69

Das vãs sutilezas

Os homens recorrem por vezes a sutilezas fúteis e vãs para atrair nossa atenção. (...) Aprovo a atitude daquele personagem a quem apresentaram um homem que com tamanha habilidade atirava um grão de alpiste que o fazia passar pelo buraco de uma agulha sem jamais errar o golpe. Tendo pedido ao outro que lhe desse uma recompensa por essa habilidade excepcional, atendeu o solicitado, de maneira prazenteira e justa a meu ver, mandando entregar-lhe três medidas de alpiste a fim de que pudesse continuar a exercer tão nobre arte. É prova irrefutável da fraqueza de nosso julgamento apaixonarmo-nos pelas coisas só porque são raras e inéditas, ou ainda porque apresentam alguma dificuldade, muito embora não sejam nem boas nem úteis em si.

Montaigne, Ensaios.

68 O texto revela, em seu desenvolvimento, a seguinte estrutura:

a) formulação de uma tese; ilustração dessa tese por meio de uma narrativa; reiteração e expansão da tese inicial.
b) formulação de uma tese; refutação dessa tese por meio de uma narrativa; formulação de uma nova tese, inspirada pela narrativa.
c) desenvolvimento de uma narrativa; formulação de tese inspirada nos fatos dessa narrativa; demonstração dessa tese.
d) segmento narrativo introdutório; desenvolvimento da narrativa; formulação de uma hipótese inspirada nos fatos narrados.
e) segmento dissertativo introdutório; desenvolvimento de uma descrição; rejeição da tese introdutória.

69 A expressão sublinhada no trecho “...ou ainda porque apresentam alguma dificuldade, muito embora não sejam nem boas nem úteis em si” pode ser substituída, sem prejuízo para o sentido, por

a) desde que.   b) contanto que.   c) uma vez que.   d) a não ser que.   e) se bem que.

Texto para as questões 70 e 71

Já a tarde caía quando recolhemos muito lentamente. E toda essa adorável paz do céu, realmente celestial, e dos campos, onde cada folhinha conservava uma quietação contemplativa, na luz docemente desmaiada, pousando sobre as coisas com um liso e leve afago, penetrava tão profundamente Jacinto, que eu o senti, no silêncio em que caíramos, suspirar de puro alívio.
 Depois, muito gravemente:
– Tu dizes que na Natureza não há pensamento...
– Outra vez! Olha que maçada! Eu...
– Mas é por estar nela suprimido o pensamento que lhe está poupado o sofrimento! Nós, desgraçados, não podemos suprimir o pensamento, mas certamente o podemos disciplinar e impedir que ele se estonteie e se esfalfe, como na fornalha das cidades, ideando gozos que nunca se realizam, aspirando a certezas que nunca se atingem!... E é o que aconselham estas colinas e estas árvores à nossa alma, que vela e se agita – que viva na paz de um sonho vago e nada apeteça, nada tema, contra nada se insurja, e deixe o mundo rolar, não esperando dele senão um rumor de harmonia, que a embale e lhe favoreça o dormir dentro da mão de Deus. Hem, não te parece, Zé Fernandes?
– Talvez. Mas é necessário então viver num mosteiro, com o temperamento de S. Bruno, ou ter cento e quarenta contos de renda e o desplante de certos Jacintos...

Eça de Queirós, A cidade e as serras.

70 Considerado no contexto de A cidade e as serras, o diálogo presente no excerto revela que, nesse romance de Eça de Queirós, o elogio da natureza e da vida rural

a) indica que o escritor, em sua última fase, abandonara o Realismo em favor do Naturalismo, privilegiando, de certo modo, a observação da natureza em detrimento da crítica social.
b) demonstra que a consciência ecológica do escritor já era desenvolvida o bastante para fazê-lo rejeitar, ao longo de toda a narrativa, as intervenções humanas no meio natural.
c) guarda aspectos conservadores, predominantemente voltados para a estabilidade social, embora o escritor mantenha, em certa medida, a prática da ironia que o caracteriza.
d) serve de pretexto para que o escritor critique, sob certos aspectos, os efeitos da revolução industrial e da urbanização acelerada que se haviam processado em Portugal nos primeiros anos do Século XIX.
e) veicula uma sátira radical da religião, embora o escritor simule conservar, até certo ponto, a veneração pela Igreja Católica que manifestara em seus primeiros romances.

71 Entre os seguintes fragmentos do excerto, aquele que, tomado isoladamente, mais se coaduna com as idéias expressas na poesia de Alberto Caeiro é o que está em

a) “toda essa adorável paz do céu, realmente celestial”.
b) “cada folhinha conservava uma quietação contemplativa”.
c) “na Natureza não há pensamento”.
d) “dormir dentro da mão de Deus”.
e) “é necessário então viver num mosteiro”.

72 Considere as seguintes afirmações:

I. Assim como Jacinto, de A cidade e as serras, passa por uma verdadeira “ressurreição” ao mergulhar na vida rural, também Augusto Matraga, de Sagarana, experimenta um “ressurgimento” associado a uma renovação da natureza.
II. Também Fabiano, de Vidas secas, em geral pouco falante, experimenta uma transformação ligada à natureza: a chegada das chuvas e a possibilidade de renovação da vida tornam-no loquaz e desejoso de expressar-se.
III. Já Iracema, quando debilitada pelo afastamento de Martim, não encontra na natureza forças capazes de  salvar-lhe a vida.

Está correto o que se afirma em

a) I, somente.   b) II, somente.   c) I e III, somente.   d) II e III, somente.   e) I, II e III.

73 Um tipo social que recebe destaque tanto nas Memórias de um sargento de milícias quanto em Dom Casmurro, merecendo, inclusive, em cada uma dessas obras, um capítulo cujo título o designa, é o

a) traficante de escravos.   b) malandro.   c) capoeira.   d) agregado.   e) meirinho.

74 Procura da Poesia

Não faças versos sobre acontecimentos.
Não há criação nem morte perante a poesia.
Diante dela, a vida é um sol estático,
não aquece nem ilumina.
 (...)
Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.
 (...)

Carlos Drummond de Andrade, A rosa do povo.

No contexto do livro, a afirmação do caráter verbal da poesia e a incitação a que se penetre “no reino das palavras”, presentes no excerto, indicam que, para o poeta de A rosa do povo,

a) praticar a arte pela arte é a maneira mais eficaz de se opor ao mundo capitalista.
b) a procura da boa poesia começa pela estrita observância da variedade padrão da linguagem.
c) fazer poesia é produzir enigmas verbais que não podem nem devem ser interpretados.
d) as intenções sociais da poesia não a dispensam de ter em conta o que é próprio da linguagem.
e) os poemas metalingüísticos, nos quais a poesia fala apenas de si mesma, são superiores aos poemas que falam também de outros assuntos.

75 Quanto à concordância verbal, a frase inteiramente correta é:

a) Cada um dos participantes, ao inscrever-se, deverão receber as orientações necessárias.
b) Os que prometem ser justos, em geral, não conseguem sê-lo sem que se prejudiquem.
c) Já deu dez horas e a entrega das medalhas ainda não foram feitas.
d) O que se viam era apenas destroços, cadáveres e ruas completamente destruídas.
e) Devem ter havido acordos espúrios entre prefeitos e vereadores daqueles municípios.


GABARITO

60 – B   61 – A   62 – C   63 – E   64 – C   65 – D   66 – A   67 – B   
68 – A   69 – E   70 – C   71 – C   72 – E   73 – D   74 – D   75 – B


Conheça as apostilas do blog Veredas da Língua. Clique em uma das imagens abaixo e saiba como adquiri-las.


















Leia também:
Mackenzie 2012 – 2º Semestre – Prova de Língua Portuguesa
UNESP 2010 – 1º Fase – Prova de Língua Portuguesa
FGV– ADM – 2013 – 2º semestre – Prova de Língua Portuguesa

Nenhum comentário:

Postar um comentário