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segunda-feira, 30 de abril de 2012

FATEC 2004 - 1º Semestre - Prova de Língua Portuguesa

FATEC - Prova de Língua Portuguesa - 1º Semestre - 2004


ps. Foi mantida a numeração original da prova.

Leia o texto abaixo, para responder às questões de números 43 a 48.

[...] Ao sair do Tejo, estando a Maria encostada à borda do navio, o Leonardo fingiu que passava distraído por junto dela, e com o ferrado sapatão assentou-lhe uma valente pisadela no pé direito. A Maria, como se já esperasse por aquilo, sorriu-se como envergonhada do gracejo, e deu-lhe também em ar de disfarce um tremendo beliscão nas costas da mão esquerda.
Era isto uma declaração em forma, segundo os usos da terra: levaram o resto do dia de namoro cerrado; ao anoitecer passou-se a mesma cena de pisadela e beliscão, com a diferença de serem desta vez um pouco mais fortes; e no dia seguinte estavam os dois amantes tão extremosos e familiares, que pareciam sê-lo de muitos anos.
Quando saltaram em terra começou a Maria a sentir certos enojos: foram os dois morar juntos; e daí a um mês manifestaram-se claramente os efeitos da pisadela e do beliscão, sete meses depois teve a Maria um filho, formidável menino de quase três palmos de comprido, gordo e vermelho, cabeludo, esperneador e chorão; o qual, logo depois que nasceu, mamou duas horas seguidas sem largar o peito. E este nascimento é certamente de tudo o que temos dito o que mais nos interessa, porque o menino de quem falamos é o herói desta história.
Chegou o dia de batizar-se o rapaz: foi madrinha a parteira; sobre o padrinho houve suas dúvidas: o Leonardo queria que fosse o Sr. Juiz; porém teve de ceder a instâncias da Maria e da comadre, que queriam que fosse o barbeiro de defronte, que afinal foi adotado. Já se sabe que houve nesse dia função: os convidados do dono da casa, que eram todos dalém-mar, cantavam ao desafio, segundo seus costumes; os convidados da comadre, que eram todos da terra, dançavam o fado. O compadre trouxe a rabeca, que é, como se sabe, o instrumento favorito da gente do ofício. A princípio, o Leonardo quis que a festa tivesse ares aristocráticos, e propôs que se dançasse o minuete da corte. Foi aceita a idéia, ainda que houvesse dificuldade em encontrarem-se pares. Afinal levantaram-se uma gorda e baixa matrona, mulher de um convidado; uma companheira desta, cuja figura era a mais completa antítese da sua; um colega do Leonardo, miudinho, pequenino, e com fumaças de gaiato, e o sacristão da Sé, sujeito alto, magro e com pretensões de elegante. O compadre foi quem tocou o minuete na rabeca; e o afilhadinho, deitado no colo da Maria, acompanhava cada arcada com um guincho e um esperneio.
Isto fez com que o compadre perdesse muitas vezes o compasso, e fosse obrigado a recomeçar outras tantas.

(Manuel Antônio de Almeida, Memórias de um sargento de milícias)

Questão 43 - Leonardo fingiu que passava distraído por junto dela.

Assinale a alternativa que apresenta estrutura de orações análoga à do período acima.

a) O Leonardo queria que fosse o Sr. juiz.
b) O compadre trouxe a rebeca, que é o instrumento favorito da gente de ofício.
c) Estavam os dois amantes tão extremosos e familiares, que pareciam sê-lo de muitos anos.
d) Já se sabe que houve nesse dia função.
e) Os convidados do dono da casa, que eram todos dalém-mar, cantavam ao desafio.

Questão 44 - Chegou o dia de batizar-se  o rapaz: foi madrinha a parteira; sobre o padrinho (I) houve suas dúvidas. [...]. Foi aceita a idéia, ainda que (II) houvesse dificuldade em encontrarem-se os pares.

Assinale a alternativa em que a substituição dos verbos em destaque resulta em concordância de acordo com a norma culta.

a) (I) surgiram; (II) surgissem.
b) (I) iam haver; (II) pudesse haver.
c) (I) podia existir; (II) pudesse existir.
d) (I) surgiu; (II) surgisse.
e) (I) existiram; (II) existisse.

Questão 45 - Foi aceita a idéia, ainda que houvesse dificuldade em encontrarem-se pares.

Essa passagem está reescrita, com sentido equivalente ao original, na alternativa:

a) Aceitaram a idéia, à medida que houve dificuldade em encontrarem pares.
b) Aceitou-se a idéia, contanto que houvesse dificuldade em encontrar pares.
c) Aceitou-se a idéia, apesar de haver dificuldade em serem encontrados pares.
d) Aceitou a idéia, portanto houve dificuldade em pares serem encontrados.
e) Aceitou-se a idéia, pois havia dificuldade em pares serem encontrados.

Questão 46 - Afinal levantaram-se  uma gorda e baixa matrona, mulher de um convidado; uma companheira desta, cuja figura era a mais completa antítese da sua [...].

Considerando a informação em destaque nessa passagem, é correto dizer que a companheira era uma mulher

a) magra, de estatura mediana e simpática.
b) esguia, encorpada e jovem.
c) rechonchuda, de meia estatura e de meia idade.
d) magra, alta e solteira.
e) delgada, esguia e casada.

Questão 47 - Assinale a alternativa em que se associam as palavras do trecho e os respectivos campos de significação, postos entre parênteses.

a) Compasso, pares, gaiato (dança).
b) Filho, madrinha e compadre (laços consanguíneos).
c) Amantes, enojo, menino (família).
d) Fado, rabeca, minuete (instrumentos musicais).
e) Batizar, sacristão, Sé (religião).

Questão 48 - Considere as seguintes afirmações.

I. Memórias de um sargento de milícias caracteriza-se como romance urbano, terreno
para o surgimento do romance de matriz política e social.
II. Juntamente com obras como O cortiço,  Triste fim de Policarpo Quaresma e Vidas Secas, o romance de Manuel Antônio de Almeida privilegiou as camadas mais populares da sociedade, retratando a vida de pessoas comuns.
III. Memórias de um sargento de milícias pode ser  considerado um romance precursor do realismo, por dar tratamento mais direto e crítico à realidade.
IV. Pela linguagem sempre elaborada, marcada por construções em que predominam figuras (tais como a antítese e a hipérbole), determina-se a filiação desse romance ao estilo barroco.

Dentre essas afirmações, estão corretas apenas

a) I e III.  b) I e II.  c) II, III e IV. d) I, III e IV. e) I, II e III.

GABARITO

43 – A     44 – E     45 – C     46 – D     47 – E     48 – E 

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"A writer trimming his pen". Jan Ekels II. 1784.
"Procura da poesia" - Carlos Drummond de Andrade
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"The Swing" - Nicolas Lancret
"O tempo e as jabuticabas" - Rubem Alves
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“Confession”. Jack Vettriano.
“O amor e outros males” – Rubem Braga
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“O Sono” – Salvador Dali
“Silêncio” – Henry Fuseli
Ana Cristina César – Poemas

“Belgian writer Emile Verhaeren” – Théo Van Rysselberghe..
“"Vinte e uma coisas que aprendi como escritor" - Moacyr Scliar

“Amanhecer”.Ranchinho
João Cabral de Melo Neto – poemas

“Keeping out of the cold” – James Hayllar
“A casa viaja no tempo” – Rubem Braga

“O beijo” – Picasso
Affonso Romano de Sant´Anna – Poemas

“Odalisca” – Henry Matisse
Affonso Romano de Sant´Anna – Poemas

“Arrufos” – Belmiro de Almeida
Affonso Romano de Sant´Anna – Poemas

"Pigmalião e Galateia". Jean-Baptiste Regnault. 1786. 
“A ressurreição de Cristo” – Rembrandt
Augusto Frederico Schimdt – Poemas

“O beijo” – Gustav Klimt
Olavo Bilac – Poemas

“Conversation” – Renoir
Carlos Nejar

“Ocean Breeze” – Hanks Steve
Lêdo Ivo

“A Maja vestida” – Francisco Goya
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"A carta". Óleo sobre tela. Czachorski Ladilas.
Caio Fernando Abreu – Fragmentos

"Les Demoiselles d´Avignon" - 1907. Pablo Picasso.
Murilo Mendes

“Vovó contando histórias” – Ilustração de Gustavo Doré
António Nobre – Poemas

"Falls of love", Óleo sobre tela. Fattah Hallah Abdel
Ivan Junqueira – Poemas

“Duality”, Arthur Brahinskiy. Óleo sobre tela.
"Você tem que me ler" - Fabrício Carpinejar
http://www.veredasdalingua.blogspot.com.br/2012/05/texto-voce-tem-que-me-ler-fabricio.html

“O viajante sobre o mar de névoas” , 1818, Caspar D. Friedrich.
David Mourão Ferreira – Poemas
http://www.veredasdalingua.blogspot.com.br/2012/04/david-mourao-ferreira-poemas.html

“Noite estrelada” , Van Gogh.
“A aldeia que nunca mais foi a mesma” – Rubem Alves
http://www.veredasdalingua.blogspot.com.br/2012/04/texto-aldeia-que-nunca-mais-foi-mesma.html

“Bailarinas azuis”, 1899, Edgar Degas.
Carlos Pena Filho – O Poeta do Azul
http://www.veredasdalingua.blogspot.com.br/2012/04/carlos-pena-filho-o-poeta-do-azul.html

"Os penhascos de Varengeville - rajada de vento" - Monet.
Mario Quintana – Poemas
http://www.veredasdalingua.blogspot.com.br/2012/04/mario-quintana-poemas.html

“Duas mulheres e duas crianças”, Portinari.
Gomes Leal – Poeta de três faces
http://www.veredasdalingua.blogspot.com.br/2012/03/gomes-leal-poeta-de-tres-faces.html

"Angelica”, Pino Daeni.
Maciel Monteiro – Poemas
http://veredasdalingua.blogspot.com.br/2012/03/maciel-monteiro-poemas.html

“Estudo de paisagem marinha com barco e céu de tempestade”, John Constable.
“The Absinthe Drinker” – Manet.
“Little boy writing a letter” – Norman Rockwell
Paulo Bomfim – Poemas
http://veredasdalingua.blogspot.com.br/2012/02/paulo-bonfim-poemas.html

"Narciso", Caravaggio, oléo sobre tela.
Manuel António Pina – Poemas
http://veredasdalingua.blogspot.com.br/2012/01/manuel-antonio-pina-poemas.html

"Ismália", ilustração de Odilon Moraes
Alphonsus de Guimarães – O Solitário de Mariana
http://veredasdalingua.blogspot.com.br/2011/12/alphonsus-de-guimaraens-o-solitario-de.html

“Ensaio de balé” – Edgar Degas
António Gedeão – Poemas
http://veredasdalingua.blogspot.com.br/2011/12/antonio-gedeao-poemas.html

“Les Amores de Normandie” Claude Theberge
“Two Men” – Caspar D. Friedrich
Miguel Torga

“Sísifo” – Tiziano
“Time reveals the Truth” – Theodor Van Thulden
“At the Balcony” – Pino Daeni
Miguel Torga

"Fiery dance" - Andrew Atrochenko
Sophia de Mello Breyner Andresen

"Na cama – Um beijo", Toulouse-Lautrec
Florbela Espanca – Sonetos
http://veredasdalingua.blogspot.com.br/2011/11/florbela-espanca-sonetos.html

"The Cheval Glass", de Berthe M. Pauline Morisot
Machado de Assis – Poemas
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"Belle à la plage". Michael Garmash
Eugénio de Andrade – Poemas
http://veredasdalingua.blogspot.com.br/2011/08/eugenio-de-andrade-poemas.html

“Navio negreiro”, Rugendas.
Castro Alves – O Poeta dos Escravos
http://veredasdalingua.blogspot.com.br/2011/07/castro-alves-o-poeta-dos-escravos.html

"Alice no País das Maravilhas", Arthur Rackham
“Para Maria da Graça” – Paulo Mendes Campos
http://veredasdalingua.blogspot.com.br/2011/07/texto-para-maria-da-graca-paulo-mendes.html

“Fanciful dreams” – Pino Daeni
“Rare beauty” – Michael Garmash
“Welcome footsteps” – Lawrence Alma Tadema
J.G. de Araújo Jorge – Poemas
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"Blue Note". Anna Razumovskaya
Cecília Meireles - Poemas
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terça-feira, 24 de abril de 2012

David Mourão-Ferreira - Poemas

David Mourão-Ferreira - Poemas

"O viajante sobre o mar de névoas", 1818, Caspar D. Friedrich
E por vezes

E por vezes as noites duram meses
E por vezes os meses oceanos
E por vezes os braços que apertamos
nunca mais são os mesmos E por vezes

encontramos de nós em poucos meses
o que a noite nos fez em muitos anos
E por vezes fingimos que lembramos
E por vezes lembramos que por vezes

ao tomarmos o gosto aos oceanos
só o sarro das noites não dos meses
lá no fundo dos copos encontramos

E por vezes sorrimos ou choramos
E por vezes por vezes ah por vezes
num segundo se evolam tantos anos

(David Mourão-Ferreira)


Tentei fugir da mancha mais escura

Tentei fugir da mancha mais escura
que existe no teu corpo, e desisti.
Era pior que a morte o que antevi:
era a dor de ficar sem sepultura.

Bebi entre os teus flancos a loucura
de não poder viver longe de ti:
és a sombra da casa onde nasci,
és a noite que à noite me procura.

Só por dentro de ti há corredores
e em quartos interiores o cheiro a fruta
que veste de frescura a escuridão...

Só por dentro de ti rebentam flores.
Só por dentro de ti a noite escuta
o que me sai, sem voz, do coração.

(David Mourão-Ferreira)

Ilha

Deitada és uma ilha E raramente
Surgem ilhas no mar tão alongadas
Com tão prometedoras enseadas
Um só bosque no meio florescente

Promontórios a pique e de repente
Na luz de duas gêmeas madrugadas,
O fulgor das colinas acordadas,
O pasmo da planície adolescente.

Deitada és uma ilha que percorro,
Descobrindo-lhe as zonas mais sombrias
Mas nem sabes se grito por socorro

Ou se te mostro só que me inebrias.
Amiga amor amante amada eu morro
Da vida que me dás todos os dias

(David Mourão-Ferreira)

Crepúsculo

É quando um espelho, no quarto,
se enfastia;
Quando a noite se destaca
da cortina;
Quando a carne tem o travo
da saliva,
e a saliva sabe a carne
dissolvida;
Quando a força de vontade
ressuscita;
Quando o pé sobre o sapato
se equilibra...
E quando às sete da tarde
morre o dia
- que dentro de nossas almas
se ilumina,
com luz lívida, a palavra
despedida.

(David Mourão-Ferreira)

Paraíso

Deixa ficar comigo a madrugada,
para que a luz do Sol me não constranja.
Numa taça de sombra estilhaçada,
deita sumo de lua e de laranja.

Arranja uma pianola, um disco, um posto,
onde eu ouça o estertor de uma gaivota...
Crepite, em derredor, o mar de Agosto...
E o outro cheiro, o teu, à minha volta!

Depois, podes partir. Só te aconselho
que acendas, para tudo ser perfeito,
à cabeceira a luz do teu joelho,
entre os lençóis o lume do teu peito...

Podes partir. De nada mais preciso
para a minha ilusão do Paraíso.

(David Mourão-Ferreira, in "Infinito Pessoal")

Ternura

Desvio dos teus ombros o lençol
que é feito de ternura amarrotada,
da frescura que vem depois do Sol,
quando depois do Sol não vem mais nada...

Olho a roupa no chão: que tempestade!
há restos de ternura pelo meio,
como vultos perdidos na cidade
em que uma tempestade sobreveio...

Começas a vestir-te, lentamente,
e é ternura também que vou vestindo,
para enfrentar lá fora aquela gente
que da nossa ternura anda sorrindo...

Mas ninguém sonha a pressa com que nós
a despimos assim que estamos sós!

(David Mourão-Ferreira)



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