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sábado, 31 de agosto de 2013

FUVEST 2005 – 1º Fase – PROVA DE LÍNGUA PORTUGUESA

FUVEST 2005 – 1º FASE – PROVA DE LÍNGUA PORTUGUESA


Texto para as questões de 01 a 08

O filme Cazuza – O tempo não pára me deixou numa espécie de felicidade pensativa. Tento explicar por quê.
Cazuza mordeu a vida com todos os dentes. A doença e a morte parecem ter-se vingado de sua paixão exagerada de viver. É impossível sair da sala de cinema sem se perguntar mais uma vez: o que vale mais, a preservação de nossas forças, que garantiria uma vida mais longa, ou a livre procura da máxima intensidade e variedade de experiências?
Digo que a pergunta se apresenta “mais uma vez” porque a questão é hoje trivial e, ao mesmo tempo, persecutória. (...) Obedecemos a uma proliferação de regras que são ditadas pelos progressos da prevenção. Ninguém imagina que comer banha, fumar, tomar pinga, transar sem camisinha e combinar, sei lá, nitratos com Viagra seja uma boa idéia. De fato não é. À primeira vista, parece lógico que concordemos sem hesitação sobre o seguinte: não há ou não deveria haver prazeres que valham um risco de vida ou, simplesmente, que valham o risco de encurtar a vida. De que adiantaria um prazer que, por assim dizer, cortasse o galho sobre o qual estou sentado?
Os jovens têm uma razão básica para desconfiar de uma moral prudente e um pouco avara que sugere que escolhamos sempre os tempos suplementares. É que a morte lhes parece distante, uma coisa com a qual a gente se preocupará mais tarde, muito mais tarde. Mas sua vontade de caminhar na corda bamba e sem rede não é apenas a inconsciência de quem pode esquecer que “o tempo não pára”. É também (e talvez sobretudo) um questionamento que nos desafia: para disciplinar a experiência, será que temos outras razões que não sejam só a decisão de durar um pouco mais?

(Contardo Calligaris, Folha de S. Paulo)

01 - A reação caracterizada como “uma espécie de felicidade pensativa” justifica-se, no texto, pelo fato de que o filme a que o autor assistiu

a) convenceu-o de que a experiência das paixões mais radicais não é incompatível com os “progressos da prevenção”.
b) convenceu-o de que arriscar a vida não vale a pena porque é prudente nos pouparmos para viver os “tempos suplementares”.
c) proporcionou-lhe um exemplo de prazer vital e intenso, ao mesmo tempo em que o fez refletir sobre o “risco de encurtar a vida”.
d) proporcionou-lhe um prazer tão intenso que passou a defender a lucidez “de quem pode esquecer que o tempo não pára”.
e) proporcionou-lhe um estado de grande satisfação e o fez concluir que é indefensável a tese da “preservação de nossas forças”.

02 Considerando-se o contexto, traduz-se corretamente o sentido de uma frase do texto em:

a) “Cazuza mordeu a vida com todos os dentes” = Cazuza respondeu com ressentimento a todas as adversidades da vida.
b) “(...) uma moral prudente e um pouco avara que sugere que escolhamos sempre os tempos suplementares” = uma moral rígida e mesquinha que nos incita a um prazer excessivo.
c) “Obedecemos a uma proliferação de regras que são ditadas pelos progressos da prevenção” = Curvamo-nos aos inúmeros preceitos que nos deixam prevenidos em relação ao progresso.
d) “(...) cortasse o galho sobre o qual estou sentado” = privilegiasse o meu instinto de sobrevivência.
e) “(...) a questão é hoje trivial e, ao mesmo tempo, persecutória” = mesmo banalizada, a questão preocupa o tempo todo.

03 Quando o autor pergunta: “para disciplinar a experiência, será que temos outras razões que não sejam só a decisão de durar um pouco mais?”, ele

a) refuta a validade das experiências que sejam vividas sem muita disciplina.
b) desconfia da decisão de quem disciplina uma experiência para fazê-la durar mais tempo.
c) considera que prolongar a vida pode ser o único motivo para vivermos com prudência.
d) duvida de que a disciplina de uma experiência nos leve à decisão de prolongarmos a vida.
e) questiona a idéia de que a experiência é a melhor base para a tomada de decisões.

04 Considere as seguintes afirmações:

I. Os trechos “mordeu a vida com todos os dentes” e “caminhar na corda bamba e sem rede” podem ser compreendidos tanto no sentido figurado quanto no sentido literal.
II. Na frase “De que adiantaria um prazer que (...) cortasse o galho sobre o qual estou sentado”, o sentido da expressão sublinhada corresponde ao de “se está sentado”.
III. Em “mais uma vez”, no início do terceiro parágrafo, o autor empregou aspas para indicar a precisa retomada de uma expressão do texto.

Está correto o que se afirma em

a) I, somente.   b) I e II, somente.   c) II, somente.   d) II e III, somente.   e) I, II e III.

05 Considere as seguintes frases:

I. O autor do texto assistiu ao filme sobre Cazuza.
II. O filme provocou-lhe uma viva e complexa reação.
III. Sua reação mereceu uma análise.

O período em que as frases acima estão articuladas de modo correto e coerente é:

a) Tendo assistido ao filme sobre Cazuza, este provocou o autor do texto numa reação tão viva e complexa que lhe mereceu uma análise.
b) Mereceu uma análise, a viva e complexa reação, provocadas pelo filme que o autor do texto assistiu sobre Cazuza.
c) A reação que provocou no autor do texto o filme sobre Cazuza foi tão viva e complexa que mereceu uma análise.
d) Foi viva e complexa a reação, que aliás mereceu uma análise, provocado pelo filme sobre Cazuza, que o autor assistiu.
e) O filme sobre Cazuza que foi assistido pelo autor provocoulhe uma reação viva e complexa, que a sua análise foi merecida.

- Entre as frases “Cazuza mordeu a vida com todos os dentes” e “A doença e a morte parecem ter-se vingado de sua paixão exagerada de viver” estabelece-se um vínculo que pode ser corretamente explicitado com o emprego de

a) desde que.   b) tanto assim que.   c) uma vez que.    d) à medida que.    e) apesar de que.

07 As opções de vida que se caracterizam pela “preservação de nossas forças” e pela “procura da máxima intensidade e variedade de experiências” estão metaforizadas no texto, respectivamente, pelas expressões:

a) “regras” e “moral prudente”.
b) “galho” e “corda bamba”.
c) “dentes” e “rede”.
d) “prazeres” e “progressos da prevenção”.
e) “risco de vida” e “tempos suplementares”.

08 Embora predomine no texto a linguagem formal, é possível identificar nele marcas de coloquialidade, como as expressões assinaladas em:

a) “mordeu a vida” e “moral prudente e um pouco avara”.
b) “sem se perguntar mais uma vez” e “não deveria haver prazeres”.
c) “parece lógico” e “que não sejam só a decisão”.
d) “e combinar, sei lá, nitratos” e “a gente se preocupa”.
e) “que valham um risco de vida” e “(e talvez sobretudo) um questionamento”.

Texto para as questões de 09 a 15

     “Assim, pois, o sacristão da Sé, um dia, ajudando à missa, viu entrar a dama, que devia ser sua colaboradora na vida de Dona Plácida. Viu-a outros dias, durante semanas inteiras, gostou, disse-lhe alguma graça, pisou-lhe o pé, ao acender os altares, nos dias de festa. Ela gostou dele, acercaram-se, amaram-se. Dessa conjunção de luxúrias vadias brotou Dona Plácida. É de crer que Dona Plácida não falasse ainda quando nasceu, mas se falasse podia dizer aos autores de seus dias: Aqui estou. Para que me chamastes? E o sacristão e a sacristã naturalmente lhe responderiam: Chamamos-te para queimar os dedos nos tachos, os olhos na costura, comer mal, ou não comer, andar de um lado para outro, na faina, adoecendo e sarando, com o fim de tornar a adoecer e sarar outra vez, triste agora, logo desesperada, amanhã resignada, mas sempre com as mãos no tacho e os olhos na costura, até acabar um dia na lama ou no hospital; foi para isso que te chamamos, num momento de simpatia”.

(Machado de Assis, Memórias póstumas de Brás Cubas)

09 No trecho acima, Brás Cubas reflete sobre a história de Dona Plácida, reconhecendo a extrema dureza de sua vida. No contexto do livro, esse reconhecimento revela que Brás Cubas, embora perceba com precisão o desamparo dos pobres, não faz mais que

a) procurar remediá-lo com soluções fantasiosas, como a invenção do emplasto, cuja finalidade era a de eliminar as desigualdades sociais.
b) declarar sua impotência para saná-lo, tendo em vista a extensão desse problema na sociedade brasileira do Segundo Reinado.
c) considerá-lo do ponto de vista de seus próprios interesses, interpretando-o conforme lhe é mais conveniente.
d) transformá-lo em recurso retórico, utilizado por ele nos discursos demagógicos que proferia na Câmara dos Deputados.
e) interpretá-lo conforme a doutrina do Humanitismo, segundo a qual os sofrimentos dos indivíduos servem para purgar os pecados cometidos em vidas passadas.
10 A vida de Dona Plácida, referida no excerto, é muito semelhante à vida de trabalhos duros e incessantes de Juliana (O primo Basílio), com a diferença de que a personagem de Eça de Queirós

a) não mais se fiava no favor dos patrões, passando a arquitetar um plano astucioso, embora indigno, para emancipar-se.
b) não era uma agregada, como Dona Plácida, mas uma criada, condição que a tornava ainda mais desprovida de direitos legais.
c) pautava sua conduta por uma rígida moral puritana, que a fazia revoltar-se contra os amores adúlteros da patroa.
d) tinha menos motivos para revoltar-se, tendo em vista a consideração de que gozava na casa dos patrões.
e) não temia miséria nem desamparo e, por isso, enfrentava os patrões de modo aberto e corajoso.

11 Tal como narradas neste trecho, as circunstâncias que levam ao nascimento de Dona Plácida apresentam semelhança maior com as que conduzem ao nascimento da personagem

a) Leonardo (filho), de Memórias de um sargento de milícias.
b) Juliana, de O primo Basílio.
c) Macunaíma, de Macunaíma.
d) Augusto Matraga, de Sagarana.
e) Olímpico, de A hora da estrela.

12 Consideradas no contexto em que ocorrem, constituem um caso de antítese as expressões

a) “disse-lhe alguma graça” - “pisou-lhe o pé”.
b) “acercaram-se” - “amaram-se”.
c) “os dedos nos tachos” - “os olhos na costura”.
d) “logo desesperada” – “amanhã resignada”.
e) “na lama” – “no hospital”.

13 Dos verbos no infinitivo que ocorrem na resposta do sacristão e da sacristã, o único que deve ser entendido, necessariamente, em dois sentidos diferentes é:

a) “queimar”. b) “comer”.   c) “andar”.   d) “adoecer”.   e) “sarar”.

14 A palavra assinalada no trecho “que devia ser sua colaboradora na vida de Dona Plácida” mantém uma relação sinonímica com a palavra dia(s) em:

a) “um dia, (...) viu entrar a dama”.
b) “Viu-a outros dias”.
c) “ao acender os altares, nos dias de festa”.
d) “podia dizer aos autores de seus dias”.
e) “até acabar um dia na lama”.

15 No trecho “pisou-lhe o pé”, o pronome lhe assume valor possessivo, tal como ocorre em uma das seguintes frases, também extraídas de Memórias póstumas de Brás Cubas:

a) “falei-lhe do marido, da filha, dos negócios, de tudo”.
b) “mas enfim contei-lhe o motivo da minha ausência”.
c) “se o relógio parava, eu dava-lhe corda”.
d) “Procure-me, disse eu, poderei arranjar-lhe alguma coisa”.
e) “envolvida numa espécie de mantéu, que lhe disfarçava as ondulações do talhe”.

Texto para as questões 16 e 17

ESCREVO-LHE ESTA CARTA...

Um ano depois, programa de alfabetização no Acre apresenta resultados acima da média e, como prova final, bilhetes comoventes

Repleto de adultos recém-alfabetizados, o Teatro Plácido de Castro, na capital do Acre, Rio Branco, quase veio abaixo com a leitura do bilhete escrito pela dona de casa Sebastiana Costa para o marido: “Manoel, eu fui para aula. Se quiser comida esquente. Foi eu que escrevi.” Atordoada com os aplausos, a franzina Sebastiana desceu do palco com a cabeça baixa e os ombros encurvados.
Casada há trinta anos e mãe de oito filhos, ela só descontraiu um pouco quando a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, comentou que o bilhete não precisava ser
interpretado como um desaforo, embora passasse um sentimento de libertação. Alfabetizada apenas aos dezessete anos, a ministra Marina conhece como poucos o drama daqueles que não são capazes de decifrar o letreiro de um ônibus ou de rabiscar uma simples mensagem.

(Revista ISTOÉ)

16 O bilhete escrito por Sebastiana Costa tem linguagem simples, mas nem por isso o que dizem suas palavras deixa de conotar um significado mais profundo,

a) apontado pelo redator do texto, num comentário pessoal, em tom opinativo.
b) indicado no comentário feito pela ministra do Meio Ambiente.
c) esclarecido tão logo irrompem os intensos aplausos do público.
d) evidenciado pela expressão corporal de Sebastiana, ao descer do palco.
e) relacionado ao fato de o público ser composto por adultos recém-alfabetizados.

17 O título “Escrevo-lhe esta carta...”

a) contém ironia, uma vez que o bilhete citado no texto não é propriamente uma carta.
b) resulta de um procedimento intertextual, pois retoma uma expressão freqüente na linguagem das cartas.
c) refere-se também ao texto do autor da reportagem, redigido por ele como se fosse uma carta.
d) termina com reticências para deixar subentendido o sarcasmo do autor da reportagem.
e) imita a variedade lingüística que caracteriza o bilhete reproduzido na reportagem.

Texto para as questões de 18 a 20

   Sim, que, à parte o sentido prisco, valia o ileso gume do vocábulo pouco visto e menos ainda ouvido, raramente usado, melhor fora se jamais usado. Porque, diante de um gravatá, selva moldada em jarro jônico, dizer-se apenas drimirim ou amormeuzinho é justo; e, ao descobrir, no meio da mata, um angelim que atira para cima cinqüenta metros de tronco e fronde, quem não terá ímpeto de criar um vocativo absurdo e bradá-lo – Ó colossalidade! – na direção da altura?

(João Guimarães Rosa, “São Marcos”, in Sagarana)

prisco = antigo, relativo a tempos remotos.
gravatá = planta da família das bromeliáceas.

18 Neste excerto, o narrador do conto “São Marcos” expõe alguns traços de estilo que correspondem a características mais gerais dos textos do próprio autor, Guimarães Rosa. Entre tais características só NÃO se encontra

a) o gosto pela palavra rara.
b) o emprego de neologismos.
c) a conjugação de referências eruditas e populares.
d) a liberdade na exploração das potencialidades da língua portuguesa.
e) a busca da concisão e da previsibilidade da linguagem.

19 Comparando-se as concepções relativas à natureza presentes no excerto de Guimarães Rosa com as que se manifestam nos poemas de Alberto Caeiro, verifica-se que, em Rosa, ......., ao passo que, em Caeiro, ....... .

Mantida a sequência, os espaços pontilhados podem ser preenchidos corretamente pelo que está em:

a) a observação da natureza provoca um desejo de nomeação e até de invenção linguística / o ideal seria o de que os elementos da natureza valessem por si mesmos, sem nome nenhum.
b) a natureza é pura exterioridade, desprovida de alma / ela é um ente animado, dotado de interioridade e personalidade.
c) a natureza vale por seus aspectos estéticos e simbólicos / ela tem valor prático e utilitário, ou seja, é valorizada na medida em que, transformada pela técnica, serve para suprir as necessidades humanas.
d) a relação com a natureza é pessoal e até íntima / a natureza apresenta caráter hostil e, mesmo, ameaçador.
e) a natureza é misteriosa e indecifrável / ela é portadora de uma mensagem mística que o homem deve decifrar servindo-se dos instrumentos da Razão.

20 Devo registrar aqui uma alegria. É que a moça num aflitivo domingo sem farofa teve uma inesperada felicidade que era inexplicável: no cais do porto viu um arco-íris. Experimentando o leve êxtase, ambicionou logo outro: queria ver, como uma vez em Maceió, espocarem mudos fogos de artifício. Ela quis mais porque é mesmo uma verdade que quando se dá a mão, essa gentinha quer todo o resto, o zé-povinho sonha com fome de tudo. E quer mas sem direito algum, pois não é?

(Clarice Lispector, A hora da estrela)

Considerando-se no contexto da obra o trecho sublinhado, é correto afirmar que, nele, o narrador

a) assume momentaneamente as convicções elitistas que, no entanto, procura ocultar no restante da narrativa.
b) reproduz, em estilo indireto livre, os pensamentos da própria Macabéa diante dos fogos de artifício.
c) hesita quanto ao modo correto de interpretar a reação de Macabéa frente ao espetáculo.
d) adota uma atitude panfletária, criticando diretamente as injustiças sociais e cobrando sua superação.
e) retoma uma frase feita, que expressa preconceito antipopular, desenvolvendo-a na direção da ironia.

GABARITO

1 – C     2 – E    3 – C   4 –D    5 – C   6 – B    7 – B    8 – D    9 – C   10 –A 
11 –A  12 – D  13 –A  14 –D  15 –E  16 – B  17 – B  18 –E   19 – A   20 – E

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