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sábado, 31 de agosto de 2013

FUVEST 2003 – 1º Fase – PROVA DE LÍNGUA PORTUGUESA

FUVEST 2003 – 1º FASE – PROVA DE LÍNGUA PORTUGUESA


Texto para as questões de 1 a 4

Zoo

 Uma cascavel, nas encolhas*. Sua massa infame.
 Crime: prenderam, na gaiola da cascavel, um ratinho branco. O pobrinho se comprime num dos cantos do alto da parede de tela, no lugar mais longe que pôde. Olha para fora, transido, arrepiado, não ousando choramingar. Periodicamente, treme. A cobra ainda dorme.
*
 Meu Deus, que pelo menos a morte do ratinho branco seja instantânea!
*
 Tenho de subornar um guarda, para que liberte o ratinho branco da jaula da cascavel. Talvez ainda não seja tarde.
*
 Mas, ainda que eu salve o ratinho branco, outro terá de morrer em seu lugar. E, deste outro, terei sido eu o culpado.
______________
(*) nas encolhas = retraída, imóvel

(Fragmentos extraídos de Ave, palavra, de Guimarães Rosa)

01 - A situação do ratinho branco, preso na gaiola da cascavel, provocou no narrador

a) imediato sentimento de culpa, que o levou a declarar-se responsável pela situação.
b) desejo imediato de intervenção, a fim de antecipar o previsível desfecho.
c) reação espontânea e indignada, da qual veio a se arrepender mais tarde.
d) compaixão e desejo de intervir, seguidos de uma reflexão moral.
e) curiosidade e repulsa, a que se seguiu a indiferença diante do inevitável.

02 Por meio de frases como “A cobra ainda dorme”, “Talvez ainda não seja tarde” e “ainda que eu salve o ratinho branco”, o narrador

a) prolonga a tensão, alimentando expectativas.
b) exprime a inevitabilidade dos fatos, ao empregar os verbos no presente.
c) entrega-se a fantasias, desligando-se das circunstâncias presentes.
d) formula hipóteses vagas, argumentando de modo abstrato.
e) precipita a ação do tempo, apressando a narração dos fatos.

03 O último parágrafo permite inferir que a convicção final do narrador é a de que

a) a culpa maior está na omissão permanente.
b) os atos bem-intencionados são inocentes.
c) nenhuma escolha é isenta de responsabilidade.
d) não há como discordar da lei do mais forte.
e) não há culpa em quem aperfeiçoa as leis da natureza.

04 Neste texto, o parágrafo em que ocorrem elementos descritivos expressos por meio de frases nominais é o

a) primeiro.   b) segundo.   c) terceiro.   d) quarto.   e) quinto.

Texto para as questões de 5 a 8

Eu te amo

Ah, se já perdemos a noção da hora,
Se juntos já jogamos tudo fora,
Me conta agora como hei de partir...
Se, ao te conhecer, dei pra sonhar, fiz tantos desvarios,
Rompi com o mundo, queimei meus navios,
Me diz pra onde é que inda posso ir...
 (...)
Se entornaste a nossa sorte pelo chão,
Se na bagunça do teu coração
Meu sangue errou de veia e se perdeu...
 (...)
Como, se nos amamos como dois pagãos,
Teus seios inda estão nas minhas mãos,
Me explica com que cara eu vou sair...
Não, acho que estás só fazendo de conta,
Te dei meus olhos pra tomares conta,
Agora conta como hei de partir...

(Tom Jobim – Chico Buarque)

05 O sentimento de perplexidade expresso nas frases “como hei de partir”, “pra onde é que inda posso ir”, “com que cara eu vou sair”, deve-se ao fato de que a relação amorosa do sujeito

a) foi marcada por sucessivos desencontros, em virtude da intensidade da paixão.
b) constituiu uma radical experiência de fusão com o outro, da qual não vê como sair.
c) provocou a subordinação emocional da pessoa amada, de quem ele já não pode se livrar.
d) ameaça jamais desfazer-se, agravando-se assim uma interdependência destrutiva.
e) está-se esgotando, sem que os amantes saibam o que fazer para reacender a paixão.

06 O prefixo assinalado em “desvario” expressa

a) negação.   b) cessação.   c) ação contrária.   d) separação.   e) intensificação.

07 Examinando-se aspectos construtivos deste texto, verifica-se que

a) todas as ocorrências da conjunção se expressam uma condição, com o sentido de no caso de.
b) o emprego de como, no início da quarta estrofe, é uma retomada de “como hei de partir”, da primeira estrofe.
c) A repetição de conta, na última estrofe, reitera a mesma ideia do custo que a separação representa para o sujeito.
d) o emprego da vírgula depois de Não, na última estrofe, é facultativo, uma vez que a partícula negativa tem aqui o valor de uma simples ênfase.
e) o efeito dramático nele obtido nasce da reiterada oposição entre ações transcorridas no passado.

08 Neste texto, em que predomina a linguagem culta, ocorre também a seguinte marca da linguagem coloquial:

a) emprego de hei no lugar de tenho.
b) falta de concordância quanto à pessoa nas formas verbais estás, tomares e conta.
c) emprego de verbos predominantemente na segunda pessoa do singular.
d) redundância semântica, pelo emprego repetido da palavra conta na última estrofe.
e) emprego das palavras bagunça e cara.

Texto para as questões 9 e 10

História estranha

Um homem vem caminhando por um parque quando de repente se vê com sete anos de idade. Está com quarenta, quarenta e poucos. De repente dá com ele mesmo chutando uma bola perto de um banco onde está a sua babá fazendo tricô. Não tem a menor dúvida de que é ele mesmo. Reconhece a sua própria cara, reconhece o banco e a babá. Tem uma vaga lembrança daquela cena. Um dia ele estava jogando bola no parque quando de repente aproximou-se um homem e... O homem aproxima-se dele mesmo. Ajoelha-se, põe as mãos nos seus ombros e olha nos seus olhos. Seus olhos se enchem de lágrimas. Sente uma coisa no peito. Que coisa é a vida. Que coisa pior ainda é o tempo. Como eu era inocente. Como os meus olhos eram limpos. O homem tenta dizer alguma coisa, mas não encontra o que dizer. Apenas abraça a si mesmo, longamente. Depois sai caminhando, chorando, sem olhar para trás.
O garoto fica olhando para a sua figura que se afasta. Também se reconheceu. E fica pensando, aborrecido: quando eu tiver quarenta, quarenta e poucos anos, como eu vou ser sentimental!

(Luis Fernando Verissimo, Comédias para se ler na escola)

09 A estranheza dessa história deve-se, basicamente, ao fato de que nela

a) há superposição de espaços sem que haja superposição de tempos.
b) a memória afetiva faz um quarentão se lembrar de uma cena da infância.
c) a narrativa é conduzida por vários narradores.
d) o tempo é representado como irreversível.
e) tempos distintos convergem e tornam-se simultâneos.

10 O discurso indireto livre é empregado na seguinte passagem:

a) Que coisa é a vida. Que coisa pior ainda é o tempo.
b) Reconhece a sua própria cara, reconhece o banco e a babá. Tem uma vaga lembrança daquela cena.
c) Um homem vem caminhando por um parque quando de repente se vê com sete anos de idade.
d) O homem tenta dizer alguma coisa, mas não encontra o que dizer. Apenas abraça a si mesmo, longamente.
e) O garoto fica olhando para a sua figura que se afasta.
11 Dos verbos assinalados, só está corretamente empregado o que aparece na frase:

a) A atual administração quer crescer a arrecadação do IPTU em 40%.
b) A economia latino-americana se modernizou sem que a estrutura de renda da região acompanhou as transformações.
c) Se fazer previsões sobre a situação econômica já era difícil antes das eleições, agora ficou ainda mais complicado.
d) A indústria ficará satisfeita só quando vender metade do estoque e transpor o obstáculo dos juros.
e) Por mais que os leitores se apropriam de um livro, no final, livro e leitor tornam-se uma só coisa.

Texto para as questões de 12 a 15

Os leitores estarão lembrados do que o compadre dissera quando estava a fazer castelos no ar a respeito do afilhado, e pensando em dar-lhe o mesmo ofício que exercia, isto é, daquele arranjei-me, cuja explicação prometemos dar. Vamos agora cumprir a promessa.
Se alguém perguntasse ao compadre por seus pais, por seus parentes, por seu nascimento, nada saberia responder, porque nada sabia a respeito. Tudo de que se recordava de sua história reduzia-se a bem pouco. Quando chegara à idade de dar acordo da vida achou-se em casa de um barbeiro que dele cuidava, porém que nunca lhe disse se era ou não seu pai ou seu parente, nem tampouco o motivo por que tratava da sua pessoa. Também nunca isso lhe dera cuidado, nem lhe veio a curiosidade de indagá-lo.
Esse homem ensinara-lhe o ofício, e por inaudito milagre também a ler e a escrever. Enquanto foi aprendiz passou em casa do seu... mestre, em falta de outro nome, uma vida que por um lado se parecia com a do fâmulo*, por outro com a do filho, por outro com a do agregado, e que afinal não era senão vida de enjeitado, que o leitor sem dúvida já adivinhou que ele o era. A troco disso dava-lhe o mestre sustento e morada, e pagava-se do que por ele tinha já feito.
_____________________
(*) fâmulo: empregado, criado
(Manuel Antônio de Almeida, Memórias de um sargento de milícias)

12 Neste excerto, mostra-se que o compadre provinha de uma situação de família irregular e ambígua. No contexto do livro, as situações desse tipo

a) caracterizam os costumes dos brasileiros, por oposição aos dos imigrantes portugueses.
b) são apresentadas como conseqüência da intensa mestiçagem racial, própria da colonização.
c) contrastam com os rígidos padrões morais dominantes no Rio de Janeiro oitocentista.
d) ocorrem com freqüência no grupo social mais amplamente representado.
e) começam a ser corrigidas pela doutrina e pelos exemplos do clero católico.

13 A condição social de agregado, referida no excerto, caracteriza também a situação de

a) Juliana, na casa de Jorge e Luísa (O primo Basílio).
b) D. Plácida, na casa de Quincas Borba (Memórias póstumas de Brás Cubas).
c) Leonardo (filho), na casa de Tomás da Sé (Memórias de um sargento de milícias).
d) Joana, na casa de Jorge e Luísa (O primo Basílio).
e) José Manuel, na casa de D. Maria (Memórias de um sargento de milícias).

14 Um traço de estilo, presente no excerto, também se encontrará nas Memórias póstumas de Brás Cubas, onde assumirá aspectos de provocação e acinte. Trata-se

a) das referências diretas ao leitor e ao andamento da própria narração.
b) do uso predominante da descrição, que confere maior realismo ao relato.
c) do emprego de adjetivação abundante e variada, que dá feição opinativa à narração.
d) da paródia dos clichês românticos anteriormente utilizados por José de Alencar e Álvares de Azevedo.
e) da narração em primeira pessoa, realizada por um narrador-personagem, que participa dos eventos narrados.

15 No excerto, temos derivação imprópria ou conversão (emprego de uma palavra fora de sua classe normal) no seguinte trecho:

a) fazer castelos no ar.
b) daquele arranjei-me.
c) dar acordo da vida.
d) nem tampouco o motivo.
e) por inaudito milagre.

16 Tanto Luísa (O primo Basílio) quanto Virgília (Memórias póstumas de Brás Cubas) praticaram o adultério

a) por influência direta do excesso de leituras romanescas.
b) com parentes próximos, o que tornava mais grave a situação moral de ambas.
c) com o fim de ascender socialmente, unindo-se a parceiros de classe social mais elevada.
d) por sua própria iniciativa, seduzindo abertamente seus respectivos parceiros.
e) com antigos namorados, que reencontraram depois de casadas.

17 Considere as seguintes afirmações sobre Libertinagem, de Manuel Bandeira:

I. O livro oscila entre um fortíssimo anseio de liberdade vital e estética e a interiorização cada vez mais profunda dos vultos familiares e das imagens brasileiras.
II. Por ser uma obra do início da carreira do autor, nela ainda são raras e quase imperceptíveis as contribuições técnicas e estéticas do Modernismo.
III. Em vários de seus poemas, a exploração de assuntos particulares e pessoais, aparentemente limitados, resulta em concepções muito amplas, de interesse geral, que
ultrapassam a esfera pessoal do poeta.

Está correto apenas o que se afirma em

a) I     b) II     c) I e II     d) I e III     e) II e III

18 A presença da temática indígena em Macunaíma, de Mário de Andrade, tanto participa -------------, quanto representa uma retomada, com novos sentidos, ------------.

Mantida a sequência, os trechos pontilhados serão preenchidos corretamente por

a) do movimento modernista da Antropofagia / do Regionalismo da década de 30.
b) do interesse modernista pela arte primitiva / do Indianismo romântico.
c) do movimento modernista da Antropofagia / do Condoreirismo romântico.
d) da vanguarda estética do Naturalismo / do Indianismo romântico.
e) do interesse modernista pela arte primitiva / do Regionalismo da década de 30.

19 “A ação desta história terá como resultado minha transfiguração em outrem (...)”.

Neste excerto de A hora da estrela, o narrador expressa uma de suas tendências mais marcantes, que ele irá reiterar ao longo de todo o livro. Entre os trechos abaixo, o único que NÃO expressa tendência correspondente é

a) “Vejo a nordestina se olhando ao espelho e (...) no espelho aparece o meu rosto cansado e barbudo. Tanto nós nos intertrocamos”.
b) “É paixão minha ser o outro. No caso a outra”.
c) “Enquanto isso, Macabéa no chão parecia se tornar cada vez mais uma Macabéa, como se chegasse a si mesma”.
d) “Queiram os deuses que eu nunca descreva o lázaro porque senão eu me cobriria de lepra”.
e) “Eu te conheço até o osso por intermédio de uma encantação que vem de mim para ti”.

20 Entre as mensagens abaixo, a única que está de acordo com a norma escrita culta é:

a) Confira as receitas incríveis preparadas para você. Clica aqui!
b) Mostra que você tem bom coração. Contribua para a campanha do agasalho!
c) Cura-te a ti mesmo e seja feliz!
d) Não subestime o consumidor. Venda produtos de boa procedência.
e) Em caso de acidente, não siga viagem. Pede o apoio de um policial.


GABARITO

1 –D       2 – A    3 – C    4 – A     5 – B    6 – E    7 – B    8 – E    9 – E   10 – A
11 – C  12 – D  13 – C  14 – A  15 – B  16 – E  17 – D   18 – B  19 – C  20 – D 

Leia também:

FUVEST 2016 – 1º Fase – PROVA DE LÍNGUA PORTUGUESA
FUVEST 2015 – 1º Fase – PROVA DE LÍNGUA PORTUGUESA


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